Cristiane Deuner
cdeuner@yahoo.com.br
Daniele Brandstetter Rodrigues
ufpelbrandstetter@hotmail.com
Engenheiras agrônomas e doutoras em Ciência e Tecnologia de Sementes
Acompanhar as características físicas, fisiológicas, genéticas e sanitárias da semente durante todas as etapas da produção é fundamental. Com isso, podemos ter maior assertividade na obtenção de sementes de alta performance, busca constante em um cenário cada vez mais competitivo e, portanto, exigente.
Para que se tenha confiabilidade quanto a estes atributos, faz-se necessário a realização de uma prática, chamada amostragem. Essa possibilita a obtenção de uma porção de sementes para identificar os componentes do lote, realizar os diferentes testes constantes nos laudos e Boletins de Análise de Sementes (BAS), necessários para a sua comercialização, bem como as etiquetas das embalagens.
Segundo a legislação, amostragem é o ato ou processo de obtenção de porção de sementes ou de mudas, para constituir amostra representativa de campo ou de lote definido (Lei Nº 10.711 – Art. 2º – Item III). Tem por finalidade obter uma quantidade representativa do lote ou de parte deste, quando se apresentar subdividido, para verificar, por meio de análise, se ele está de acordo com as normas e os padrões de identidade e qualidade estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) (Decreto Nº 10.586, de 18 de dezembro de 2020).
Metodologia
Para que a amostragem seja representativa e homogênea, esta deverá ser realizada de acordo com métodos, equipamentos e procedimentos estabelecidos em lei, de forma a permitir identificar satisfatória e fielmente as características do lote, principalmente porque a quantidade da amostra é muito pequena (1,0 kg de sementes), comparada ao tamanho de um lote (30.000 kg).
No caso da soja, por exemplo, 400 sementes são utilizadas no teste de germinação, representando 240.000.000 sementes componentes do lote. Assim, uma falha neste processo desqualifica todos os demais procedimentos da análise das sementes.
Objetivos
A amostragem da classe certificada poderá ser realizada para fins de identificação ou de revalidação do teste de germinação, do teste de viabilidade de sementes e do exame de sementes infestadas ou, ainda, para fins de fiscalização da produção e do comércio.
Em cada caso, é executada conforme o disposto no Decreto Nº 10.586, de 18 de dezembro de 2020 e em norma complementar, por profissionais qualificados e com registro no Renasem (Registro Nacional de Sementes).
A amostragem é realizada primeiramente na recepção, ou seja, na chegada do caminhão à balança, antes da descarga na moega, por meio de caladores manuais ou automatizados. Atenção especial deve ser dada a sementes que deslizam com dificuldade, devendo, neste caso, ser utilizada metodologia distinta. É realizada, também, durante o beneficiamento ou no ensaque das sementes.
O procedimento consiste na retirada de várias amostras simples, cuja quantidade varia em função do tamanho do lote, que juntas compõem a amostra composta. Essa, por sua vez, é reduzida a uma amostra média, com peso especificado nas Regras para Análise de Sementes (RAS), de acordo com a espécie em questão, e enviada ao Laboratório de Análise de Sementes (LAS).
No LAS a amostra média é homogeneizada e dividida em amostras de trabalho para avaliação de outras sementes, pureza e uma amostra de arquivo que servirá para eventuais reanálises. Da amostra de pureza são separadas as sementes puras para a realização dos testes de germinação, vigor, tetrazólio, peso de 1.000 sementes e sanidade. Há, ainda, a amostra oficial, retirada por fiscal para fins de fiscalização.
Rastreabilidade
Visando maior controle e rastreabilidade na produção, as empresas produtoras de sementes adotam também o controle de qualidade interno, realizando a amostragem na pré-colheita, para acompanhar o processo de maturação e identificar a qualidade fisiológica das sementes a serem colhidas, podendo assim definir o destino destas, se para sementes ou grãos.
De forma semelhante, o acompanhamento durante as etapas de secagem, beneficiamento, tratamento e armazenamento é fundamental, a fim de inspecionar e garantir a qualidade das sementes dentro dos padrões estabelecidos pela empresa em todos os processos.
De acordo com a legislação, o amostrador deve ser devidamente habilitado pelo MAPA, o que lhe dá respaldo e conhecimento acerca dos padrões e métodos a serem seguidos. Entretanto, quando diz respeito ao controle interno, em muitos casos quem realiza o procedimento são pessoas sem a devida instrução e registro.
Com isso, ocorrem erros que, por vezes, podem trazer uma informação totalmente distante da realidade do lote. Dentre os erros, pode-se citar a falta de aleatoriedade e quantidade adequada de amostras simples retiradas do caminhão, ausência de equipamentos e calibradores adequados, erros na divisão e redução para a obtenção das amostras de trabalho, coletas parciais e/ou tendenciosas de porções de sementes bag a bag ou em sacarias, ou ainda, no caso de amostragens realizadas no campo, em pré-colheita, a seleção de plantas da bordadura dos talhões.
Todos os fatores citados enfraquecem o sucesso da amostragem, acarretando em uma amostra mal feita, não representativa dos componentes do lote. Vale citar, ainda, que esses erros não ocorrem somente no caso de amostragem para controle interno.