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A muda é o carro-chefe do sucesso de um parreiral de alto potencial produtivo e de qualidade
Comparativamente a outras culturas, na fruticultura é comum subestimar os cuidados com o material propagativo, segundo Daniel Santos Grohs, engenheiro agrônomo e mestre em Fitotecnia, analista da Embrapa Uva e Vinho. “Na viticultura é preciso um cuidado muito grande porque, diferentemente da produção de grãos, o plantio não é anual. Espera-se que uma vez introduzida no parreiral, a muda evolua e o parreiral seja produtivo por no mÃnimo 15 anos“, esclarece.
Foco
A Embrapa Uva e Vinho, atualmente, está fomentando o aumento de produtividade dos parreirais a partir da melhoria da qualidade das mudas comerciais. “É cada vez mais claro que a introdução de muitos patógenos e doenças na área do parreiral se dá pelas mudas. Infelizmente, diferente de outras culturas, não temos normas e padrões oficiais que determinem que patógenos e doenças não poderão ocorrer na muda“, lamenta Daniel Grohs.
Existe, no mercado, uma grande disponibilidade de mudas com diferentes características de qualidade. “O que a Embrapa Uva e Vinho vem fazendo nos últimos anos é estabelecer um conjunto de práticas que levem à produção da muda ideal. Dentre essas ações, temos qualificado grupos de viveiristas, os quais podemos garantir minimamente quanto à qualidade dos materiais produzidos“, define o analista.
Assim, o produtor deverá procurar a Embrapa para se informar sobre esses viveiristas, que estão em pontos estratégicos, como no Sul do Brasil e na região vitivinÃcola do Vale do São Francisco no eixo Bahia-Pernanbuco.
Prejuízos
Os prejuízos decorrentes de mudas de má qualidade são múltiplos e de diferentes graus. “Temos dados de que quando uma muda tem péssima qualidade é introduzida, o parreiral pode não chegar a completar um ano. Muitas vezes, o produtor realiza o financiamento da área, implanta um hectare de parreiral e, devido à má escolha do viveirista, o parreiral não chega a completar um ano, ou seja, não consegue colher nem a primeira safra para início da quitação do financiamento. Em geral, o que leva a essa perda de qualidade tão alta são pragas que são transferidas junto à muda, as quais ocorrem na área do viveiro, e muitas vezes são até assintomáticas. Se o produtor não souber a origem ou não conhecer o viveirista de quem comprou as mudas, ele acabará levando esses problemas para o seu parreiral“, alerta Daniel Grohs.
Dentre as principais pragas transferidas, atualmente, destacam-se um complexo de fungos, que podem incidir tanto na região das raízes como no enxerto da muda. Das doenças, Daniel Grohs destaca três, consideradas de alto impacto na qualidade da muda, popularmente chamadas de pé preto, chocolate e fusariose.
“Essas três doenças ocorrem, em geral, na porção basal do sistema radicular e são transferidas de baixo pra cima. Uma quarta doença, mas que ocorre de cima para baixo, e que também vem com a muda, é a podridão descendente, igualmente perigosa, pois todas podem levar à morte da planta de um até três anos depois de plantada“, ressalta o analista da Embrapa.
Porém, destaca-se que os vírus também são transmitidos pela muda e podem comprometer o desenvolvimento e a produtividade das plantas. No caso dos vírus, deve-se ressaltar que, diferente da ocorrência de fungos, seu dano é na longevidade do parreirial e perda da qualidade dos vinhos e sucos produzidos, o que só será percebido, quatro ou cinco anos após o plantio.
Prevenção
O produtor pode se prevenir, quanto à obtenção de mudas de baixa qualidade, primeiramente, com informação técnica. “O produtor precisa ter consciência das pragas que podem atacar sua produção. É quase impossível identificar todas de forma confiável, sem um treinamento apurado. Essa informação é encontrada junto à Embrapa e às empresas de extensão que estão capacitadas para tal. De qualquer forma, a solução mais simples é o produtor procurar os viveiristas parceiros da Embrapa que já passaram pelo processo de licenciamento“, aconselha Daniel Grohs.
A relação atualizada destes viveiristas pode ser verificada no site da Embrapa. Lembrando que a instituição realiza vistorias nesses viveiros para minimizar a incidência de pragas nas mudas comerciais, além de repasse de tecnologia e informações aos viveiristas.
O programa de melhoria das mudas comerciais da Embrapa tem menos de três anos, e tem como grande objetivo fazer chegar ao produtor o selo Marca Embrapa. “O grupo já soma nove viveiristas, para os quais estamos transferindo os nossos materiais básicos. Eles estão montando os seus matrizeiros a partir deste material, que é certificado. Após aproximadamente quatro anos, estes viveiros produzirão as primeiras mudas com a origem Embrapa“, informa o especialista.
Dicas para adquirir muda de qualidade
O produtor, quando comprar uma muda, deve se organizar para adquiri-la com antecedência de pelo menos doze meses antes do plantio. “Comprar na véspera de plantio é risco de comprar muda de baixa qualidade“, segundo Daniel Grohs.
Ainda para ele, montar um parreiral é como fazer uma lavoura de soja – a gestão dos negócios deve ser a mesma, com planejamento. “Ao comprar a muda, o produtor não deve já plantá-la, sem antes analisar o material. Existem características que já denunciam se a muda é de baixa qualidade“, ensina.
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