Elisamara Caldeira do Nascimento
Coordenadora de Geração de Demanda Agro Amazônia
elisamara.nascimento@agroamazonia.com
Solos saudáveis e produtivos são essenciais para alcançar o desenvolvimento de uma agricultura sustentável, sustentar sistemas alimentares, filtrar e regular o fluxo de água doce, armazenar grandes quantidades de carbono e sustentar milhões de organismos.
Atualmente, os biofertilizantes são identificados como alternativa biotecnológica para aumentar a fertilidade do solo e a produção agrícola sustentável.
Microrganismos usados como biofertilizantes há muitas décadas são os chamados rizóbios, conhecidos como diazotróficos, por sua capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico. Esse grupo de bactérias é capaz de colonizar a rizosfera e estabelecer nódulos nas raízes das plantas hospedeiras, principalmente espécies da família Fabaceae. Para algumas espécies, esta simbiose é tão eficiente que chega a suprir até 100% da demanda de N.
O Azospirillum
Outro grupo de bactérias diazotróficas amplamente utilizadas como princípio ativo dos biofertilizantes são aqueles pertencentes ao gênero Azospirillum, que estabelecem relações menos diretas com a planta hospedeira. Estas bactérias não formam nódulos, colonizam diversas partes da planta e podem substituir até 50% da adubação nitrogenada em algumas culturas.
Exemplo disto são os resultados de pesquisas conduzidas pela Embrapa Soja (PR) nos últimos dez anos que mostram que a inoculação de sementes de milho com a bactéria Azospirillum brasilense (estirpes Ab-V5 e Ab-V6) permite a redução de 25% da adubação nitrogenada de cobertura, considerando a dose de 90 quilos (kg) por hectare (ha) de N-fertilizante.
Atualmente, vem se popularizando o desenvolvimento de biofertilizantes com cepas diferentes ou inoculantes mistos. Seu foco baseia-se na promoção do crescimento das plantas por meio da combinação de diferentes mecanismos de diferentes microrganismos.
Os biofertilizantes com mais de uma linhagem têm mostrado excelentes resultados e têm potencial para serem cada vez mais utilizados pelos agricultores.
Os microrganismos mencionados acima, entre outras bactérias diazotróficas e não diazotróficas, são chamados de bactérias promotoras de crescimento ou rizobactérias promotoras crescimento vegetal devido à sua capacidade de exercer efeitos benéficos sobre o desenvolvimento de diferentes espécies vegetais, seja por mecanismos direto ou indireto.
Esses microrganismos podem otimizar a ciclagem de nutrientes no solo, o que aumenta a sua disponibilidade e melhora a nutrição das plantas.
Dependendo do estado fisiológico da cultura, estes microrganismos podem induzir o crescimento da planta por meio de mecanismos como a produção de fitormônios (auxinas, ácido abscísico, citocininas, etileno e giberelinas), a solubilização de fosfatos, a produção de sideróforos e indução de resistência, efeitos sistêmicos intrínsecos da planta ao estresse biótico, entre outros.
Coinoculação da soja
Nos últimos anos vem se popularizando a coinoculação da soja. A prática soma-se à já conhecida inoculação das sementes de soja com bactérias fixadoras de nitrogênio (N), conhecidas como rizóbios, com o uso do Azospirillum, uma bactéria até então conhecida por sua ação promotora de crescimento em gramíneas.
O uso desta segunda bactéria proporciona benefícios relacionados ao aumento radicular, que favorecem a planta em situações adversas, como estresse hídrico. Além disto, maior área radicular significa raízes atingindo uma proporção maior do solo e maior área para nodulação, o que tende a contribuir com a FBN e acesso à nutrientes.