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Inovação em nutrição – Micronutrientes de 4ª geração

Autor

Tarcísio Cobucci
Doutor em Fitotecnia, mestre em Solos e Nutrição de Plantas e pesquisador da Integração Agrícola e produtor rural
cobuccitarcisio@gmail.com

Desafia-me sempre a obtenção de altas produtividades, como pesquisador e, principalmente, como produtor. O que está por trás destas altas produtividades alcançadas pelos produtores nos desafios do CESB/Brasil e pelo produtor Dowdy, da Georgia-EUA? (esse último campeão mundial de produtividade de soja – 192 sc/ha). Lógico que é um conjunto de manejos agronômicos que interagem entre si e com as condições climáticas ideais. Neste artigo, irei discutir um destes manejos: a nutrição de plantas.

A origem

Nutrir uma planta não significa somente aportar todos os elementos nas quantidades requeridas. É muito além disto. Vai depender da eficiência deste elemento em chegar às partes da planta onde são demandados. Por isso, é muito diferente aplicar o nutriente e de fato nutrir a planta.

A redistribuição dos elementos na planta está em função de sua habilidade em se movimentar pelos vasos do xilema e floema. Alguns elementos, como o N, P, K, Mg, Mo e Cl são móveis tanto no xilema como no floema, assim ajudando na distribuição no dossel da planta.

Entretanto, a maioria dos elementos somente apresenta movimentação via xilema (Mn, Cu, Fe, Zn, Ca, Co), onde o fluxo de transpiração é que irá definir o destino desses elementos. Desta forma, a redistribuição destes elementos na planta se torna menos eficiente após o fechamento das linhas de plantio (menor transpiração na parte baixeira da planta).

Pode ocorrer a maior concentração destes elementos na parte superior das plantas (maior transpiração) em detrimento à parte inferior, e menor translocação para regiões meristemáticas, as quais são irrigadas principalmente pelo floema. As consequências práticas serão discutidas à frente.

A complexação destes elementos com substâncias orgânicas pode torná-los floema-móvel. Quando isto acontece, chamamos de nutrientes foliares de 4ª geração.

Boro no solo

A disponibilidade de boro no solo pode ser afetada por vários fatores, como pH, textura do solo, temperatura, matéria orgânica, entre outros (Goldeber, 1997). O pH do solo é um dos mais importantes parâmetros. De fato, o ácido bórico é um ácido fraco, e quando o pH está abaixo de 7, o B estará no seu estado não dissociado, ou seja, com carga neutra. Em pH alcalino, o ácido bórico dissocia para a forma ânion de borato.

Portanto, em condições de pH de solo neutro ou ácido, o ácido bórico estará na forma não dissociada (carga zero), a qual será absorvida pelas raízes (Hu & Brown, 1997; Power & Woods 1997). Esta condição de carga neutra promove a maior lixiviação do B em condições de altas precipitações, levando à deficiência de B.

Boro no floema

Historicamente, o B tem sido considerado um elemento floema-imóvel em plantas (Oertli e Richardson, 1970). A ocorrência de sintomas de deficiência de B em tecido jovem e em crescimento também indica que o B não é facilmente retranslocado dentro da planta.

Foi proposto que B (que ocorre como B(OH)3, a um pH fisiológico) não pode ser translocado via floema, uma vez que a alta permeabilidade da membrana ao B(OH)3 conduziria a uma fuga de B do floema para o xilema adjacente (menos concentrado) (Oertli e Richardson, 1970). Esta ‘fuga’ de B de volta para o xilema efetivamente impedirá a saída de B da folha, resultando em imobilidade do B.

Diferenças práticas do B-móvel xilema e o B-móvel floema

Para B Xilema-móvel, o movimento do elemento nas plantas depende principalmente do fluxo da transpiração, o que pode provocar a acumulação tóxica de B nas folhas apicais. Aplicações foliares de B floema-móvel podem permitir uma distribuição mais uniforme de B no dossel.

Como o movimento B móvel-xilema do solo para as folhas é dependente do fluxo de transpiração, flores e vagens baixeiras podem desenvolver deficiência de B localizada, uma vez que o fluxo do xilema será preferencial para folhas no ápice do dossel.

O B não tem redistribuição das folhas para tecidos mais jovens (exceto com B- floema móvel). Por isso, se a fonte de solo for extinta os meristemas podem mostrar sintomas de deficiência de B. Daí a importância de aplicações foliares de B floema-móvel.

A dominância apical é regulada pelas concentrações relativas de auxina e citocininas na planta. Wagner e Michael (21) relataram que B deficiência causou um declínio na biossíntese de citocininas em raízes, pois a deficiência de B inibe o desenvolvimento de meristemas radiculares, que é o principal local da síntese de citocininas.

Portanto, aplicações foliares diminuem a dominância apical e aumentam a brotação lateral.

Trabalhos de pesquisa em soja

A seguir são apresentados os estudos comparando épocas e formas de B (B xilema-móvel e B floema-móvel) conduzidos nesta safra 2018/19 na fazenda Filadélfia e São Miguel – Bom Futuro, Campo Verde (MT).

B Floema-Móvel- AOA-B (2,5%)

Conclusões

A maior correlação (r= 0,94) do teor de B com produtividade foi encontrada nas folhas baixeiras das plantas. Isso indica que a coleta das amostras nas folhas superiores  (recomendação atual) está equivocada. Esses dados confirmam a importância a movimentação de B para a parte baixa da planta.

Maiores produtividades foram encontradas em plantas com maiores concentrações de B nas folhas baixeiras obtidas com aplicações de B – floema-móvel em R2.

B – floema móvel, como tem maior eficiência, as doses aplicadas são cinco vezes menores que as B – xilema-móvel (não orgânico). A aplicação de B somente no solo não é suficiente para suprir as plantas até o final do ciclo. Há a necessidade de complementação via foliar em R2.

Trabalhos de pesquisa no feijoeiro

A seguir são apresentados os estudos comparando formas de B (B – xilema-móvel e B – floema-móvel) conduzidos nesta safra 2018 em Corumbá de Goiás (GO).

Fonte: Integração Agrícola Ltda

B Floema-Móvel- B-Moly (3,5%)

B Xilema-Móvel- B Focus (10%)

Resultados

No tratamento Controle observa-se um aumento de 16,4% do teor de B nas folhas superiores, enquanto nas folhas baixeiras há uma diminuição de 14,0%. Isso é explicado pela translocação do B pelo xilema, na qual o fluxo de B será maior para aquelas partes que estão transpirando (ou seja, as folhas superiores).

A aplicação de B Focus (B Xilema-móvel) irá aumentar a concentração do elemento nas folhas superiores, enquanto nas folhas baixeiras (como o produto não chega) haverá uma redução de B nas folhas.

Na aplicação de B-Moly (B – floema-móvel), verifica-se um aumento maior nas folhas superiores, enquanto que nas folhas baixeiras não houve diminuição do teor do elemento (comprovando a mobilidade para as folhas baixeiras).

As maiores produtividades do feijoeiro foram obtidas naqueles tratamentos com menores perdas das concentrações de B após o fechamento das linhas de plantio.

A seguir estão apresentados os estudos comparando formas de B (B Xilema-móvel e B Floema móvel) conduzidos na safra 2018 em Corumbá de Goiás (GO) e Nova Ponte (MG).

BRS Pérola – Corumbá de Goiás (GO), 2018

BRS Estilo – Nova Ponte (MG), 2018

  Dose Produtividade (kg/ha Tukey
Fonte B g/ha Corumbá de Goiás Nova Ponte Média % 5% 10%
Controle 0 3714 1696 2705 100 c c
B – floema-móvel 31,7 3850 1646 2748 102 c c
B – floema-móvel 63,4 4179 2050 3115 115 b b
B – floema-móvel 126,9 4267 2050 3158 117 b b
B – floema-móvel 253,8 4902 2117 3509 130 a a
B – xilema-móvel 122 3864 1745 2804 104 c c

B – floema-móvel – Humicbor – Satis

B – xilema-móvel – Focus B

 Fonte: Integração Agrícola Ltda

Novamente foi comprovada a maior eficiência do B-Floema móvel na produtividade do feijoeiro

Entendimento do glifosato

O glifosato (N- (fosfomeometil) glicina) é um quelante de metal forte de amplo espectro com macro e micronutrientes (Ca, Mg, Cu, Fe, Mn, Ni, Zn). É essa forte capacidade de quelatização que também o torna herbicida de amplo espectro e um potente agente antimicrobiano, uma vez que a função de numerosas enzimas essenciais é afetada.

A principal ênfase na compreensão da atividade herbicida do glifosato tem sido a inibição da enzima 5-enolpiruvil-shikimato-3-fosfato sintase (EPSPS) no início da via fisiológica de Shikimato para o metabolismo secundário.

Essa enzima requer uma FMN reduzida como um co-fator (catalisador) cuja redução requer manganês (Mn). Assim, imobilizando Mn por quelatilização, o glifosato nega a disponibilidade de FMN reduzida para a enzima EPSPS. Ele também pode afetar até 25 outras enzimas de plantas que requerem Mn como um cofator e numerosas outras enzimas no metabolismo primário e secundário que requerem outros cofatores de metal (Co, Cu, Fe, Mg, Ni, Zn).

O FMN é um agente com poder de oxidação superior ao do NAD e é útil em reações que envolvam ambas as transferências de um ou dois elétrons.

 Não é raro ver as deficiências de Fe, Mn, Ni e Zn se intensificarem e se mostrarem em solos que antes eram considerados totalmente suficientes para esses nutrientes. O aumento da oferta e da disponibilidade de Co, Cu, Fe, Mg, Mn, Ni e Zn reduz alguns dos efeitos deletérios do glifosato e aumenta o rendimento das culturas.

Diferenças práticas do Mn-móvel xilema e o Mn-móvel floema na mitigação do glifosato

É muito importante saber que os genes RR são ‘silenciados’ nos tecidos meristemáticos e, consequentemente, há um acúmulo de glifosato. Portanto, é necessária a desintoxicação rápida do glifosato residual nesses tecidos e também nos exsudatos radiculares, uma vez que o glifosato residual ‘livre’ nos tecidos das plantas RR pode imobilizar a maioria das fontes regulares de micronutrientes foliares durante oito a 15 dias.

Com isso, recomenda-se a aplicação simultânea de glifosato e Mn e Zn floema-móvel (para que estes elementos possam chegar às raízes e, principalmente, aos meristemas, devido à sua maior redistribuição na planta).

Trabalhos de pesquisa em soja

A seguir estão apresentados os estudos comparando formas de Mn e Zn (xilema-móvel e floema-móvel) conduzidos nesta safra 2018/19 (média de oito locais).

  Sem glifosato Com glifosato Com glifosato Com glifosato Com glifosato Com glifosato Com glifosato Com glifosato
Sem micros Sem micros Mn NON ORG Mn+Zn ORG Mn+Zn ORG Mn+Zn ORG Mn+Zn ORG Mn ORG
Mn (g/ha)     125 10 20 40 30 100
Zn (h/ha)       30 60 120 30  
Produção (sc/ha) 56,2 ab 49,9 d 51,3 cd 52,6 c 57,1 ab 58,1 a 54,1 bc 53,2 c
Mn folha (g/kg) 132 109 113 117 139 139 112 118
Tukey 5% ab d cd bcd a a d bcd
Zn folha (g/kg) 57,0 47,4 46,6 55,6 59,9 72,7 47,0 44,7
Tukey 5% b c c b b a c c
B folha (g/kg) 42,2 38,0 39,5 43,8 41,1 44,3 42,6 42,1
Tukey 5% abc c bc ab abc a ab abc

Fonte: Integração Agrícola Ltda

Floema-móvel= Mn+Zn ORG

Xilema-móvel= Mn non ORG

Houve alta correlação entre os teores de Mn e Zn nas folhas e produtividade, corroborando a ideia de que mesmo com os teores suficientes dos elementos no solo e na folha estas aplicações de Mn e Zn ajudam a desintoxicar o glifosato residual livre.

Aplicações de Mn xilema-móvel (125 g Mn/ha), por apresentar menor redistribuição nas plantas, obteve um menor efeito de mitigação do glifosato. Assim, 20 g de Mn e 60 g de Zn/ha floema-móvel é o suficiente para mitigar os efeitos de glifosato.


RETRANCA

Quem provou, aprova

Gustavo Farinelli é engenheiro agrônomo e produtor rural na fazenda Semensol Agro, sediada em Tupaciguara (MG), onde planta soja, milho, sorgo e pastagens para produção de sementes. No total são 4.500 ha de soja, 3.000 ha de pastagens para produção de sementes, e a programação para safrinha é de 350 ha de milho e 1.150 ha de sorgo. Sua produtividade média, atualmente, está em 63,5 sc/ha na soja, atingindo a máxima de 79,34 sc/ha em alguns talhões.

Para Gustavo, grande parte do seu sucesso se deve à nutrição das lavouras, que garantem aumento da sanidade, melhoria em resistência a condições adversas, uniformidade em maturação e incremento em produtividade. “Estamos na terceira safra utilizando os nutrientes de 4ª geração, e depois deles percebi uma melhor absorção e redistribuição dos elementos na planta, redução dos efeitos fitotóxicos gerados por herbicidas e fungicidas e uma ótima formulação para se trabalhar com misturas”.

O produtor utiliza hormônios e aminoácidos no tratamento de sementes, com a tecnologia Smart-System junto ao glifosato no pós-emergente e a tecnologia Maniplex no pegamento de flores e enchimento de grãos. Todas as aplicações são realizadas com condições climáticas adequadas.

“Com a utilização desses produtos tenho conseguido plantas muito mais vigorosas, nutridas e resistentes. Nesse ano, por exemplo, passamos em nossa região (Tupaciguara, Monte Alegre de Minas e Prata) um período de quase 20 dias sem chuvas. As sojas de ciclo precoce e médio já estavam na fase reprodutiva e mesmo assim não tivemos problemas com abortamento. Com certeza, a perda teríamos com esse veranico foi diminuída consideravelmente, pelo fato de utilizarmos essa tecnologia em nutrição alinhada com o plantio direto em palhadas de braquiárias”, considera o Gustavo.

Ele revela que o custo dos adubos de 4ª geração é de aproximadamente 1,3 saca de soja por hectare, e o retorno é observado dentro da safra.

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