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IV Encontro dos Produtores de Trigo de Minas Gerais destaca a força da cultura

 

Fotos Luize Hess
Fotos Luize Hess

O Moinho Sete Irmãos promoveu, no dia 31 de março, em Uberlândia (MG), o IV Encontro dos Produtores de Trigo de Minas Gerais 2017, uma iniciativa que teve por objetivo voltar os olhos dos triticultores e profissionais do setor para a atual situação da cultura.

Júlio César Albrecht, pesquisador da Embrapa na área de Melhoramento Genético de trigo, por mais um ano foi palestrante do evento, e abordou os sistemas de produção irrigado e sequeiro no Cerrado Mineiro, enfatizando as variedades da Embrapa que foram desenvolvidas especificamente para a região, suas características e vantagens, mostrando, inclusive, a lucratividade e os benefícios que o trigo traz para o sistema de produção.

“Na safrinha, após uma safra precoce, as vantagens que o trigo apresenta em um sistema irrigado, fazendo a rotação com hortaliças, feijão ou milho, são muito grandes.O trigo é uma planta supressora de doenças do solo. Então, à medida que se faz rotação com trigo, diminuem as probabilidades de ocorrência de doenças do solo em outras culturas.Àmedida que o cultivo é feito só com hortaliças, feijão ou as principais monoculturas irrigadas, o produtor começa a ter muitos problemas no solo, e o trigo chega justamente para quebrar o ciclo de doenças“, relata o pesquisador.

Outra vantagem apontada por ele é que o trigo é uma planta supressora de plantas daninhas e reduz ou estabiliza a ocorrência de nematoides, que são um grande problema na região. Além disso, o trigo deixa uma palhada muito boa que melhora as características físicas do solo e colabora com a formação da matéria orgânica ali.

Elcio Bento, consultor de mercado de commodities - Fotos Luize Hess
Elcio Bento, consultor de mercado de commodities – Fotos Luize Hess

Variedades

Júlio César enfatizou as variedades desenvolvidas pela EmbrapaTrigo – BRS 264, hoje a principal cultivada na região do Cerrado Mineiro. Também falou sobre as principais características da BRS 394, uma nova variedade lançadano ano passado para as condições do Cerrado Mineiro que tem entregado altas produtividades.

Tanto a BRS 264 quanto a 394 têm alcançado produtividades de 120 a 130 sacas por hectare, tendo tido uma boa aceitação em função da alta produtividade, que resulta em boas rentabilidades. “A BRS 264é um material mais precoce, estando pronto com 90 dias, e com 105 dias pode ser colhido. O material tem uma boa estatura, sem ser muito ‘acamador’, responde bem ao nitrogênio e é por isso que atinge essas altas produtividades. A 394 também vai nessa linha, sendo altamente produtiva, com excelente qualidade de panificação“, detalha o pesquisador.

Ele conta, ainda, que os moinhos dão preferência para o BRS 264, inclusive pedindopara que os produtores segreguem esse material em função de suas boas características e qualidade para a panificação.

O evento é realizado todo ano, sempre na véspera do plantio - Fotos Luize Hess
O evento é realizado todo ano, sempre na véspera do plantio – Fotos Luize Hess

Para o sequeiro

Outro destaque foi a BRS 404, um material também lançado em 2016 para a condição de sequeiro, com boas características para panificação e alta rentabilidade. “Os produtores que no último ano cultivaram essa variedade tiveram boas produtividades, chegandoa até 70 sacas por hectare na condição de safrinha, o que é um excelente resultado. É importante lembrar que a 264 pode ser plantada tanto em sequeiro como irrigado, e por isso é uma das cultivares mais plantadasna região, por responder muito bem à tecnologia“, pontua Júlio César.

A recomendação dessas variedades é para a região do Cerrado Mineiro e do Triângulo Mineiro, principalmente para plantios a partir do dia 15 de março, quando há boas condições de chuva e umidade ideal de solo.

Já a BRS 394 responde melhor quando é plantada na primeira quinzena de maio, na condição de irrigado, o que também é bem aceito pela 264, que pode chegar até o final do mês, segundo recomendações da Embrapa.

 Lincoln Fernandes, presidente do moinho de Trigo Sete Irmãos e presidente do Sindicato dos Moinhos de Trigo de Minas Gerais - Fotos Luize Hess
Lincoln Fernandes, presidente do moinho de Trigo Sete Irmãos e presidente do Sindicato dos Moinhos de Trigo de Minas Gerais – Fotos Luize Hess

Fitossanidade

O principal problema da triticultura é a brusone, uma doença bastante agressiva que exige tratamentos preventivos, pois não há moléculas que façam seu controle curativo. São recomendados, portanto, produtos à base de estrobilurinas e triazóis, que têm controlado muito bem a doença, desde que feito preventivamente o controle.

“Temos recomendado aos produtores fazerem a primeira aplicação desse produto já na fase de emborrachamento, e a cada 15 dias repetir a aplicação, podendo chegar a até quatro.Têm surgido bons resultados com essas moléculas, e por isso se recomenda sempre fazer o controle preventivo dessas doenças“, aponta Júlio César.

Ainda segundo ele, as manchas amarelas e marrons são de mais fácil controle, tanto com estrobilurinas quanto triazóis, e a mistura dos dois tem entregado resultados satisfatórios.

Palestrante Júlio César Albrecht, pesquisador da Embrapa na área de Melhoramento Genético de trigo - Fotos Luize Hess
Palestrante Júlio César Albrecht, pesquisador da Embrapa na área de Melhoramento Genético de trigo – Fotos Luize Hess

Formação de preços

Elcio Bento, consultor de mercado de commodities, foi um dos palestrantes do IV Encontro de Produtores de Trigo, e fez uma abordagem completa, com a visão não só do mercado interno, mas também internacional e de todas as possíveis alterações que possam implicar na alteração dos preços.

“O cenário atual é de preços em baixa, devido à grande oferta no mercado internacional. Os estoques mundiais de trigo são os maiores da história, e quanto maior o estoque de trigo, maior a pressão sobre os preços e maior a tendência de queda. Nesse ano, entretanto, a diferença é que a Argentina, nosso principal fornecedor, volta com uma supersafra, e como este país tem isenção de taxas para exportar para o Brasil, fez o preço do trigo brasileiro cair“, expõe o palestrante.

No mercado internacional também se observa queda, e como o dólar está novamente caindo, chegando próximo a R$ 3,00, tudo isso influencia o preço do trigo para baixo.No Brasil o cenário é de safra cheia, com boa qualidade, sem grandes problemas de clima, como aconteceu em 2016, com o El Ninho. “E aí fecha um quadro em que temos muito trigo no mundo, sendo que o Brasil nunca importou tanto como no ano passado. Por outro lado, acreditamos que os preços já estão no menor patamar para esse ano, e a partir de agora esperamos uma recuperação. Entretanto, nesse cenário de muito trigo no mundo e importações elevadas, o limite para alta será mais modesto do que em 2016, que se elevou até R$ 1.000 por tonelada em algumas regiões“, avaliaElcio Bento.

Para a safra 2017/18 (a partir de agosto), o que ele prevê no mercado internacional é uma tendência de queda da produção, porque o mundo vem produzindo muito trigo há quatro anos seguidos. Assim, com preços pouco atrativos, o mercado começa a buscar algum suporte. “Para o próximo ano é interessante destacar alguns modelos climáticos norte-americanos que já indicam a possibilidade de El Niño a partir de julho, que influenciam diretamente o comportamento de produção e trazem incertezas em relação à produção no Paraná e Rio Grande do Sul, onde haverá colheita nesse período“, destaca o profissional.

“No caso do produtor mineiro, ele tem uma vantagem porque colhe antes do Paraná. Provavelmente, essa safra já está toda comercializada, e a próxima deve estar com boa parte já negociada, ou seja, Minas Gerais terá aumento, enquanto o resto do País enfrenta queda. Uma boa estratégia é negociar antes a safra paranaense, que é o que vai determinar e derrubar preço no momento do ingresso da safra brasileira“, expõeElcio Bento.

 

O encontro visa atualizar os triticultores sobre as últimas notícias econômicas e mercadológicas - Fotos Luize Hess
O encontro visa atualizar os triticultores sobre as últimas notícias econômicas e mercadológicas – Fotos Luize Hess

Trigo no centro da economia brasileira

Para Lincoln Fernandes, presidente do moinho de Trigo Sete Irmãos e presidente do Sindicato dos Moinhos de Trigo de Minas Gerais, toda a economia hoje movimenta de forma global. “Temos que trabalhar dentro do conceito de cadeia do setor.Então, a produção de trigo é fundamental porque nós temos,neste contexto, uma importância muito grande a nívelestadual e nacional, ou seja, Minas Gerais é um grande produtor de farinha de trigo, e os moinhos têm escala e porte econômico expressivos no restante da economia brasileira“, pontua.

No caso específico das indústrias mineiras de massas e biscoitos, que são de grande escala e exportam para vários países, há a denotação que a produção consegue suprir vários mercados, o que se mostra um cenário crescente.

“A indústria de congelados também é incipiente, tendo um potencial de crescimento muito grande, especialmente em Minas, onde o setor vem se destacando com o maior percentual de crescimento.Embora ainda tenha participação pequena, somos o Estado com maior velocidade de crescimento a nível de Brasil, hoje, ressaltando nossa importância na cadeia produtiva de trigo“, avalia o também membro da Câmara Setorial do Ministério da Agricultura, Lincoln Fernandes.

Juntando forças, ele conseguiu montar um projeto em que o conceito de cadeia produtiva se fortalecesse e atraísse investimento, o que deu certo. “Desde que implantamos esse projeto, nos últimos cinco anos tivemos investimentos superiores a 200 milhões de dólares, e já geramos mais de 1100 empregos diretos só na indústria.Com o crescimento da lavoura de trigo em Minas Gerais também agregamos ao PIB do Estado. E, podem acreditar – existe um potencial de crescimento ainda maior, o que mostramos no Encontro de Produtores de Trigo“, reforça.

Desafios

O objetivo do evento foi induzir o produtor rural e a indústria a avançarem sempre. “Estamos com um programa de investimento no setor industrial para os próximos três anos da ordem de mais de R$ 3 milhões, seja em moinhos de trigo ou em massas.Mas, precisamos que o produtor também faça a sua parte, produzindo mais. Todos do elo da cadeia têm que ganhar e ter sua rentabilidade“, ressalta Lincoln Fernandes.

Portanto, durante o evento foram mostradas técnicaspara ganhar mais produtividade por hectare, e como rentabilizar a cultura consorciada com outras, trazendo ganho para a terra, economia do maquinário e da equipe, de maneira que o produtor seja beneficiadoem todos os âmbitos.

O desafio, portanto, é que Minas Gerais ultrapasse 500 mil toneladas, chegando a um milhão de toneladas nos próximos dez anos, que corresponde à produção para o seu consumo anual. É o terceiro maior mercado de derivados de farináceos no Brasil, e ainda assim, produz muito pouco, forçando a importação líquida de matéria-prima.

“Queremos ser produtores autossuficientes de matéria-prima e exportadores do produto farináceo,seja farinha de trigo, massas ou biscoitos.Já somos exportadores de massas e biscoitos, mas queremos ser exportadores também de farináceos, pães de forma e congelados. Essa reunião visa motivar mais um passo a frente nesse projeto“, anseia o presidente do Sindicato dos Moinhos de Minas Gerais.

O evento

O Encontro de Produtores de Trigo de Minas Gerais é realizado todo ano, sempre na véspera do plantio, para atualizar os produtores sobre as últimas notícias econômicas e mercadológicas, assim como sobre questões técnicas de plantio, de semente e produtividade, que são importantes para que o setor cresça de maneira consistente.

Essa matéria você encontra na edição de maio 2017 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua.

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Bruno Nicchio Engenheiro agrônomo e doutorando em Produção Vegetal, ICIAG-UFU bruno_nicchio@hotmail.com José G. Mageste Engenheiro florestal, Ph.D. e professor ICIAG-UFU jgmageste@ufu.br Ernane Miranda Lemes Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Produção...

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