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Jacarandá: a árvore da sabedoria e do lucro

Créditos Pixabay

Marina Santos Okuzono Marques de Araújo
Graduanda em Engenharia Florestal – FAEF/Garça
marinasantosokuzonomarquesdearaujo@aluno.faef.edu.br
Marcelo de Souza Silva
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia e professor – FAEF/Garça – SP
mrcsouza18@gmail.com

O nome jacarandá é proveniente da língua tupi, que significa “árvore que possui madeira dura”. De acordo com a lenda amazonense, o jacarandá é uma arvore da sabedoria e conhecimento, e não é de se negar que ele se tornou uma das espécies favoritas para serem plantadas em universidades e escolas.

Suas florações são de encantar a qualquer um, com flores branco-amareladas e lilases, exibindo beleza dos meses de novembro a maio pelos biomas da caatinga, mata atlântica e cerrado. No Brasil existem três espécies nativas: jacarandá-rosa (Dalbergia brasiliensis), jacarandá-do-cerrado (Dalbergia miscolobium) e o jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra).

Vale destacar o jacarandá-mimoso (Jacaranda mimosifolia), uma espécie argentina, que também tem grande influência no Brasil pelo seu potencial paisagístico, reflorestador e madeireiro, ganhando enfoque considerável pela sua versatilidade de uso.

Demanda

O jacarandá-do-cerrado é mais utilizado na arborização urbana pela beleza de suas folhas verdes-azuladas. Já o jacarandá-rosa também é utilizado de forma ornamental, pelas suas flores perfumadas, e em sistemas agroflorestais para a arborização de pastagens, e o jacarandá-da-bahia se torna uma espécie versátil, por ser utilizado em sistemas cacaueiros no Sul da Bahia para indicação de terrenos férteis.

O jacarandá-mimoso se faz muito presente na arborização urbana. Sua madeira é considerada nobre e possui uma ótima aceitação no setor madeireiro.

Benefícios

O potencial medicinal não convencional dos jacarandás é conhecido nos Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais pela sua eficiência no tratamento de infecções bacterianas, gonorreia e sífilis.

Suas flores possuem um ótimo potencial melífero, fazendo com que o litro do mel da florada dos jacarandás, em geral, custe em média R$ 80,00, sendo um ótimo produto florestal sustentável não madeireiro.

Por ser uma árvore de grande porte, a sombra da copa dos jacarandás é bem grande e volumosa, ajudando no conforto térmico. A beleza das florações do jacarandá-mimoso torna paisagens urbanas mais agradáveis e agregam valor a certas regiões, trazendo um conforto ambiental.

O uso de árvores em centros urbanos ajuda na melhoria da qualidade do ar e influencia na diminuição da poluição sonora.

Comercialização

O setor moveleiro é majoritariamente dominado pelos móveis de alta produção comercial feitos de pinus e madeiras industriais, como o MDF, MDP e aglomerados, por trazerem um melhor custo-benefício e serem mais populares.

Porém, há também uma alta demanda de móveis de luxo feitos com madeiras de Lei, sendo que o jacarandá se destaca pelas suas características físicas e alta durabilidade.

Móveis de madeira de lei acabam se tornando memórias afetivas. Mesas de jantar e guarda-roupas com ornamentos entalhados em madeira carregam a história de famílias por todo Brasil, e acabam sendo passados de geração a geração em um bom estado de conservação.

Não há nada que traga mais recordações da infância do que reconhecer um móvel de algum antepassado. Os móveis de jacarandá foram uma grande febre nos anos 50, e até hoje permanecem no mercado, com um grande valor agregado, pelo seu ar rústico e sofisticado.

O Ford Belina Luxo Especial, perua da família do Corcel, é um ótimo exemplo da beleza e qualidade da madeira do jacarandá-da-bahia, já que sua madeira é utilizada em painéis nas laterais da lataria do carro.

Acessórios para todos os tipos de carros, de volantes de Fusca até painéis e interiores personalizados para BMW, a beleza de sua madeira agrada a todos os gostos, e por isso se torna uma madeira de fácil comercialização.

Qualidade da madeira

O termo madeira de lei faz total sentido para o jacarandá, já que a sua madeira possui uma excelente resistência e beleza. Sua madeira tem uma resistência natural aos ataques de cupim, pela presença de resinas repelentes a essas pragas. O uso do verniz e impregnantes, como o stein, também aumenta sua resistência de forma química e física a outros agentes degradadores da madeira.

A durabilidade natural dessa madeira é extremamente alta e muito resistente aos organismos xilófagos. Mesmo com uma densidade de 0,60 g/cm³, chegando a até 0,90 g/cm³, sua madeira é fácil de ser trabalhada e possui um acabamento impecável, tornando-a uma madeira de luxo.

Os preços dos móveis de jacarandá ultrapassam, muitas vezes, o valor de R$ 20.000.

Regeneração das florestas

Grande parte das florestas originárias brasileiras foram antropizadas, alteradas e desmatadas pelo homem, e um terço desse desmatamento – desde 1.500 – ocorreu nos últimos 37 anos.

Esse desmatamento resultou na implantação de pastos e lavouras, sendo 22% de todo território brasileiro constituído de pastos e 80% deles se encontram em algum estado de degradação.

Em 1989, o Decreto 97.632/1989 instituiu o Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD), que instrui a recuperação desses ambientes degradados com espécies nativas, de acordo com cada fitofisionomia presente.

Por serem espécies que se adaptam a terrenos de diversas condições, tanto semi-inundados quanto arenosos de baixa fertilidade, os jacarandás são também espécies secundárias tardias que depositam uma razoável camada de folhas no solo.

Seu crescimento lento e denso permite que ela passe por diversos períodos de floração, os quais sucedem a perda de suas folhas, gerando uma serapilheira rica em matéria orgânica.

Além da matéria orgânica, a serapilheira ajuda na formação do banco de sementes do solo, o qual abriga as futuras habitantes dessas áreas, na diminuição da temperatura do solo e abrigo para pequenos animais e insetos.

A serapilheira é uma das protagonistas para o sucesso de uma restauração ambiental e bom funcionamento do ecossistema.

Adaptação a solos de baixa fertilidade

Naturalmente, o jacarandá ocorre em regiões de solos de baixa fertilidade química (tabuleiros) e com pH superior a 5,2, o que sugere sua alta adaptabilidade a esse tipo de terreno, tornando sua exploração estratégica para regeneração de florestas alteradas.

Em alguns casos, como nas áreas presentes no Sul da Bahia, o jacarandá surge em áreas onduladas e montanhosas, ocupando os topos e as encostas das elevações onde ocorrem solos argilosos e argilo-arenosos, profundos e de boa drenagem.

No entanto, essa espécie destaca-se por apresentar alta resistência à condição de estresse hídrico.

Risco de extinção

Com todas as vantagens, reconhecimento dessa madeira e a busca por móveis dessa madeira de lei, o extrativismo dos jacarandás foi bem intenso desde o período colonial.

As árvores mais volumosas foram abatidas por madeireiros para cumprir a demanda do mercado, desencadeando um “sumiço” dela na natureza. Os preços dos móveis de jacarandá chegaram a valores superiores a R$ 20.000, devido à falta da árvore na natureza, tornando sua madeira escassa no mercado.

Por ser uma espécie com dispersão de sementes pelo vento, o jacarandá não é dependente de aves ou animais para a propagação da espécie, porém, isso dificulta a sua sobrevivência na natureza.

Suas sementes aladas, muitas vezes, acabam não chegando ao chão e se prendem à copa de outras árvores. Além disso, suas sementes servem de comida para roedores, dificultando ainda mais o crescimento de novas árvores.

O jacarandá-da-bahia já aparece na lista vermelha de vulnerabilidade. Diversos programas de conservação trabalham para que a espécie não seja extinta por causa do extrativismo ilegal que ocorre atualmente.

Todos os jacarandás extraídos devem ser identificadas e possuir uma Autorização de Exploração (Autex) para sua exploração legal em conjunto com o Documento de Origem Florestal (DOF), licença obrigatória para o transporte e armazenamento de produtos florestais.

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