A ausência de chuvas e os veranicos estão entre os fatores que mais prejudicam os cultivos, pois comprometem os resultados de produtividade em todas as regiões produtoras do Brasil.
Para não ficar à mercê de condições climáticas desfavoráveis, o produtor pode optar pela irrigação da lavoura, um sistema em expansão no Brasil. Para se ter uma ideia, o estado do Mato Grosso vem investindo pesado nessa técnica, que atualmente ocupa mais de 240 mil hectares em culturas como soja, milho, feijão e algodão.
O que vem pela frente
A ausência de chuvas e veranicos é extremamente danosa às culturas de interesse agrícola, principalmente as de ciclo anual, pois causa o fenômeno chamado estresse hídrico.
O estresse hídrico é prejudicial às culturas em qualquer fase do seu desenvolvimento, sendo mais grave em dois momentos – na fase da germinação/emergência das plântulas, e posteriormente na fase reprodutiva, principalmente no período que vai da floração até a fase inicial de enchimento de grãos.
Quando ocorre o estresse hídrico nas culturas, independente do seu estágio de desenvolvimento e da sua localização geográfica, os danos provocados podem ser diversos. Os prejuízos à produtividade das culturas ocorrem quando a falta de água impossibilita a abertura estomática adequada, diminuindo assim a fotossíntese líquida, devido à menor assimilação de CO2.
Dessa forma, a planta terá menos fotoassimilados para enviar das folhas até os grãos, que ficarão menores, mais leves e em menor quantidade na planta, causando a queda na produtividade.
Consequências do estresse hídrico
Outra consequência do estresse hídrico que causa perda à produtividade está relacionada à absorção de nutrientes. Para que ela seja eficiente, é preciso que os nutrientes estejam dissolvidos na solução do solo.
Logo, quando a planta absorve a solução (água + nutrientes), ela utiliza a água principalmente para sua regulação termal. E os nutrientes poderão ser alocados nos locais de interesse da planta, seja na estrutura celular, ou envolvidos na síntese de aminoácidos, proteínas, lipídeos, energia (ADP, ATP), entre outros compostos.
Quando a falta de água acontece na cultura, independente da região, as plantas não conseguem expressar seu máximo potencial.
Benefícios da irrigação
Uma das maneiras de minimizar o efeito da escassez de chuvas, seja em volume, ou irregularidades (veranicos), é com o uso da irrigação. A irrigação de áreas agrícolas traz maior segurança à produção, pois caso não haja chuva, ou ocorram os veranicos, a irrigação irá fornecer a água necessária para planta, e assim garantir o nível adequado a cada fase e em cada cultura em específico.
O método de irrigação mais utilizado é por pivô central, pois possibilita maior maleabilidade no uso da área, podendo ser inserida na área uma grande quantidade de culturas, como soja, milho, algodão, pastagem e até cana-de-açúcar, sem que seja alterado o projeto de maneira drástica.
Dessa forma, todas culturas podem ser beneficiadas pelo uso da irrigação, desde que os outros itens estejam de acordo com o que a cultura necessita, sendo eles: luz solar, temperatura, altitude, fertilidade do solo, controle de insetos, doenças e outros agentes que podem prejudicar o desenvolvimento das culturas.
Investimentos necessários
Quando se fala em irrigação, a princípio o produtor pensa em escolher o pivô, devido aos custos com a instalação, energia elétrica, entre outros. Entretanto, antes de instalar o pivô o produtor precisa avaliar se é viável para as culturas que pretende cultivar, e mais, se as outras condições edafoclimáticas já estão atendidas, ou seja, tem luz o ano todo, se a temperatura é ideal para o cultivo, se o solo possui fertilidade adequada, e os tratos fitossanitários estão sob controle.
Após responder essa série de perguntas, o produtor ter uma noção do ganho de produtividade que pode ser alcançado, podendo chegar a 200% em alguns casos. Porém, existem situações em que a irrigação trará ganhos reduzidos, que inviabilizam a montagem do sistema.
Incentivos
O estado do Mato Grosso vem incentivando e apoiando os agricultores por meio de políticas públicas estaduais, principalmente da criação dos polos de irrigação. Nesses polos, o estado funciona como intermediador entre empresas do setor irrigante e os produtores; facilitando, desburocratizando e esclarecendo aos produtores questões legais para adoção do uso da irrigação.
Segundo pesquisas e resultados práticos, a irrigação pode aumentar a produção em até duas vezes, contudo, o aumento na produtividade e rentabilidade vai depender da combinação de uma série de fatores, como: fertilidade do solo da área, a cultura e potencial de produção.
Por exemplo, imaginemos uma área (área 1) que tem chuvas bem distribuídas ao longo do ano, onde é cultivado soja na safra e milho na “safrinha” e que a produção média de soja seja de 85 sacas por hectare e a de milho 190.
Nesse caso, o potencial para aumentar a produtividade é menor do que em uma situação em que o local (área 2) tem, historicamente, uma grande instabilidade climática, e as chuvas são concentradas apenas na “safra” e a produção da safrinha fica sempre comprometida, com a produção de soja de 60 sc/ha e a de milho 80, devido à escassez de chuva.
Portanto, nesses casos o potencial de ganho na área 2 é maior do que na área 1, o que quer dizer que a área 2 pagará o investimento em menor tempo, quando comparado à área 1.
Além disso, com o advento da irrigação pode-se adotar até três safras no ano, sendo que no inverno pode ser cultivado trigo ou feijão. Neste caso, pode ser utilizado para produção de campo de sementes, entre outras opções. Assim, caso o produtor seja eficiente, o potencial de ganho aumenta consideravelmente na área.
Papel da tecnologia
Como dito anteriormente, o produtor precisa ser eficiente na produção como um todo, contudo, quando é utilizada a irrigação de maneira geral, e principalmente o pivô central, o produtor precisa entender que ele possui uma “Ferrari” em suas mãos.
Por isso, qualquer ação errada pode ocasionar prejuízos e diminuir, ou até mesmo acabar com sua margem de lucro. Pensando nisso, atualmente existem no mercado consultores autônomos e representantes de empresas que atuam na gestão e uso da irrigação.
Esses profissionais são essenciais para garantir que a irrigação será feita de maneira correta, irrigando no momento adequado e na quantidade adequada, além de posicionar os horários de irrigação em convergência com os tratos culturais, como adubação e aplicação de produtos fitossanitários.
Sem desperdícios
Tradicionalmente, o produtor acaba utilizando mais água que o necessário e o excesso de água, além de desperdiçar esse bem tão precioso e energia elétrica (ambas são cobradas, em algumas bacias), o excesso hídrico favorece o aparecimento de doenças fúngicas e bacterianas, levando o produtor à perda de produtividade e aumentando o gasto com produtos fitossanitários.
Um pivô de 100 hectares, caso esteja sob mal uso, utilizando mais água que o devido, pode gastar a mais, em um ano, cerca de R$ 100.000,00, quando contabilizados os custos excedentes com água, energia elétrica, depreciação, aumento na incidência de pragas e doenças e pulverizações na área.
Por isso, uma consultoria, quando o produtor não tem experiência com a irrigação, é sempre viável.
Segurança agrícola
Para a irrigação ser vista como investimento e não custo, o produtor precisa ter consciência do investimento e o retorno que terá.
Quando pensar em utilizar a irrigação, ele deve levar em consideração os itens mencionados anteriormente, como potencial produtivo, produção atual e a eficiência no uso da água, além do custo de implantação da irrigação (pivô central), que está em torno de R$ 10 mil a R$ 15 mil por hectare.
Esse custo deve ser diluído na vida útil do equipamento (10 anos é um valor para evitar surpresas desagradáveis). Claro, também devemos pensar no custo operacional do pivô. Após fazer esses cálculos e analisar esses itens, o produtor poderá fazer um investimento assertivo, sem ser um “tiro no escuro”, e assim pagar seu investimento no menor prazo possível, ou concluir que é inviável o uso da irrigação em sua propriedade.