Catherine Amorim
Engenheira agrônoma e doutoranda – ESALQ-USP
catherine.amorim@usp.br
Por ser uma cultura exigente em frio, a maçã é produzida tradicionalmente no Sul do País, principalmente nas regiões serranas dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina devido às baixas temperaturas no inverno.
Na região sul, a produção se concentra majoritariamente no cultivo de ‘Gala’, ‘Fuji’ e seus clones, que necessitam de mais de 600 horas de frio abaixo de 7,2°C. Estima-se que a produção dessas cultivares corresponda a mais de 90% da produção brasileira.
No entanto, trabalhos de melhoramento genético têm sido desenvolvidos para obtenção de genótipos com necessidades inferiores a 300 horas. Inclusive algumas cultivares já podem ser produzidas em regiões de clima quente.
Pesquisas
Pela grande importância da cultura no mercado mundial, muitas pesquisas têm sido desenvolvidas não só para obtenção de cultivares com menor necessidade de frio hibernal, mas também em associação com estratégias de manejo, como a desfolha química e indução e quebra da dormência por meio de déficit hídrico ou indutores químicos.
O intuito é expandir a produção de maçã para regiões tropicais e semiáridas, como o Sudeste e o Nordeste brasileiro. Isso garante uma melhor distribuição da fruta pelo País, atendendo às demandas.
A produção da maçã em clima quente ainda favorece a colheita em duas épocas do ano. Em localidades de baixas temperaturas as plantas passam pelo repouso hibernal durante o inverno, o que propicia apenas uma safra durante o ano. Em regiões quentes, as plantas podem, por meio de técnicas de florada contínua, ser estimuladas a produzir entre períodos menores.
Produção no Nordeste
Um forte exemplo é a maçã ‘Eva’, resultado do cruzamento entre as maçãs ‘Anna’ e ‘Gala’. Lançada pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) em 1999, a cultivar possui uma exigência inferior a 350 horas de frio abaixo de 7,2°C. A ‘Eva’ se adaptou bem à região sudeste, onde vem sendo cultivada no Estado de São Paulo.
No Nordeste, a produção, principalmente, de maçãs ‘Eva’, ‘Julieta’ e ‘Princesa’ tem sido praticada. Essas cultivares, todas desenvolvidas pelo IAPAR, têm uma boa adaptação a regiões quentes, pela baixa exigência de frio.
Com a consolidação da produção de uva em Petrolina (PE), que se tornou nos últimos tempos um grande polo de produção de frutíferas do País, a Embrapa Semiárido foi pioneira nas pesquisas para o cultivo na maçã na região do Vale do São Francisco.
Após iniciadas as pesquisas resultantes de uma parceria entre a Embrapa Semiárido e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), nas cidades de Petrolina e Juazeiro (BA), as maçãs produzidas no Vale do São Francisco começaram a chegar ao mercado nacional em 2016.
E, desde então, essa produção vem crescendo e ganhando o mercado. No ano de 2021, Petrolina chegou a ficar na 11° posição do ranking de maiores produtores nacionais da fruta, à frente de nove cidades da região sul.
Ao contrário do que se pensa, as condições climáticas do local acabam sendo muito favoráveis, uma vez que dificultam o desenvolvimento de pragas nas plantas e favorecem a qualidade dos frutos.
A produção na primeira safra do pomar fica em média entre 15 e 20 toneladas por hectare, e após dois anos pode chegar a 40 toneladas por hectare. Por ser um local de clima semiárido, são utilizadas técnicas de irrigação para manejar a floração.
Os avanços têm sido promissores para a implantação de um novo polo produtor de maçã nas regiões mais quentes do País, como o Sudeste e o Nordeste.