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Manejo conservacionista da cenoura traz benefícios ao cultivo

Laércio Boratto de Paula

Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de MG, campus Barbacena

laercio.boratto@ifsudestemg.edu.br

 

 Créditos Shutterstock
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O empoçamento ou alagamento de um solo, seja ele duradouro ou temporário, normalmente é causado por precipitações intensas, excessivas, e/ou pela drenagem natural deficiente.

Esta situação interfere na aeração do solo, causando a redução da disponibilidade de oxigênio e ocasionando, por sua vez, uma série de distúrbios para a planta. De modo geral, solos inundados apresentam excesso de Fe, Mn, acúmulo de etileno e CO2. Nestas condições, acontece fitotoxidez.

Em resposta, a planta pode apresentar murchamento, clorose, hipertrofia do caule, alterações a nível morfológico e anatômico, diminuição do crescimento, morte de raízes e, consequentemente, morte da planta.

Sensibilidade da cenoura

A cenoura é muito sensível com relação à disponibilidade de água no solo, seja pela falta ou excesso. A falta faz com que a raiz principal desenvolva muitas raízes laterais, secundárias, o que deprecia a qualidade do produto e reduz a produção.

Já o excesso de água traz uma série de problemas à cultura. Como já foi dito, esta situação reduz a disponibilidade de O2 e a absorção de nutrientes. A água, por sua vez, pode ser absorvida em grande quantidade, o que aumentaria a pressão interna, especialmente no xilema, causando rachadura no sentido do comprimento, anomalia esta mais comum de acontecer quando as raízes estão próximas de serem colhidas.

Vários outros distúrbios também são favorecidos pelo acúmulo de água: a coloração pode ficar esbranquiçada, formando-se, na raiz, o que se chama comumente de “algodão”, devido à formação exagerada de aerênquimas (tecidos com grandes espaços intercelulares, que permitem a difusão do O2 da parte aérea para a raiz); a raiz também pode se bifurcar ou ficar torta; pode haver a formação e o acúmulo de uma substância chamada isocumarina (induzida pelo acúmulo de etileno), responsável por tornar a raiz amarga e mais lignificada (endurecida).

O excesso de água também pode aumentar a incidência de patógenos associados às perdas por podridão ou tombamento, como o Sclerotium, Rhizoctonia, Pythium, Xanthomonas e outros.

Ressalta-se, também, que embora o empoçamento possa ser prejudicial em qualquer estágio da cultura, as fases mais sensíveis à aeração inadequada do solo são a inicial e a vegetativa.

Prejuízos

Em resumo, o excesso de umidade irá comprometer a quantidade e a qualidade final das raízes, provocando alterações na sua conformação (ficam curtas, defeituosas e descoloridas). Também, o teor de açúcar diminui. A magnitude de perdas na produtividade irá depender do tempo e do estágio em que o empoçamento acontece. Dependendo, as perdas chegarão a 100%.

Créditos Shutterstock
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Manejo acertado

O ideal é cultivar cenoura em solos com textura média, leves, soltos e arejados. Solos argilosos ou arenosos não são adequados. Em solos que retêm excessivamente água, faz-se necessário efetuar drenagem ou lançar mão de algumas práticas conservacionistas que permitam o escoamento da água, como o uso de terraços em desnível.

Há que se ressaltar três aspectos: o primeiro seria a importância de se utilizar solos ricos em matéria orgânica, sendo que esta tem papel fundamental na melhoria da condições de infiltração e retenção de água no solo, entre inúmeros outro fatores relevantes; o segundo seria a característica da cultura em usar excessivamente implementos (como o encanteirador), que desestruturam o solo e favorecem a formação de uma camada compactada na subsuperfície, o que facilita o empoçamento; e por fim destaca-se a importância do uso de canteiros bem feitos, que tem como uma de suas finalidades básicas facilitar o escoamento da água do ambiente de cultivo da cenoura.

No sentido de facilitar o escoamento da água (de maneira sutil), o uso de áreas com ligeiro desnível pode ser interessante.

Como funciona

No meu entendimento, a questão aqui não é recomendar o plantio em desnível, mas sim utilizar certo desnível para facilitar o escoamento da água, evitando assim o empoçamento. Daí a preferência em se usar solos com ligeira declividade, permitindo disciplinar o volume de escoamento da água.

Solos com pequena declividade (0,5 a 2%, talvez) ainda permitem um cultivo racional, desde que sejam praticadas técnicas conservacionistas como o plantio em nível ou em contorno, o uso de terraços, a manutenção de uma cobertura vegetal, etc.

Essa matéria completa você encontra na edição de abril 2017  da revista Campo & Negócios Hortifrúti. Adquira já a sua para leitura integral.

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