Pedro Lívo Enes Rocha Cardoso
Engenheiro agrônomo e mestrando em Entomologia – ESALQ
pedrolivio11@usp.br
Rayane Cristine Moreira de Oliveira
rayane-moreira22@hotmail.com
Daiana Santos Gomes
daiana.sgomes@hotmail.com
Engenheiras agrônomas e mestras em Agricultura e Ambiente – Universidade Estadual do Maranhã (UEMA)
O tomateiro é uma cultura de maior importância econômica e social, por seu fruto estar presente na mesa do brasileiro, fazendo parte in natura em saladas e/ou processados (molhos ou temperos).
O cultivo desta hortícola, no entanto, apresenta desafios como a alta suscetibilidade a diversas pragas e doenças. Uma das pragas mais conhecidas, responsável por causar danos diretos e indiretos sobre o tomateiro, é a mosca-branca.
Características
A mosca-branca, espécie Bemisia tabaci tipo B, é considerada um inseto polífago, pois afeta várias culturas de interesse econômico além do tomate, como algodão, couve, feijão, mamão, pepino, soja, uva e mais de 750 plantas hospedeiras.
Os adultos são muito ágeis e voam a longas distâncias, auxiliados pelo vento. Realizam também voo baixo, quando migram de culturas velhas para culturas recém-transplantadas. A fêmea coloca de 100 a 300 ovos durante toda a sua vida, sendo que a taxa de oviposição depende da temperatura e da planta hospedeira.
Em estudos de laboratório, realizados com temperatura controlada (28 ± 2ºC), verificou-se que o ciclo de ovo-adulto é de aproximadamente 22,4 dias no tomateiro. A identificação da praga em campo pode ser realizada pela visualização de insetos adultos na parte inferior das folhas.
Danos
Os danos causados por essa praga podem ser diretos e indiretos. Devido ao hábito sugador do inseto, os danos diretos ocorrem pela constante sucção da seiva, que resulta em amarelecimento dos frutos e alteração na consistência da polpa.
Durante a alimentação, as ninfas e adultos do inseto excretam substâncias açucaradas, que recobrem as folhas, favorecendo a entrada de fungos oportunistas do gênero Capnodium sp. Como consequência, ocorre a diminuição da área fotossintética, prejudicando a produtividade e o desenvolvimento da cultura.
Além do dano causado pela sucção de seiva, o maior prejuízo provocado nas plantações é devido às diversas viroses que essa praga pode transmitir. No tomateiro ela é vetor do geminivírus, o qual ocasiona nanismo das plantas e folíolos com clorose internerval, evoluindo para um enrugamento das folhas terminais, levando até 100% de perda de produtividade.
Controle
Em plantas de tomateiro, a mosca-branca é considerada uma das principais pragas da cultura, e o seu controle é dificultado pelo hábito do inseto em permanecer na face inferior das folhas.
Devido às características da mosca-branca, o uso de inseticidas tem sido a base do controle desse inseto. Os inseticidas mais comuns utilizados para o controle da praga são dos grupos: organofosforados (acefato, dimetoato e malationa), carbamatos (carbusulfano e cabofurano), piretroides (bifetrina e beta-ciflutrina), neonicotinoides (acetamiprido, imidacloprido, tiametoxam), diamidas (ciatraniliprole), tiadiazinonas (piriproxifem) e butenolidas (flupiradifurona) alternados ou em misturas, além de detergentes neutros, óleo mineral e inseticidas derivados de plantas.
Para aumentar a vida útil dos inseticidas, recomenda-se a aplicação de produtos em rotação espacial ou temporal. Não é recomendado a aplicação de um só produto ou aumentar sua dose, pois isso pode favorecer a seleção de populações resistentes.
Resistência
Um dos maiores desafios do controle químico é a resistência da praga a produtos químicos. Para as espécies de Bemisia tabaci foram descritos 631 casos de ocorrência de populações resistentes em todo o mundo, sendo relatados casos de resistência a todas as principais classes de inseticidas.
Estudos recentes acerca da determinação de moléculas inseticidas que já apresentam falhas de controle no manejo de Bemisia tabaci, e apontam as moléculas imidacloprido e diafentiurônio como ainda detentoras de eficácia considerável para as populações neotropicais do inseto-praga.
As moléculas azadiractina, espiromesifeno e lambda-cialotrina foram relatadas por possuírem alta falha de controle. Uma problemática adicional é que o uso de clorantraniliprole e ciantraniliprole podem permitir a seleção cruzada de em B. tabaci, ambos diamidas com registro recente contra moscas-brancas. Esse fato exige atenção no desenho de programas de gerenciamento de seleção de populações resistentes.
Recentemente, sulfoxaflor, pertencente ao grupo das sulfoxaminas, e o ingrediente ativo flupiradifurona, do grupo das butenolidas, foram liberados para o controle de Bemisia tabaci em tomate, abrindo a gama de ingredientes ativos na rotação de inseticidas durante o ciclo da cultura.
Manejo integrado
Para um maior controle da praga, a aplicação de diversos manejos de forma simultânea é mais eficiente do que apenas de um, por isso o uso do Manejo Integrado de Pragas (MIP) é essencial para o manejo da mosca-branca.
Vale destacar que, para obter uma redução de danos em até 85% na área cultivada, o monitoramento correto é indispensável para o sucesso do manejo. No controle desta praga, deve-se considerar a suscetibilidade da cultivar ao geminivírus na área.
O manejo da praga exige medidas preventivas e curativas nas três fases do ciclo do tomate, ou seja, controle da mosca-branca na sementeira e na fase de plântula, no período crítico da cultura e após o período crítico.
No controle cultural, que é emprego de práticas agrícolas para criar um agroecossistema desfavorável ao desenvolvimento e à sobrevivência da praga, recomenda-se o plantio de mudas sadias que foram produzidas longe de áreas contaminadas pelo geminivírus e pela mosca-branca e do local definitivo de plantio.
Proteger as mudas desde a sementeira até os primeiros 30 dias após o transplante, com inseticidas registrados para a cultura, pode auxiliar na prevenção de danos ocasionados pela praga.
O uso das armadilhas nas lavouras de tomate ou nos locais onde ficam alocadas as mudas pode ser uma ótima maneira de reduzir a população de adultos de mosca-branca com a utilização de plásticos, potes de plástico ou etiquetas de coloração untadas com óleo colocados entre as plantas.
A manutenção da lavoura no limpo nos primeiros dias do estabelecimento da lavoura é imprescindível, já que muitas espécies de plantas são hospedeiras de viroses.
Alternativa promissora
O controle biológico tem se tornado uma alternativa promissora. O controle biológico da mosca-branca consiste em utilizar inimigos naturais, como predadores e parasitoides, além de patógenos que atacam essa espécie.
No grupo de predadores, foram identificadas 16 espécies das ordens Hemiptera, Neuroptera, Coleoptera e Diptera. Entre os parasitoides, os dos gêneros Encarsia, Eretmocerus e Amitus são os comumente encontrados.
No grupo de entomopatógenos, várias espécies são citadas, como: Verticillium lecanii, Aschersonia aleyrodis, Paecilomyces fumosoroseus e Beauveria bassiana. Atualmente, a espécie de fungo entomopatogênico Isaria javanica foi liberada em agosto de 2022 pelo MAPA para o uso em todas as fases da mosca-branca.
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