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Manejo de daninhas na dessecação pré-plantio

Marina Scalioni Vilela Engenheira agrônoma, mestra em Agronomia/Fitotecnia e doutoranda em Agronomia/Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)marinasv3p@gmail.com

Lais Sousa Resende Engenheira agrônoma, mestra em Agronomia/Fitotecnia e doutoranda em Agronomia/Fitotecnia – ESALQ/USPsialresende@gmail.com

Alisson André Vicente Campos Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Fitotecnia – UFLAalissonavcampos@yahoo.com.br

Plantas daninha – Crédito: Sebastião Polato

A dessecação pré-plantio ou dessecação antecipada se refere à prática de aplicar herbicidas a fim de eliminar todas as plantas daninhas e restos remanescentes de cultivos, sendo realizada antes da semeadura de determinada cultura. Em resumo, essa prática se refere à preparação do solo para receber as sementes.

 As plantas daninhas competem com a cultura principal por água, luz e nutrientes.  Assim, a dessecação pré-plantio, quando bem realizada, facilita a semeadura devido ao melhor corte da palhada e à distribuição mais uniforme das sementes, permitindo o desenvolvimento da cultura no limpo, ou seja, livre de plantas daninhas.

Dessecação pré-plantio

A dessecação pré-plantio é realizada aproximadamente 30 dias antes da semeadura da cultura para a completa ação dos herbicidas. Esse período é importante para o controle de plantas daninhas resistentes ou de difícil manejo. Dessa forma, há maior rendimento da semeadora pela facilidade de corte da palhada e uniformidade da área.

Para bons resultados, o produtor deve primeiramente identificar as plantas daninhas presentes na área a fim de direcionar o melhor herbicida a ser aplicado e quantas aplicações serão realizadas. Além disso, deve-se observar também o estádio dessas plantas daninhas. De modo geral, quanto menor a planta daninha, mais fácil será o controle.

Para a escolha dos herbicidas, é importante também considerar a seletividade para a cultura. Para o uso de herbicidas residuais, é necessário que o herbicida seja seletivo à cultura ou que o período de carência seja respeitado para que não haja o “carryover”, ou seja, fitointoxicação da cultura subsequente após a aplicação do herbicida.

Cuidados

Outros fatores a serem considerados são as condições ideais de aplicação e o uso da tecnologia de aplicação. Para a aplicação, deve ser respeitada a umidade relativa de no mínimo 55%, velocidade do vento de 3 a 10 km/h e temperatura do ar de no máximo 30°C.

O vento pode influenciar a qualidade da aplicação devido ao arraste das gotas. A temperatura e a umidade influenciam principalmente a evaporação das gotas. Já a tecnologia de aplicação se refere ao conjunto de práticas para que o produto chegue corretamente ao alvo sem que haja deriva e contaminação ao ambiente e ao homem.

Para isso, o pulverizador deve ser regulado adequadamente. Um ponto importante nesse caso é o uso de herbicidas de contato que demandam boa cobertura do alvo para sua ação e pontas adequadas na aplicação.

Estratégias

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Em áreas onde havia uma cultura antecessora é mais simples realizar a dessecação pré-plantio. Isso se deve ao fato de que herbicidas e outros manejos foram adotados anteriormente no decorrer do cultivo. No caso de áreas de pousio, essa prática é mais complexa, pois haverá provavelmente maior infestação e plantas de maior porte.

Nesse caso, uma estratégia a ser adotada são as aplicações sequenciais (duas ou mais aplicações antes do plantio) para alcançar melhor resultado no campo.

A aplicação sequencial também é uma alternativa para o manejo de plantas daninhas de difícil controle e plantas daninhas resistentes. Para isso, deve-se realizar a aplicação do produto sistêmico seguida de produto de contato, normalmente em associação com produtos e sempre buscando a rotação de mecanismos de ação.

Em relação ao cultivo da soja na primeira safra, os produtos aplicados na dessecação pré-plantio devem estar de acordo com as plantas daninhas alvos predominantes na área. Porém, sempre deve-se realizar a aplicação do produto sistêmico primeiro e somente cerca de oito a 15 dias após aplica-se o produto de contato, respeitando o prazo para que se possa realizar o plantio da soja com segurança e sem riscos de fitotoxicidade para a cultura.

Normalmente a segunda aplicação é realizada no dia da semeadura da soja, ou um dia antes, com produtos que possuem efeito residual.

Combinação

Visando o controle de capim-amargoso e buva, as principais plantas daninhas dos sistemas de produção, pode-se utilizar a associação de glifosato + cletodim (ou outro herbicida inibidor da síntese da ACCase) ou S-metolacloro (pré-emergente) (produto sistêmico), isolados ou associados.

Na segunda aplicação pode-se aplicar glifosato + saflufenacil, glifosato + 2,4-D (no caso da soja transgênica tolerante a glifosato). Deve-se atentar, também, para o tipo de formulação para evitar a incompatibilidade entre os produtos.

Outra opção para a segunda aplicação sequencial seria o uso de herbicidas pré-emergentes com efeito residual e seletivos para a cultura. É importante que seja feita a rotação de mecanismos de ação nesse tipo de prática e também testes de compatibilidade das misturas.

Dependendo da eficácia de controle das duas primeiras aplicações sequenciais, a terceira aplicação pode ser necessária, entre os estádios V2 a V5. Nessa aplicação, pode-se associar o glifosato com algum herbicida pré-emergente.

Na segunda safra com milho em sucessão após o cultivo de soja, para evitar os efeitos de “carryover” de herbicidas, deve-se atentar para os herbicidas utilizados na dessecação pré-colheita da soja e no seu efeito no milho, haja vista que a janela de plantio para a segunda safra é menor. 

Além disso, é ideal que o manejo de plantas daninhas na cultura anterior seja realizado de forma eficiente para que o milho de segunda safra seja implantado no limpo.

Benefícios

A dessecação pré-plantio possibilita melhor plantabilidade das culturas, proporcionando corte otimizado da palhada e manutenção do estande de plantas. Além disso, as plantas daninhas e restos da cultura antecessora podem ser hospedeiros de pragas e doenças, servindo de ponte verde para a cultura principal.

Assim, a cultura de interesse livre da competição por luz, água e nutrientes com outras plantas indesejáveis possui como principal benefício a manutenção das altas produtividades.

Sem obstáculos à produtividade

As plantas daninhas possuem características de agressividade e competitividade. Além da competição por recursos essenciais à cultura principal, estas podem reduzir a qualidade da semeadura, reduzir a qualidade dos grãos e, posteriormente, dificultar a colheita.

Os prejuízos devido à ocorrência de plantas daninhas na área variam de acordo com o grau de infestação. Portanto, o manejo de plantas daninhas para a semeadura no limpo é de extrema importância para o pleno desenvolvimento da cultura de interesse.

Assim, em áreas com o correto manejo de plantas daninhas é possível alcançar o máximo potencial produtivo da cultura, pois ela estará livre de competição com outras plantas indesejáveis.

Custo

A dessecação em pré-plantio na cultura da soja corresponde a um pequeno percentual do custo de produção, 4,4%, em comparação com outros custos. Porém, o manejo de plantas daninhas é essencial, uma vez que podem ocorrer reduções de até 40% na produtividade.

Estudos realizados por Lorenzeti et al., 2018, indicaram que a presença de 1,0 buva m-2 reduziu a produtividade da soja em 14%, ou seja, 9,4 sacas ha-1. A seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes vem encarecendo o custo de controle, principalmente com resistências cruzadas e múltiplas, com a safra 2020/21 correspondendo a cerca de 20,2% dos custos com defensivos para a cultura da soja, segundo estimativas do IMEA, 2021.

Os herbicidas corresponderam a 59,6% do mercado nacional de agroquímicos no ano de 2020, demonstrando significativa participação no agronegócio brasileiro.

Investimento x retorno

O manejo da dessecação pré-plantio é um importante trato cultural realizado nas lavouras, principalmente na soja, que deve ser conduzida “no limpo” por apresentar um curto período de convivência com as plantas daninhas (PCPI), no máximo de 18 dias.

Plantas daninhas de difícil controle devem ser manejadas em estádios fenológicos iniciais, pois seu controle é facilitado. Plantas como a buva reduzem a produtividade da soja em até 9,0 sc/ha para cada planta por m-2

Além de evitar a competição das plantas daninhas por recursos importantes como água, nutrientes e luz, a dessecação pré-plantio pode auxiliar na redução das plantas que são hospedeiras para pragas durante o período da entressafra, atacando as lavouras nas fases iniciais.

Outro aspecto positivo da palhada produzida pela dessecação é a proteção do solo contra ação da chuva, manutenção da temperatura e umidade, que melhoram as condições para emergência das sementes. O controle eficaz das plantas daninhas deve ser um dos principais objetivos do produtor, evitando que produtividade seja afetada, uma vez que ela irá contribuir diretamente para as receitas da propriedade agrícola, podendo atingir produtividades próximas de 70 sacas ha-1.

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