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Manejo do cultivo de escarola em hidroponia

O manejo correto do cultivo de escarola em hidroponia pode aumentar a produtividade e melhorar a qualidade do produto final.

Rafael Campagnol
Doutor em Fitotecnia e professor – Universidade Federal de Mato Grosso (Unemat)
rafcampagnol@hotmail.com
Ricardo Toshiharu Matsuzaki
Mestre em Fitotecnia – ESALQ/USP e especialista em cultivo protegido
ricardotmatsuzaki@gmail.com

A escarola (Cichorium endívia L.), também conhecida como endívia, é uma espécie de hortaliça folhosa da família Asteraceae, a mesma das alfaces, e do gênero Cichorium, do qual também pertencem às chicórias e almeirões.
Por causa dessa proximidade botânica, essas verduras são muito semelhantes ao gosto amargo de suas folhas, sendo muitas vezes difícil diferenciá-las, apesar da escarola apresentar um amargor mais suave em relação às suas “parentes”.

Características

As plantas produzidas em hidroponia geralmente são colhidas inteiras
Crédito: Tropical Estufas

A escarola é usada principalmente na preparação de saladas (crua) ou na forma cozida, podendo integrar diferentes pratos, com sopas, massas, assados (tortas e salgados) e até mesmo pizzas.
É considerada um alimento rico em fibras, nutrientes e vitaminas A, B1, B2, C, D e E. Também é fonte de minerais como ferro, potássio, cálcio e fósforo. Por possuir quantidades significativas de compostos bioativos, como carotenoides, flavonoides e compostos fenólicos, apresenta diversos benefícios antioxidantes ao organismo.

Oferta e demanda

Sua produção e comercialização no Brasil não alcançam as mesmas dimensões da alface ou mesmo da chicória, sendo, na maioria das regiões, considerado um produto para nichos de mercado.
As principais localidades que enviam escarola para o entreposto da CEAGESP em São Paulo são Arujá, Atibaia e Biritiba Mirim. Contudo, seu cultivo em hidroponia é realizado em diversas outras regiões do Brasil.

Cultivo hidropônico

As principais vantagens do cultivo hidropônico de escarola em relação ao tradicional, feito no solo, são:
1) Maior controle da nutrição das plantas, reduzindo o ciclo de cultivo, torna as plantas mais resistentes às pragas e doenças e aumenta o tempo de prateleira;
2) Suas folhas são mais limpas, facilitando sua higienização;
3) São comercializadas com raízes, o que também contribui para sua maior conservação pós-colheita;
4) Como são produzidas geralmente em estufas agrícolas, não há molhamento foliar, o que reduz a incidência de doenças e, consequentemente, o uso de defensivos químicos; e
5) Apresentam maior valor agregado, proporcionando uma maior rentabilidade por área.

Cuidados

As exigências climáticas e nutricionais da escarola são semelhantes às da alface, chicória e almeirão. Muitos produtores cultivam essa hortaliça nos mesmos perfis usados para alface e utilizam a mesma solução nutritiva.
Entretanto, alguns cuidados especiais devem ser tomados. As escarolas apresentam com mais frequência problemas de queima de bordas, assim como ocorre em algumas cultivares de alface. Essa situação se agrava quando o ambiente está quente e úmido, situação que interfere na absorção e distribuição de cálcio e boro nas plantas.
Para contornar esse problema, muitos produtores hidropônicos utilizam solução nutritiva específica para escarola, que geralmente é a mesma usada para alface, mas com uma concentração maior de cálcio e boro. Ou fazem a aplicação desses nutrientes por pulverizações foliares.

Alerta para a temperatura

Outro ponto importante para reduzir a incidência de queima das bordas é evitar o aquecimento do ambiente e da solução nutritiva, situação que ocorre com frequência na hidroponia em diversas regiões do Brasil.
Dessa forma, as estufas devem ser bem ventiladas e preferencialmente com pé-direito alto, maior que 3,5 m. Além disso, o sistema hidropônico deve ser bem dimensionado, com perfis não muito longos (menores que 10 m) e com uma inclinação mínima de 5%. Lembrando que quanto mais tempo a solução nutritiva permanece nos perfis, mais ela aquece.
Os reservatórios de solução também devem ser bem dimensionados. Um índice bastante usado pelas principais empresas do setor para dimensionamento dos reservatórios é o volume de solução nutritiva por planta.
Para escarola e plantas de porte semelhante (porte médio), como as alfaces e chicórias, recomenda-se entre 0,3 e 0,5 litros por planta para fase de berçário e entre 1,0 e 2,0 litros por planta para fase de crescimento final.
Os maiores valores devem ser usados para regiões de clima mais quente. Dessa forma, um reservatório de 5.000 litros deve abastecer um setor da hidroponia que comporta, na fase de crescimento final, entre 2.500 a 5.000 plantas.
Esse correto dimensionamento é de grande importância para reduzir o aquecimento da solução e evitar que ocorram grandes variações na sua condutividade elétrica e pH.

Fitossanidade

Dentre as principais pragas e doenças da escarola, destacam-se o Pythium e as lagartas. Contudo, outras pragas e doenças também podem ocorrer nessa cultura. A eliminação total do Pythium do sistema é muito difícil de ser feita. Por isso, os produtores hidropônicos devem aprender a manejar seu sistema para evitar que a incidência dessa doença evolua e prejudique economicamente sua produção.
Os principais cuidados e recomendações para o controle de Pythium são:
1) Evitar o aquecimento da solução nutritiva. O correto dimensionamento do sistema hidropônico, como comentado anteriormente, é fundamental para reduzir problemas com Pythium. As tubulações de abastecimento e recolhimento da solução devem ser preferencialmente enterradas. Os reservatórios devem ser colocados em ambientes frescos e ao abrigo da luz solar;
2) Realizar a limpeza frequente do sistema com o uso de agentes sanitizantes;
3) Usar água de qualidade, isenta de doenças e algas;
4) Evitar a incidência de luz na solução nutritiva, pois isso pode contribuir para a formação de algas, que por sua vez, intensifica os problemas com essa doença;
5) Evitar situações que danifiquem o sistema radicular das plantas, como lesões no processo de transplante de mudas e transferência de plantas entre perfis;
6) Evitar a desidratação acentuada das raízes das plantas, o que pode ocorrer quando há interrupção do fornecimento de solução por muito tempo;
7) Evitar a entrada de solo ou restos de cultura nos reservatórios, pois eles podem conter inóculos de doenças, inclusive de Pythium;
8) Fazer o uso de defensivos biológicos, como Trichoderma harzianum, Bacillus subtilis ou outro produto biológico com ação comprovada contra Pythium.

Chicória frizze

Problema recorrente

A incidência de lagartas, por sua vez, tem sido apontada por muitos produtores como um problema recorrente na produção hidropônica de escarola. Seu controle pode ser feito de diversas formas, como:
1) Isolamento da área com o uso de telas para evitar ou reduzir a entrada do inseto adulto e, consequentemente, sua oviposição nas plantas;
2) Aplicação de defensivos químicos. O uso desses produtos deve ser muito bem avaliado e aplicado somente quando necessário, respeitando as recomendações de uso (cultura indicada e dose) e o período de carência.
3) Uso de defensivos biológicos e naturais. Esses produtos devem ser usados em preferência aos defensivos químicos. Muitas lagartas são facilmente controladas com o uso, por exemplo, de Bacillus thurigiensis;
4) Retirada de plantas daninhas. Muitas dessas plantas podem hospedar pragas e doenças que incidem na escarola, inclusive as lagartas.

Colheita

O ciclo de cultivo da escarola leva de 50 a 80 dias após a semeadura, dependendo das condições de cultivo, material genético, nutrição e padrão de planta desejada para comercialização.
As plantas produzidas em hidroponia são geralmente colhidas inteiras, com sistema radicular, e embaladas em sacos plásticos tipo cone, semelhantes aos usados para alface hidropônica. Essa é uma das principais diferenças em relação ao cultivo tradicional, onde as raízes são deixadas no campo. Alguns produtores hidropônicos também comercializam as folhas individualizadas, ou seja, as plantas são direcionadas ao barracão de beneficiamento, onde ocorre a desfolha, limpeza, higienização e embalamento, que pode ser em badejas plásticas rígidas ou em sacos plásticos transparentes lacrados.

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