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Manejo integrado de solos é a nova revolução verde

Autores

Ricardo Bemfica Steffen
Doutor em Ciência do Solo e pós-doutor em Manejo Biodinâmico do Solo
agronomors@gmail.com
Gerusa Pauli Kist Steffen
Doutora em Ciência do Solo e pesquisadora do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul (SEAPDR)
Artur Fernando Poffo Costa
Engenheiro agrônomo
Crédito: Shutterstock

O rendimento das culturas está diretamente relacionado aos fatores planta, clima e solo que, de forma integrada, definem os potenciais de cada cultura em determinado local. Estes fatores devem ser observados, estudados e trabalhados eficientemente, visando à redução das condições que influenciam, de forma negativa, o desenvolvimento das culturas.

Sobre o fator planta, os itens a serem conhecidos e manejados são: acompanhamento do estado nutricional, capacidade de absorção, translocação e assimilação de nutrientes, rusticidade, adaptabilidade e plasticidade, relação fonte-dreno, competição, pragas e doenças, potencial genético, arquitetura foliar, poder de sucção radicular e alelopatias.

Sobre o fator clima, os itens a serem conhecidos e manejados são: temperatura, balanço de energia, albedo, amplitude térmica, CO2 atmosférico, balanço hídrico, evapotranspiração, pressão atmosférica, umidade relativa e velocidade do vento.

Então, conhecendo os fatores acima citados, compreende-se que o fator solo apresenta-se como determinante para altas produtividades. Os pilares químico, físico e biológico dos solos condicionam a funcionalidade do sistema produtivo. Dentro deste fator, a química do solo, amplamente conhecida, fundamenta-se no manejo das condições de capacidade de troca de cátions e ânions, reatividade do solo, composição mineral (fertilidade natural), disponibilidade de nutrientes (biodisponibilidade), presença de elementos tóxicos (moléculas) e metais pesados, matéria orgânica (teor e qualidade), reações de sorção, precipitação e oxirredução, lixiviação, salinidade e poder de tamponamento.

Neste contexto, a física do solo também determina produtividades por meio dos fatores densidade do solo, condutividade hidráulica, capilaridade/absorção, porosidade (graus de floculação e dispersão), plasticidade, estabilidade dos agregados, textura, composição dos horizontes e relevo.

Por fim, o pilar biológico necessita ser melhor compreendido a fim de elaborarmos manejos adequados levando-se em consideração o conhecimento quanto à pressão de CO2 na rizosfera, composição do rizoplano, simbiose rizosférica, taxa de mineralização, composição da fauna edáfica (micro, meso e macrofauna), flutuação microbiana (atividade sazonal), biodiversidade microbiana, atividade enzimática e disponibilidade de matéria orgânica (taxa de degradação).

O conhecimento destes fatores biológicos é fundamental para a compreensão do complexo sistema produtivo e tomada de decisões perante eventuais ajustes a serem realizados. Estes fatores atuam em conjunto com os fatores planta e clima e são fundamentais para o alcance de altas produtividades.

Condições brasileiras

Geralmente, no Brasil e nos demais países, as maiores produtividades são obtidas em sistemas de produção em que as características do local são propícias para determinada cultura e os manejos adotados estão fundamentados no ajuste “fino” (principalmente em termos nutricionais e biológicos), os quais determinam altos rendimentos. 

Não por coincidência, os atuais recordes de produtividades de grãos observados, principalmente em áreas de cultivo em clima tropical, estão associados a manejos onde a reposição de nutrientes no solo faz-se via utilização de fontes orgânicas ou organominerais. Do mesmo modo, estes manejos adotam rotações de culturas eficientes, utilizando plantas de cobertura específicas para o zoneamento climático e com ações comprovadas quanto à descompactação do solo, redução de pressão de patógenos e sinergismo entre plantas de cobertura e as culturas de grãos, frutos e fibras.

Atualmente, as propriedades mais eficientes quanto à produtividade adotam manejos complexos, baseados no conhecimento sobre as questões sanidade, luminosidade, genética, nutrição e disponibilidade de água, focando em ajustes quanto às interações biológicas no solo, a fim de estabelecer um ecossistema agrícola eficiente e sustentável. Nestes ambientes, a presença de organismos bioindicadores de qualidade do solo passou a ser evidenciado e monitorado.

Recentemente pesquisas em solos citaram a chamada “década de ouro da microbiologia do solo”. Hoje o Brasil vive a chamada “nova revolução verde”, fazendo referência à conscientização e adoção crescente das novas tecnologias baseadas na utilização de microrganismos em prol de uma agricultura altamente técnica e eficiente.

Inúmeras pesquisas demonstram que o equilíbrio da vida no solo é fundamental para o aporte de nutrientes e a produtividade das mais variadas culturas agrícolas. Há um consenso entre a comunidade científica: “o modelo de agricultura atual está equivocado quanto à utilização de insumos”. Aliado a isso, os modelos de sucesso estão intimamente ligados ao manejo e incremento das interações biológicas e dos balanços e equilíbrios nutricionais e hormonais nas plantas.

A agricultura convencional, praticada desde a “antiga” revolução verde, representa certo grau de desorganização do sistema, mesmo que utilize práticas eficientes de conservação do solo.

Inevitavelmente, os cultivos agrícolas resultam em desbalanços nutricionais, devido à formação de zonas de concentração e absorção de nutrientes, deposição de sais próximo ao sistema radicular, desequilíbrios biológicos, devido à seleção de organismos e microrganismos provocados pela limitação da diversidade da flora presente em determinado ecossistema e, principalmente, desordem fisiológica nas plantas, resultando, na maioria dos casos, na necessidade de utilização de insumos externos para manutenção dos ciclos produtivos.

Pelo exposto, observa-se que estudos sobre manutenção da atividade microbiana nos solos e sua consequente resposta em produtividade vegetal são relevantes e fundamentais para a compreensão dos processos biogeoquímicos envolvidos no cultivo de plantas. Não há dúvidas de que a fertilidade biológica dos solos agrícolas é um patamar que pode ser conquistado. Mais do que isso, a busca pela manutenção da fertilidade biológica dos solos representa um caminho sem volta, por consistir em uma ferramenta sólida e eficiente de manejo, visando ampliar o estímulo ao desenvolvimento vegetal e, consequentemente, a produtividade sustentável.

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