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Manejo integrado: fosfitos contra doenças fúngicas do cafeeiro

Crédito: Viveiro Monte Alegre

Manoel Batista da Silva Júnior
mjunior_agroufla@yahoo.com.br
Acleide Maria Santos Cardoso
acleidecardoso@gmail.com
Doutores em Fitopatologia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)

As principais doenças do cafeeiro são a ferrugem, a cercosporiose, a mancha de phoma, a mancha aureolada e as aquelas causadas por nematoides. A ferrugem, a cercosporiose e a mancha de phoma são causadas por fungos e resultam em intensos danos à parte aérea do cafeeiro.

A ferrugem, causada pelo fungo Hemileia vastatrix, ocorre em todas as regiões produtoras de café do mundo e provoca danos a nível de campo. Os sintomas são a presença de pústulas de coloração amarelo alaranjada de formato irregular observadas na face inferior das folhas.

Na face superior, incialmente se observam manchas cloróticas amarelas que evoluem para necrose em estádios mais avançados, resultando em desfolha (Figura 1). Se a desfolha ocorrer antes do florescimento, pode interferir no desenvolvimento dos botões e na frutificação, consequentemente afetando a produção.

Danos

Nas pústulas se encontram os uredósporos ou urediniósporos, inóculo inicial do patógeno que pode ser disseminado pelo vento, associado ou não a chuvas/irrigação, resultando em infecção de novas folhas ou plantas.

As condições favoráveis à doença são temperaturas entre 22 e 26°C (favoráveis à germinação dos uredósporos), alta carga pendente na lavoura, plantios adensados, molhamento foliar e deficiências nutricionais.

A alta carga pendente faz as plantas direcionarem todas as reservas das folhas para os frutos, assim, as folhas ficam mais suscetíveis ao ataque do fungo. Os plantios densos causam maior sombreamento e maior retenção da água na superfície foliar, favorecendo a germinação dos uredósporos.

Já as deficiências nutricionais impedem que a planta forme adequadamente as barreiras de defesa, como camada de cera e formação de compostos fenólicos tóxicos aos patógenos, reduzindo assim a imunidade basal das plantas.

Os principais danos do ataque da doença são a desfolha, redução na fotossíntese, seca dos ramos e redução na longevidade das lavouras, caso a doença não seja controlada ao longo das safras. As perdas podem alcançar até 50% na produção.

A cercóspora

A cercosporiose é causada por Cercospora coffeicola, que pode atacar tanto plantas adultas no campo quanto mudas no viveiro. Os sintomas da doença nas folhas são lesões necróticas de coloração castanha, com centro claro, circundadas ou não por um halo amarelado.

Ao evoluírem, estas lesões levam à queda das folhas. Nos frutos podem ser observadas lesões elípticas de coloração castanho-escuro deprimidas devido à aderência da casca ao fruto (Figura 2).

Nas lesões encontram-se os conidióforos, estruturas onde são formados e liberados os conídios, que são os esporos do fungo. Estes esporos são disseminados por vento associado ou não à água de chuva ou irrigação e infectam folhas e frutos sadios.

A doença é favorecida por temperaturas de 10 a 25°C, plantios espaçados, molhamento foliar e deficiências nutricionais. Com exceção do espaçamento dos plantios, as outras condições são as mesmas, que favorecem também a ferrugem.

No caso da cercosporiose, o fungo utiliza uma toxina chamada cercosporina, que é ativada pela luz e é necessária para que ocorra a infecção. Sendo assim, os plantios adensados desfavorecem a manifestação da doença.

Esta doença pode causar desfolha e raquitismo de mudas no viveiro. O avanço no tamanho das lesões causadas pelo fungo leva à desfolha nas mudas, com consequente redução da fotossíntese, atrasando assim o seu desenvolvimento.

No campo ocorre seca de ramos, queda de frutos, depreciação da bebida e desfolha. Ataque severo do fungo nos frutos pode induzir a queda e a aderência do pergaminho à casca, dificultando o descascamento e favorecendo fermentações indesejáveis por outros fungos, o que origina cafés de qualidade inferior.

As perdas podem chegar à redução de 30% na produtividade do cafeeiro e a falta de controle da doença ao longo dos anos pode reduzir a longevidade da lavoura.

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Phoma

A mancha de phoma (Phoma tarda, P. costarricencis e outras) acomete o cafeeiro em condições de viveiro e de campo. Os sintomas da doença ocorrem mais em folhas novas, iniciando nas bordas do limbo foliar e são caracterizados por lesões foliares necróticas de formato irregular, circundadas ou não por um discreto halo amarelado, podendo ter ou não anéis concêntricos e causar rasgaduras nas folhas (Figura 3).

A desfolha também pode ser observada. Chumbinhos atacados adquirem colocação escura e os ramos secam e ficam cobertos por pontuações escuras, os picnídios.

Nos picnídios são formados os esporos (conídios) do fungo e estes são disseminados pelo vento associado a chuvas ou irrigação. Esta doença tem como condições favoráveis os plantios em altitudes superiores a 900 metros, com faces expostas a ventos frios e temperaturas próximas de 18 a 20°C.

Nessas condições ocorre maior germinação dos conídios e o vento frio é capaz de abrir ferimentos nos órgãos sadios, que são porta de entrada do patógeno. O desbalanço nutricional também pode favorecer a doença.

Os principais danos decorrentes da doença são a desfolha, queda e mumificação de flores e chumbinhos, seca e morte de ponteiros. Estes danos são mais severos durante a pré e pós-florada e o controle da doença é direcionado a estas épocas. As perdas causadas pela mancha de phoma variam de 15 a 43% na produção.

O que fazer?

Apesar de existirem no mercado cultivares com resistência à ferrugem, a maioria do parque cafeeiro é formada por cultivares suscetíveis, como Catuaí, Mundo Novo e Topázio, que são as preferidas pelos produtores.

Desse modo, o controle destas doenças é realizado, na maioria dos casos, por meio do controle químico. Até a década de 60 os produtos à base de cobre eram os únicos produtos utilizados no manejo de doenças do cafeeiro.

A partir de então, foram introduzidos os fungicidas sistêmicos como os triazóis e as estrobilurinas e estes passaram a ser praticamente os únicos produtos utilizados. Como estes produtos apresentam modo de ação específico, há riscos da sua utilização constante sem rotação com outros ingredientes, uma vez que seu uso constante pode trazer riscos, como o aparecimento de populações resistentes dos patógenos.

Fosfitos

Sendo assim, há a necessidade de se introduzir novas ferramentas para o manejo das doenças do café. Dentre os produtos disponíveis no mercado, destacam-se os fosfitos, promissores no manejo de doenças de plantas pois, além da nutrição e ativação dos mecanismos de resistência latentes das plantas, eles também agem por toxidez direta ao fungo (Dalio et al., 2012).

Outra característica dos fosfitos está ligada ao seu custo reduzido, quando comparado ao dos fungicidas químicos que são frequentemente utilizados. Estes produtos são obtidos pela reação de uma base forte (hidróxido de potássio, cálcio, manganês, etc.) com o ácido fosforoso, resultando em fosfitos de potássio, cálcio e manganês.

Outro produto que pode ser obtido dessa forma é o fosfonato, que difere do fosfito por ter em sua composição um radical orgânico como etil, propil, entre outros, e sua nomenclatura é dada como etilfosfonato de potássio, de cobre dentre outros (Figura 4).

Ação

Fosfitos e fosfonatos podem atuar tanto ativando os mecanismos de defesa das plantas, nutrindo as mesmas, como por toxidez direta ao patógeno. A ativação de defesa ou indução de resistência ocorre devido ao fósforo, na forma de fosfito, não ser assimilado pela planta.

Isso significa que a planta não tem enzimas capazes de converter esta molécula para a forma de fosfato, que pode ser incorporada em compostos úteis ao crescimento e desenvolvimento vegetal, como os ácidos nucleicos e a adenosina trifosfato (ATP).

Desse modo, o fornecimento do fosfito promoverá um estresse na planta que pode estimular a formação de espécies ativas de oxigênio, lignina, fenóis e enzimas que irão atuar inibindo o desenvolvimento do patógeno nas células vegetais.

A nutrição das plantas quando são aplicados os fosfitos ocorre pelo fornecimento do nutriente que acompanha o fosfito, como o potássio, o cálcio, entre outros. O fósforo que constitui o fosfito, como comentado, não é nutricional.

A toxidez direta ao patógeno ocorre pelo rompimento das hifas dos fungos, que compromete o crescimento do patógeno e a colonização da planta (Figuras 5 e 6). Além disso, outra grande vantagem destes produtos é a sua sistemicidade via xilema e floema, que permite que estes produtos possam ser utilizados no manejo de doenças foliares e de solo.

Pesquisas

Alguns trabalhos de pesquisa já conduzidos mostram a eficiência destes produtos no manejo de patógenos na cultura do café. De acordo com Silva Júnior et al. (2018), a aplicação foliar de fosfito de manganês associado a um fertilizante foliar à base de macro e micronutrientes promoveu controle da mancha de phoma em mudas de café.

Estes produtos promoveram ainda aumento na taxa fotossintética e incremento na atividade da enzima fenilalanina amômia liase (FAL), que atua na defesa da planta (Figura 7). Vasconcelos (2019) verificou que a aplicação de etilfosfonato de cobre, associado aos fungicidas boscalida, fosetil-Al e iprodiona, incrementou o controle da mancha de phoma do cafeeiro em condições de campo, para as duas safras avaliadas de forma superior aos fungicidas aplicados isoladamente.

Houve redução na mumificação de chumbinhos, na desfolha e foram promovidos incrementos na produtividade. A aplicação do etilfosfonato de cobre (EFCu) combinada com os fungicidas testados no manejo da mumificação de chumbinhos promoveu o controle de 77% para a safra 2017/18 e de 100% para a safra 2018/19. Para a produtividade, verificou-se um acréscimo de até 13 sc/ha em relação à testemunha (Figura 8).

Monteiro et al. (2016) verificaram que uma formulação de fosfito de manganês promoveu controle da ferrugem em mudas de café e ativou a expressão de genes relacionados à defesa do cafeeiro contra Hemileia vastatrix (Figura 9).

Já em condições de campo, Ribeiro Júnior (2008), observou que em ano de alta produtividade do cafeeiro e com maior intensidade da ferrugem e da cercosporiose, a aplicação de fosfito de potássio, manganês e zinco, foi capaz de reduzir a desfolha em 44%, quando comparado à testemunha.

Costa et al. (2014) observaram que o fosfito de manganês controlou a severidade da cercosporiose em duas safras consecutivas, além de promover incrementos na produtividade e na retenção foliar das plantas. Quando o fosfito foi associado ao fungicida comercial, houve aumento na produtividade do cafeeiro em ano de safra alta (Figura 10).

Prevenção

Assim, a aplicação do fosfito no cafeeiro deve ser realizada de forma preventiva, principalmente pelo seu modo de ação. O ideal é associar este produto às aplicações de fungicidas, visando maior facilidade e redução nos custos operacionais, visto que o produtor já terá que, obrigatoriamente, aplicar os fungicidas.

Além disso, a aplicação conjunta dos dois produtos resulta em maior controle da doença, além de evitar ou atrasar o surgimento de populações resistentes do patógeno. A dose a ser aplicada deve seguir a recomendação do fabricante, podendo ser encontradas recomendações de 1,0 até 3,0 L/ha, dependendo do produto e da empresa fabricante.

As aplicações associadas às de fungicidas deverão ser realizadas, portanto, na pré e pós-florada para o manejo da mancha de phoma e em duas (nov/dez e fev/mar) ou três (nov, jan, mar) aplicações para o controle da ferrugem e da cercosporiose.

Custo

O custo dos fosfitos é bem variável, sendo encontrados no mercado produtos com custo de R$ 20,00 a 60,00 em média por litro. Um ponto importante a se ressaltar é que o custo mínimo de produção do fosfito gira em torno de R$ 20,00.

Portanto, formulações com custo menor que este devem ter atenção especial, pois muito provavelmente não irão atender a expectativa do produtor. O preço destes produtos é bem menor, se comparado aos fungicidas e sua introdução não irá onerar tanto os custos de produção, se realizado de forma eficaz. Considerando como exemplo um fosfito que custa R$ 45,00 o litro e com recomendação de aplicação de 2,0 L/ha:

Teremos um custo (2,0L x 45 reais) de R$ 90,00 por hectare por aplicação. Considerando que serão realizadas cinco aplicações para o manejo de todas as doenças fúngicas, teremos um custo total por safra de R$ 450,00. Este valor equivale de 0,3 a 0,4 saca de café beneficiado.

Considerando apenas o manejo da ferrugem e da cercosporiose, o custo do fungicida será de R$ 270,00 por hectare (três aplicações), considerando como exemplo o fungicida epoxiconazol + piraclostrobin, que custa em torno de R$ 90,00 o litro e deve ser aplicado três vezes na dose de 1,5 L/ha.

Já o custo do mesmo fosfito utilizado no exemplo anterior nos dá um custo de R$ 135,00 por aplicação e R$ 405,00 por safra. Neste caso, vemos que o custo é bem menor que o do fungicida.

Viabilidade

Conforme citado no trabalho de Vasconcelos (2019), o incremento chegou a 13 sacas beneficiadas por hectare. Considerando a cotação de R$ 1.300,00 uma saca beneficiada e um incremento de 5,0 sacas utilizando o fosfito ou fosfonato, haverá um ganho de R$ 6.500,00 e um custo de R$ 400,00, considerando o custo do etilfosfonato de cobre utilizado no trabalho.

Dessa forma, o lucro é de R$ 6.100,00 por hectare utilizando o produto apenas na pré e pós-florada. Mas, mesmo que o produtor opte por utilizar o produto nas cinco entradas para manejo das doenças, haverá um lucro de R$ 4.500,00.

Portanto, os fosfitos podem ser utilizados no manejo de doenças do cafeeiro e são uma boa ferramenta para o produtor. Considerando os riscos de surgimento de populações resistentes do patógeno aos fungicidas já utilizados, estes produtos se apresentam como um bom reforço aos químicos.

Além disso, estes produtos apresentam baixo custo e, se utilizados de forma racional, não irão onerar os custos de produção e trarão lucro aos produtores.

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