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Mês da Mulher: o lugar delas é no agronegócio brasileiro

O setor emprega mais de 10 milhões de pessoas e a participação feminina cresce a cada ano.

Lugar de mulher também é no agronegócio. Um ambiente profissional antes majoritariamente masculino já conta com muitas profissionais femininas em várias áreas e as conquistas pelos mais diversos espaços continuam aceleradas. Essa evolução vem sendo comprovada ano a ano dentro de um setor de grande relevância no PIB e na economia do país.

Hoje, elas atuam na tecnologia; pesquisas genéticas; sistemas; mecanização; gestão; logística, finanças; negócios, comércio; consumo entre outras áreas. Espaços conquistados e caminhos sem volta. Uma luta pelo fim do preconceito de gênero na ocupação de cargos antes “masculinos” e pela equiparação salarial.

De acordo com um estudo de 2020, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em conjunto com a Embrapa e o IBGE, as mulheres administram 30 milhões de hectares no Brasil, ou seja, 8,5% da área total ocupada pelos estabelecimentos rurais no país.

O agronegócio foi o segmento que mais cresceu durante a pandemia da Covid-19. O setor emprega mais de 10 milhões de pessoas e representa cerca de 26% do PIB total. Ou seja, mais de um quarto do que é produzido, e gera riqueza para o país, vem desse setor. Conforme a Organização Internacional do Trabalho, 40% da mão de obra agrícola em países em desenvolvimento é feminina. No Brasil, cerca de 1 milhão de mulheres encabeçam trabalhos no campo, segundo o Sebrae.

Característica
Mulheres que trabalham na Perfect Flight, a primeira e mais completa plataforma de gestão e rastreabilidade de pulverização aérea do mundo, comentam que a sensibilidade é uma característica feminina ainda dentro de uma estrutura machista de sociedade, mas que isso serve como diferencial e ajuda no crescimento e atuação no trabalho agro.

“Trabalho em uma empresa que tem na sensibilidade um dos seus diferenciais. Por isso, hoje, em muitas vagas, são colocadas como preferência a contratação de mulheres”, diz Geovana Olim, líder de qualidade do produto da Agtech.

Já Gabriela Adegas Takiguti, coordenadora de Programas Comerciais, da mesma corporação, acha que isso pode contribuir de diversas formas. “Apesar do agronegócio ser automaticamente associado à produção, no fim, tudo se trata de pessoas. Em cada etapa e local do processo produtivo, existe um grupo de seres humanos atuando em conjunto. A sensibilidade das mulheres é o que muitas vezes traz o equilíbrio e a colaboração nesses ambientes. Não apenas a sensibilidade em si, mas o sentimento de ‘cuidar’ é algo inato para nós. Algumas áreas dentro do agronegócio, de certa forma exigem isso, como no caso da sustentabilidade, que envolve o cuidar do meio ambiente, das pessoas e dos recursos, sem que a qualidade do que está sendo feito seja perdida”, afirma.

Visão estratégica, oportunidade, afinidade com o mercado em expansão e possibilidade de crescimento profissional foram pontos apontados pelas trabalhadoras para a escolha de atuação nessa área.

Geovana Olim, primeira à esquerda, destaca a sensibilidade das mulheres no agronegócio
Divulgação

Geovana Olim mora na região Centro-Oeste e não teve dificuldade em escolher onde atuar. “O agronegócio é muito forte aqui. Moro nessa região e vi que as oportunidades eram muitas”, diz. Já Sabrina Veras, desenvolvedora de front-end da Agtech, garante que desde muito cedo sabia que iria fazer algum curso da área de exatas na faculdade, mas queria encontrar algo que tivesse números e lógica. “Entrei em Ciência da Computação, o que se encaixou com tudo o que queria, matemática, lógica e um bom mercado de trabalho”.

Gabriela relatou que sempre foi muito curiosa e gostava de aprender sobre assuntos diferentes. “Felizmente, o agronegócio oferece um campo de atuação onde é possível trabalhar em praticamente qualquer área, o que me motivou a ir atrás de mais informações. Em uma conversa com um tio, que é agrônomo, passei a ter ideia da importância do setor e do impacto que ele tem em todas as esferas. Desde então, decidi mergulhar de cabeça nesse universo”.

Laura Nerastri, que trabalha como analista comercial e de sucesso do cliente, na Perfect Flight, garante que nunca considerou o cenário de baixa participação feminina no agronegócio como um fator impeditivo ao escolher sua graduação em engenharia agrônoma. Inclusive, ela havia considerado outras engenharias, como a eletromecânica e civil, que, no geral, sofrem com o mesmo problema. “Ao escolher que setor seguir carreira dentro do agro, a aceitação por mulheres foi um fator bastante considerado por mim”, diz.

Ela complementa dizendo que é visível o quanto, em diferentes áreas de atuação, mulheres são mais ou menos aceitas, e que há regiões onde é notável uma densidade maior ou menor de participação feminina. “No time comercial onde atuei anteriormente, dos 30 representantes de vendas – profissão que exige muitas viagens – apenas duas eram mulheres. Produtoras e coordenadoras, conheci pouquíssimas. Por outro lado, a equipe de marketing era majoritariamente composta por engenheiras agrônomas. Na Perfect Flight, empresa que atuo hoje, quatro pessoas fazem parte da equipe de Customer Success – grupo do qual faço parte – sendo todas mulheres”, afirma.

Referências e aumento na participação feminina em cargos de liderança
Geovana lembra que, ao entrar no mercado de trabalho em 2017, não tinha muitas referências ou em quem se espelhar na profissão. Por pouco, o mercado perdeu uma especialista em garantia de qualidade e ganhava uma professora universitária. “Não foi fácil. No início, as maiores referências femininas estavam dentro da academia e não dentro de empresas. Por esse motivo quase segui carreira acadêmica”, recorda.

Sobre o tão sonhado equilíbrio em oportunidades e ocupação de vagas por todos os gêneros, as profissionais acreditam que ele está próximo. Geovana acha que tudo vai se equilibrar com o tempo.

Gabriela ressalta que o desequilíbrio é uma questão cultural. “Nem sempre em números, mas em reconhecimento e valorização. Isso infelizmente leva um pouco mais de tempo para ser transformado. Eu vejo que algumas iniciativas têm acelerado esse processo e, por meio da competência e dos resultados que as mulheres estão mostrando ter nesse setor, alguns paradigmas já estão sendo quebrados”.

Laura aponta que diversas pesquisas indicam que está havendo um aumento na participação feminina no setor, seja como produtoras, gerentes, administradoras ou colaboradoras. De acordo com ela, há diversos incentivos ocorrendo para trazer uma relação mais equilibrada, como congressos destinados a mulheres do setor a fim de possibilitar maior networking e integração, premiações para mulheres no agro, projetos de cooperativismo e outros eventos.

“Porém, apesar desses incentivos e mesmo com exemplos positivos como a Malu Nachreiner, presidente da Bayer no Brasil e Teresa Vendramini, primeira mulher eleita para presidir a Sociedade Rural Brasileira, ainda é muito difícil ver mulheres no topo da carreira, em funções de liderança, gerência e diretoria. Acredito que uma relação mais próxima ao equilíbrio virá com o tempo a partir de maiores incentivos e com a presença de mulheres em cargos de destaque – o que não é um problema exclusivo do agronegócio, mas de diversos outros setores majoritariamente compostos por homens”, destaca Laura.

Geovana Olim aponta que no agronegócio existem muitas mulheres na área operacional e que já existe um crescimento nos cargos de liderança, os quais, na maioria das vezes, são ocupados por homens. Ao optar por trabalhar nesse setor, ela relembra que a família e pessoas do seu círculo de amizade não foram muito receptivas pela escolha. “Minha família e de várias colegas ou ainda são ou já foram contra. O medo é de não conseguirmos entrar nesse mercado de trabalho, das viagens frequentes e o grande desafio de conciliar uma família e trabalho no agronegócio”. Ela argumenta que muitas pessoas ainda reagem estranhamente a sua presença atuando em uma área ainda considerada “masculina”. “Elas ficam sempre surpresas e me perguntam se não tenho medo das viagens distantes, por exemplo. Também gostam de saber como meu marido ‘me deixa’ viajar sozinha ou também como consigo deixar minha filha de 3 anos por dias sem a minha presença. Por outro lado, muitas mulheres, até mesmo dentro da minha família, hoje passam a admirar a minha coragem e se empolgam pela abertura que estamos conseguindo”.

Enquanto Sabrina garante que nunca foi abordada por outras mulheres para conversar sobre sua carreira profissional. “Sempre que digo que sou desenvolvedora de software as pessoas ficam meio surpresas. Eu acabo não pensando sobre o porquê disso. Não sei se é a fama que os profissionais de TI têm ou se é pelo fato de que sou uma mulher em uma área de exatas”, questiona.

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