Marcos Roberto Ribeiro Junior – marcos.ribeiro@unesp.br
Daniele Maria do Nascimento – daniele.nascimento@unesp.br
Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Agronomia/Proteção de Plantas – FCA/UNESP – Botucatu
Nos últimos anos, os custos de produção da cana-de-açúcar aumentaram consideravelmente e os fertilizantes respondem por 40 a 60% desse valor. Infelizmente, esses aumentos não foram acompanhados pela produtividade, que ao contrário, vem decaindo ano após ano. É nesse contexto que o manejo de adubação vem ganhando importância. A princípio, pode parecer uma tarefa simples, mas alguns ‘macetes’ podem ajudar o produtor a incrementar a produtividade dessa cultura.
Inicialmente, é preciso ter em mãos uma análise de solo, que vai nos possibilitar identificar quais nutrientes estão em falta para a produtividade que desejamos alcançar. Antes de definirmos o manejo de adubação, algumas perguntas precisam ser respondidas, como: o custo-benefício de cada fertilizante e se a cana-de-açúcar irá responder a eles de forma adequada.
De acordo com os nutrientes disponíveis no solo, podemos definir classes de fertilidade, recomendando-se as adubações segundo essas classes. Quando a disponibilidade de nutrientes está abaixo de um nível crítico, a fertilidade do solo deve ser “construída”, ou seja, os nutrientes aplicados devem não só repor aqueles que serão extraídos pela planta, como também elevar o padrão de fertilidade da área.
Acima desse nível crítico, adota-se a estratégia de manutenção, apenas repondo a quantidade extraída. Se o teor de nutrientes do solo estiver satisfatório, passa-se a calcular a quantidade de nutrientes que a cana exporta para os colmos e que é levado juntamente com a colheita e transporte.
Estratégia de manejo da adubação
De acordo com a fase de desenvolvimento da cultura, a planta requer menor ou maior quantidade de alguns nutrientes. Todos os micro e macronutrientes são essenciais no sentido de elevar o potencial produtivo da planta, não fazendo-se distinção entre aqueles nutrientes que são aplicados em toneladas por hectare ou gramas por hectares.
Em estudo publicado recentemente pelo professor doutor Rafael Otto e sua equipe, sobre a extração de nutrientes da cana-de-açúcar, o potássio (K) é o mais requerido pela planta, que extrai em torno de 2,54 kg/tonelada, seguido do nitrogênio (N) (1,46 kg/t), cálcio (Ca) (0,87 kg/t), magnésio (Mg) (0,47 kg/t) e enxofre (S) (0,39 kg/t).
Enxofre (S)
A taxa de absorção de S é maior na fase final de crescimento, entre 251 a 273 dias. Nesse período de 22 dias, em torno de 1,95 kg de enxofre é extraído diariamente. Então, a aplicação desse nutriente deve ser bem planejada. Se aplicado todo no início do plantio, quando chegar à fase final a produtividade pode ser comprometida.
Esse macronutriente pode ser disponibilizado ao solo e, consequentemente à planta, por meio de fertilizantes e resíduos vegetais e animais (como a cama de frango, por exemplo). Uma vez no solo, o S precisa estar na forma de sulfato (SO4) para ser absorvido pela planta.
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As principais fontes de S para os canaviais, considerando-se o custo/benefício, são: gesso, fosfogesso e o S elementar. Outras fontes podem ser usadas, como o sulfato de amônio e o superfosfato simples, mas já não seriam interessantes do ponto de vista econômico. A indústria de fertilizantes também vem contribuindo nesse sentido, com o desenvolvimento de fertilizantes com macronutrientes solúveis contendo S. Os grânulos podem ser revestidos por S, ou o mesmo pode ser incorporado no interior desses grânulos.
Um a um
No caso do S elementar, o S é misturado à bentonita, um tipo de argila que expande ao adquirir umidade, até 20x mais que seu próprio volume. Com isso, a superfície de contato das partículas aumentam e os microrganismos conseguem realizar a oxidação, tornando-o disponível para as plantas. Essa técnica é interessante porque, ao contrário dos solúveis, que ficam prontamente disponíveis ao serem aplicados, o S elementar sofre um processo lento, gradual de oxidação e consequente disponibilização para as plantas, conseguindo acompanhar a cana-de-açúcar até aquela fase final, que é mais exigente nesse macronutriente.
Quando o fosfogesso é utilizado como fonte de S e cálcio (Ca), ele pode também inativar o alumínio (Al) tóxico para as plantas. É empregado principalmente em solos com baixos teores de Ca (< 5,0 mmolc dm3) e S (<15 mg/dm3) e alto teor de Al (>5,0 mmolc dm3), na camada de 25-50 cm.
Pesquisas
Em levantamento realizado pelo professor Pedro Henrique Luz, em torno de 91% das áreas avaliadas apresentavam baixos teores de enxofre, abaixo dos níveis críticos, na camada de 0 a 25 cm do solo. Se o teor de S do solo for baixo (entre 0 a 5 mg/dm3), pelo menos 150 kg/ha de S são necessários, o que daria em torno de 1.000 kg/ha de gesso. Um teor um pouco mais elevado (10 a 15 mg/dm3) requer 75 kg/ha de S (500 kg/ha de gesso). Acima de 15 mg/dm3, não é preciso complementar com mais S.
Em algumas situações, porém, bastante comuns em canaviais, quando o teor de Ca está adequado, mas os teores de Al, S e, principalmente, magnésio (Mg), estão baixos, uma alta relação Ca/Mg é verificada, e talvez o gesso não seja a melhor opção como fonte de S. O gesso elevaria os teores de Ca, desbalanceando ainda mais a relação Ca/Mg.
Outra questão interessante a ser abordada são as relações C:N, C:P e C:S. Os microrganismos que atuam no processo de mineralização precisam ter à disposição esses elementos em relações adequadas. Para mineralizar o N, por exemplo, a relação C:N deve ser abaixo de 20; fósforo e enxofre: relação C:P/C:N abaixo de 200.
Com isso, a disponibilidade de nutrientes será aumentada devido à mineralização. Segundo alguns estudos, palhadas de cana-de-açúcar podem apresentar alta relação C/N, C/S e C/P.
Recomendações
De modo geral, e com base em todos esses aspectos discutidos, a recomendação para o manejo de S em cana-de-açúcar estabelece a gessagem a lanço no plantio; nas soqueiras, após o 1º corte, o S partilhado em linha/lanço; após o 2º corte: gessagem a lanço; 3º corte: S partilhado em linha/lanço e; 4º corte: gessagem a lanço.
Essa proposta de manejo, elaborada pelo professor e doutor Pedro Henrique Luz, elevou o teor de S de 4,6 mg/dm3 para 12,2mg/dm3, após três anos de plantio, e manteve uma boa produtividade (variando entre 93,25 a 108,96 ton/ha).
Nitrogênio (N)
Em relação ao N, as maiores taxas de absorção pela planta são entre os 185 a 251 dias (em torno de 1,5 kg/dia). Pode ser disponibilizado por meio da adubação verde, resíduos vegetais e orgânicos e fertilizantes.
O novo Boletim 100 do Instituto Agronômico de Campinas recomenda as doses de N com base na produtividade esperada, sendo em média 1,1 kg de N nas soqueiras para cada tonelada produzida. Para quantidades maiores de N, a planta já não responde muito bem.
Outro ponto importante é em relação à ureia que, após alguns processos no solo, pode gerar a amônia, aumentando o pH em torno dos grânulos. Na aplicação superficial, a amônia entra em contato com a atmosfera e volatiliza. Por esse motivo, é interessante enterrar essa ureia, mas para tanto, é necessário maquinário adequado, devido à presença de palhada nos canaviais.
Fósforo (P)
Importante principalmente para a brotação da planta. Na cana-planta, pode ser aplicado até 180 kg/ha de P2O5. Nas soqueiras, esse valor cai para 30 a 60 kg/ha e na cana-soca, 30 kg/ha. O P contribui, inclusive, para a qualidade da cana processada industrialmente. Em canas com níveis consistentes de P, menores quantidades de ácido fosfórico são adicionadas no processo de clarificação.
Potássio (K)
O K é essencial tanto na cana-planta como na cana-soca mas, não só sua falta, como também seu excesso, pode diminuir a qualidade da cana, então, atenção! A recomendação é que seja realizada de acordo com os teores de potássio trocável do solo e a produtividade esperada. Acima de 6,0 mmolc/dm3 não é necessário aplicar K2O em cana-planta. Para teores mais baixos (0-0,7 mmolc/dm3), e almejando produtividades acima de 100 t/ha, pode-se aplicar 100 kg/ha de K2O.
Na cana-soca, as quantidades requeridas são um pouco menores. Em solos com baixos teores de K (0-1,5 mmolc/dm3), aplica-se 150 kg/ha. Para teores maiores (>3,0 mmolc/dm3): em torno de 90 kg/ha.
Micronutrientes
Os micronutrientes mais limitantes para essa cultura são o cobre e o zinco. Uma das recomendações é a adubação no sulco de plantio (entre 5 a 7 t/ha) desses dois nutrientes, ou de acordo com a quantidade de cada um no solo. No caso do zinco, em solos com quantidades superiores a 0,5 mmolc/dm3, não é necessário realizar aplicação, mas, abaixo disso, recomenda-se 5,0 kg/ha. O cobre também só é requerido em teores abaixo de 0,2 mmolc/dm3, na dose de 4,0 kg/ha.
Para o boro, recomenda-se entre 20 a 30 kg/ha de bórax no solo ou pulverização com ácido bórico (0,5%), e o manganês pode ser empregado na forma de sulfato de ferro ou de manganês (1%).
A falta desses micronutrientes torna-se evidente no decorrer do desenvolvimento da planta. Em estudos com aplicações de micronutrientes no sulco de plantio, os ganhos foram expressivos, principalmente em decorrência da aplicação do zinco, molibdênio e manganês. Os efeitos do zinco foram mais significativos, gerando ganhos na produtividade em torno de 17% em comparação às parcelas que não receberam a aplicação.
A dose aplicada (10 kg/ha), aliás, é suficiente para até quatro safras, e proporcionou um lucro de R$ 567 por hectare apenas na primeira safra. O zinco, assim como o manganês e o cobre, foi aplicado na forma de sulfato. Para o manganês e o molibdênio, os ganhos médios foram de 14 e 12%, respectivamente.