Rayssa Camargo de Oliveira
Doutora em Fitotecnia e professora – Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM)
rayssaoliveira@iftm.edu.br
Roberta Camargos de Oliveira
Doutora em Fitotecnia e professora – Instituto Federal Goiano (IFGoiano)
roberta.camargos@ifgoiano.edu.br
O nitrogênio desempenha várias funções importantes no crescimento e desenvolvimento do milho, sendo um dos macronutrientes essenciais para a planta. Algumas das funções mais significativas nas plantas são: participação como componente de proteínas e enzimas, favorecimento do crescimento e desenvolvimento, produção de clorofila, desenvolvimento de grãos e resistência a estresses, como doenças, pragas, secas e temperaturas extremas.
Taxa variável
O nitrogênio é um dos nutrientes mais demandados pelas culturas e um dos principais benefícios em utilizar métodos de adubação em taxa variável é possibilitar a aplicação em quantidades mais precisas, sem o risco de comprometer a nutrição dos vegetais, o rendimento de grãos e, por consequência, o retorno econômico, além de diminuir a possibilidade de contaminações do meio ambiente.
A aplicação de fertilizantes em taxa variável começou a ganhar popularidade nas últimas décadas, principalmente com os avanços na tecnologia da agricultura de precisão. Embora não haja uma data exata para o surgimento dessa prática, ela se desenvolveu gradualmente ao longo do tempo à medida que novas tecnologias foram sendo desenvolvidas e implementadas na agricultura.
Muita atenção
Os produtores de milho podem enfrentar vários desafios relacionados à adubação nitrogenada em taxa fixa, como a significativa variação na demanda de nitrogênio. Isso porque a demanda por esse nutriente pode variar significativamente entre diferentes áreas de um campo de milho, devido a fatores como variações de solo, topografia e histórico de cultivo.
Uma taxa fixa pode resultar em sub ou super adubação, podendo levar a perdas de nutrientes e a impactos ambientais negativos.
A incerteza sobre as reais necessidades da cultura também é um desafio, já que as necessidades de nitrogênio da cultura do milho podem ser afetadas por vários fatores, como condições climáticas, práticas de manejo do solo e variedades de milho utilizadas.
Uma taxa fixa pode não levar em consideração essas variações e, portanto, não atender às demandas reais da cultura.
Taxa fixa e seus impactos
Os custos e a eficiência também podem ser um obstáculo, uma vez que a aplicação de nitrogênio em taxa fixa pode resultar em custos adicionais de insumos e mão de obra, especialmente se forem aplicadas doses excessivas.
Além disso, pode haver uma eficiência reduzida na utilização do nitrogênio, já que partes do campo podem receber mais nitrogênio do que o necessário, enquanto outras podem receber menos.
Outro desafio é o impacto ambiental da possível aplicação excessiva de nitrogênio, podendo resultar em lixiviação para os cursos d’água, contaminação da água subterrânea e emissão de óxido nitroso, um potente gás de efeito estufa.
Acessibilidade
A tecnologia para implementar a adubação em taxa variável está se tornando mais acessível, mas ainda pode ser uma barreira para alguns produtores, especialmente em áreas onde a infraestrutura de suporte não está disponível ou é cara.
Sobre a gestão e monitoramento, é indicado implementar um sistema de adubação em taxa variável, o que pode requerer uma gestão mais intensiva e monitoramento constante das condições do solo e das necessidades da cultura.
Isso pode exigir investimentos adicionais em equipamentos de monitoramento e tecnologia de informação, porém, é algo que se paga e se dilui ao longo do tempo em virtude da economia gerada.
Para lidar com esses desafios, muitos produtores estão adotando as práticas de manejo mais precisas, como a adubação em taxa variável, que ajusta a aplicação de nitrogênio de acordo com as características do solo e as necessidades da cultura em diferentes partes do campo.
Isso pode melhorar a eficiência no uso de nutrientes, reduzir os custos de insumos e minimizar os impactos ambientais.
Variabilidade espacial
A adubação em taxa variável tem justamente a premissa de diminuir a variabilidade espacial, uma vez que aplica apenas quantidades suficientes para homogeneizar a área quanto ao volume de nutrientes disponível as plantas.
Dessa forma, melhora a eficiência no uso de nutrientes, reduz os custos de insumos e minimiza os impactos ambientais. A técnica é possível graças ao monitoramento e geoprocessamento dos dados gerais da lavoura, o que permite acompanhar a fertilidade do solo ao longo do tempo e assim diminuir a variabilidade espacial das lavouras.
Ferramentas úteis
A identificação das necessidades de adubação em taxa variável em uma lavoura geralmente envolve uma combinação de indicadores e ferramentas para obter uma avaliação precisa das condições do solo e das plantas.
Alguns dos principais indicadores e ferramentas utilizados para esse fim são o sensoriamento remoto, que disponibiliza imagens de satélite, drones ou aeronaves remotamente pilotadas para capturar dados sobre a vegetação, como índices de vegetação, sendo o mais comum o Índice de Diferença Normalizada de Vegetação (NDVI), que pode indicar a saúde e a biomassa das plantas, ajudando a identificar áreas de baixa e alta produtividade na lavoura.
Outra ferramenta que ajuda no monitoramento são os sensores de solo, utilizados para medir parâmetros como teor de umidade, pH, condutividade elétrica e teores de nutrientes. Eles fornecem informações detalhadas sobre a variabilidade espacial dos nutrientes no solo da área.
Os mapas de produtividade histórica também contribuem, por permitir a análise de dados de colheita de safras anteriores para identificar padrões de produtividade na lavoura. Esses mapas também podem ajudar a determinar as áreas que exigem maior ou menor adubação.
A amostragem de solo georreferenciada também uma importante ferramenta, pois permite uma avaliação precisa dos teores de nutrientes em diferentes partes da lavoura. Essas amostras são analisadas em laboratório para determinar as necessidades específicas de adubação em cada ponto da região.
Uma vez que se obtém vários dados georreferenciados da área, é possível reuni-los em um sistema de informação geográfica (SIG) que integra e analisa dados espaciais para criar mapas temáticos que mostram a distribuição dos nutrientes no solo e a variabilidade da produtividade na lavoura.
Dessa forma, eles ajudam na tomada de decisão ao planejar a aplicação de fertilizantes em taxa variável. Além disso, outros softwares especializados em gerenciamento agrícola também podem ser utilizados para integrar dados de diversas fontes, como sensoriamento remoto, amostragem de solo e histórico de colheitas, para auxiliar na interpretação e visualização das informações e na geração de mapas de aplicação de fertilizantes em taxa variável.
Essas ferramentas e indicadores são utilizados em conjunto para avaliar a variabilidade espacial das condições do solo e das plantas na lavoura, permitindo uma aplicação mais precisa e eficiente de fertilizantes em taxa variável, o que pode resultar na economia de insumos e maximização da produtividade.
Potencialização do rendimento
A adubação em taxa variável é uma prática agrícola que envolve a aplicação de fertilizantes de acordo com as necessidades específicas de cada área do campo, levando em consideração fatores como a variabilidade do solo, a topografia, a produtividade esperada e até mesmo informações de sensoriamento remoto.
A adubação em taxa variável permite uma melhor utilização de recursos, uma vez que os fertilizantes são aplicados apenas nas quantidades necessárias em cada parte do campo. Isso evita a aplicação excessiva em áreas que não precisam, reduzindo custos e minimizando impactos ambientais.
Além disso, a técnica corrige apenas deficiências nutricionais específicas, ao mapear a variabilidade do solo. Essas deficiências podem ser corrigidas de forma precisa, garantindo que as plantas tenham acesso aos nutrientes necessários para um crescimento saudável e uma alta produtividade.
Benefícios da taxa variável
Ao ajustar as taxas de adubação de acordo com as necessidades de cada área, a adubação em taxa variável pode contribuir para uma distribuição mais uniforme de nutrientes no campo.
Somado a isso, é possível verificar que a aplicação de fertilizantes em taxa variável permite uma maior precisão na dosagem, o que reduz a probabilidade de perdas de nutrientes por lixiviação (lavagem dos nutrientes para camadas mais profundas do solo) e volatilização (liberação de gases dos fertilizantes para a atmosfera). Isso contribui para uma utilização mais eficiente dos nutrientes e para a redução do impacto ambiental.
Ao maximizar o rendimento de grãos e minimizar os custos com insumos, a adubação em taxa variável pode aumentar a rentabilidade da lavoura de milho.
Os agricultores podem obter um melhor retorno sobre o investimento, maximizando a produção de grãos com um uso mais eficiente dos recursos disponíveis.