Autores
Júlio César Ribeiro
Engenheiro agrônomo, mestre em Tecnologia Ambiental e doutor em Agronomia – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
jcragronomo@gmail.com
Amanda Santana Chales
Engenheira agrônoma
amandaachales@gmail.com
A mostarda é uma planta pertencente à família Brassicaceae, a mesma da rúcula, repolho e couve-flor, sendo considerado um dos vegetais folhosos mais nutritivos, por ser fonte de vitamina A e C, ferro, cálcio, magnésio e potássio, elementos necessários ao organismo humano.
Tanto suas folhas quanto suas sementes podem ser consumidas, sendo geralmente as folhas em forma de saladas e refogados, dentre outros pratos, enquanto as sementes geralmente são destinadas à fabricação de molhos e temperos.
Nos últimos anos a procura por alimentos que apresentem melhor qualidade nutricional e um maior tempo de prateleira tem aumentado, impulsionando o desenvolvimento de diferentes técnicas produtivas.
Hidroponia
Dentre as diferentes formas de cultivo, o hidropônico tem se destacado por possibilitar a produção de plantas que atendam às exigências dos consumidores.
O cultivo de mostarda em sistemas hidropônicos permite um melhor balanço nutricional às plantas, menor ataque de pragas e doenças, reduzindo o uso de agrotóxicos, garantindo a comercialização de produtos mais saudáveis e mais limpos, tendo em vista que as plantas são cultivadas geralmente em ambientes protegidos, apresentando uma melhor qualidade.
Manejo
A mostarda se desenvolve em uma ampla faixa de temperatura, embora o ideal seja temperaturas mais amenas, entre 22 e 24°C, não devendo ultrapassar os 27°C. A fim de garantir uma boa produtividade, é de suma importância a realização de um manejo adequado das plantas, desde a escolha da cultivar até a colheita.
Diversas técnicas de cultivo hidropônico podem ser empregadas na produção de hortaliças folhosas, dentre as quais a NFT (Nutrient Film Technique) tem ganhado destaque. Tal técnica consiste na passagem por gravidade de uma fina lâmina de solução nutritiva pelo sistema radicular das plantas que são dispostas em perfis hidropônicos.
No entanto, para que se tenha sucesso no cultivo hidropônico de mostarda, mudas de qualidade devem ser utilizadas, devendo estas ser preferencialmente produzidas em espuma fenólica, que proporcionam maior uniformidade de germinação e alto grau de sanidade das mudas, desde que utilizadas sementes com qualidade certificada.
Quando produzidas nesse sistema, as mudas passam pelas etapas de maternidade, onde as sementes são dispostas em “placas” de espuma fenólica para germinar; seguido da etapa berçário, quando as sementes germinadas começam a receber solução nutritiva em perfis hidropônicos menores que os da etapa de crescimento final, permanecendo na etapa berçário por um período aproximado de três semanas.
A partir de então, as mudas deverão ser dispostas em perfis maiores para o crescimento final, até atingirem o ponto de colheita, o que ocorre entre 30 e 45 dias do plantio, de acordo com a região e a cultivar utilizada.
De maneira geral, as hortaliças folhosas demandam grande quantidade de nutrientes, sobretudo devido a seu curto período de crescimento vegetativo. Portanto, o manejo adequado da solução nutritiva é essencial para manter altos rendimentos.
Novidades
O aumento da procura pelo cultivo em sistemas hidropônicos nos últimos anos tem impulsionado pesquisas no sentido de aperfeiçoar e criar novas tecnologias nessa modalidade agrícola, visando sempre um melhor manejo e produção.
Dentre as tecnologias atualmente disponibilizadas no mercado, os diferentes tipos de tela (antiafídeos e de sombreamento), perfis de cultivo, novas formulações de fertilizantes e produtos de controle biológico ganham destaque.
A utilização de telas antiafídeos nas laterais das estufas restringe a entrada e ataque de pragas. Já as telas termorrefletoras nas estruturas de cultivo possibilita um maior controle climático em decorrência da redução da entrada de radiação infravermelha, permitindo um bom rendimento de mostarda hidropônica em regiões mais quentes.
Os perfis hidropônicos, em sua maioria, sofreram ajustes em sua composição, possibilitando a redução dos efeitos negativos da radiação solar incidente de forma direta, tornando-se mais resistentes e duráveis ao cultivo, com dimensões de fácil manuseio e higienização, reduzindo problemas de sanidade nos cultivos subsequentes.
As novas formulações de fertilizantes solúveis proporcionam maior disponibilidade de nutrientes para serem absorvidos pelas plantas, favorecendo seu desenvolvimento e resistência ao ataque de patógenos.
O uso adequado dessas tecnologias possibilita um melhor desempenho no cultivo hidropônico de mostarda, visto que a espécie é muito disseminada nesse sistema, dada a sua fácil adaptabilidade, proporcionando aumento significativo de produtividade e, consequentemente, na rentabilidade da produção.
Produtividade
Os principais relatos dos produtores hidropônicos de mostarda referem-se a um produto final com maior padronização e qualidade, atendendo as exigências mercadológicas. Assim, a produção de mostrada em sistemas hidropônicos possibilita bom retorno financeiro ao produtor, visto que pode ser verificada economia de até 70% no custo do controle de pragas e doenças em relação aos cultivos tradicionais.
Associado à maior economia nos tratos culturais, o maior fluxo produtivo com redução de sazonalidade possibilitam aproximadamente 50% de rentabilidade no cultivo de mostarda em sistemas hidropônicos, o que tem incentivado a adoção da técnica por um grande número de produtores em diversas regiões do País.
Evite erros
Dentre os erros mais frequentemente encontrados no cultivo de mostarda hidropônica tem-se a utilização de perfis hidropônicos inapropriados, que favoreçam o aquecimento da solução nutritiva a temperaturas superiores a 30°C, ocasionando baixa oxigenação e morte do sistema radicular das plantas.
A má higienização do sistema produtivo após a colheita também é um dos principais erros cometidos em sistemas hidropônicos de produção de mostarda, o que, associado à utilização de perfis inapropriados que permitam a passagem de luz, possibilitam a formação de um ambiente favorável ao aparecimento de pragas e doenças nas plantas.
No entanto, para minimizar e/ou prevenir esses problemas, principalmente relacionados a pragas e doenças, a utilização de perfis coextrusados (não deixam a “luz” passar), associados, ainda, a um adequado processo de higienização, com lavagem periódica das bancadas com produtos de desinfecção, como o dióxido de cloro e o ozônio ao fim de cada ciclo de cultivo, são de fundamental importância, garantindo uma boa limpeza e a eliminação de possíveis patógenos.
O desequilíbrio de nutrientes na solução também é considerado um erro muito comum em cultivos hidropônicos, favorecendo, consequentemente, o desenvolvimento inadequado das plantas de mostarda, tornando-as mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças.
Bem de perto
Uma das formas mais práticas do produtor monitorar a disponibilidade e a concentração de íons na solução é por meio do pH e da Condutividade Elétrica (CE), os quais devem apresentar-se, respectivamente, em torno de 6,0 e 1,8 mS cm-1, favorecendo a absorção de nutrientes pelas plantas de mostarda e, consequentemente, um bom desenvolvimento e produtividade.
Investimento
O custo inicial para o cultivo hidropônico de mostarda é alto, tendo em vista que é necessário investimento na construção de ambientes protegidos, instalação de bancadas com perfis hidropônicos apropriados e sistemas de bombeamento de solução nutritiva, podendo o custo de implantação de uma área com 1.000 m² variar entre 130 mil a 160 mil, dependendo do nível de tecnologia empregado.
No entanto, o investimento pode ser recuperado em aproximadamente três anos, visto que o cultivo hidropônico de mostarda possibilita uma maior facilidade no manejo da cultura, com produção padronizada em grande escala e em menores áreas, obtendo-se plantas com elevada qualidade e, consequentemente, bom retorno financeiro, o que justifica o investimento.
Contudo, para que o sucesso na atividade seja alcançado, é imprescindível o acompanhamento técnico desde o planejamento da atividade até a colheita e escoamento da produção, a fim de evitar eventuais problemas produtivos.