Talis Melo Claudino – Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia – UNESP-FCA de Botucatu (SP) – t.claudino@unesp.br
Rodrigo Ferrari Contin – Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia – Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) de Bandeirantes (PR)
As substâncias húmicas são compostos derivados da decomposição de produtos de origem vegetal e animal. Vários materiais são ricos em substâncias húmicas, como a turfa, leonardita, vermicompostos e até mesmo o solo.
Fracionados quimicamente, as SH são divididas em huminas, ácidos húmicos e fúlvicos, cada um com sua especificidade e utilização, contudo, os ácidos húmicos e ácidos fúlvicos são destinados praticamente a todos os usos agrícolas.
Pesquisas
Grande parte dos mecanismos de ação das SH já foram caracterizados. Sabe-se que o aumento dos teores de auxinas, giberelinas e citocininas foram demonstrados por Silva e Colaboradores (2011) e Caron e colaborares (2015). Ou seja, pode-se definir que o uso das substâncias húmicas tem influência direta no desenvolvimento radicular.
Além do maior volume radicular, o surgimento de novas raízes laterais e pelos radiculares também são presentes – isto se dá pela associação e biossíntese de auxinas e óxido nítrico.
Além disso, efeitos diretos dos hormônios na germinação fazem com que esta apresente maior germinação e emergência de plântulas, estas com vigores acentuados e de alta qualidade.
Em estudos realizados com aplicação em mudas de tomateiro de substâncias húmicas provindas de turfa, observou-se estímulo ao aparecimento de pelos radiculares em baixa concentração (2 mmolc L-1), principalmente próximos à coifa.
Ao se utilizar mutantes de tomateiro com gene repórter, permitiu-se observar a indução de rotas ligadas à produção de auxinas, quando tratado com ácidos húmicos (Silva et al, 2011). Assim, os ácidos húmicos, que são frações humificadas com maior bioatividade, apresentam maior capacidade de indução de raízes laterais no estágio inicial do tomateiro, resultando, assim, em uma planta com melhor qualidade desde o início do cultivo, para o campo ou até mesmo para a casa de vegetação.
Resultados comprovados
Em aspectos produtivos, a aplicação de ácidos húmicos no tomateiro aumentou significativamente o teor de nutrientes nas folhas na dose 36 L ha-1. Estas mesmas doses aumentaram a qualidade dos frutos, obtendo incremento de sólidos solúveis e acidez titulável. A associação de substâncias húmicas com outros extratos para plantio de tomate pode incrementar de 29 a 35%, sob a média de produtividade de 142 t ha-1.
Para obtenção de altas produtividades nas culturas tratadas com substâncias húmicas, estas devem apresentar alta qualidade de resposta e sinalização na planta. Um grande erro do passado seria comparar as substâncias húmicas pelo seu teor de carbono.
Hoje, através de estudos, sabemos que para avaliar a qualidade de uma substância húmica, devemos avaliar principalmente a sua bioatividade. Substâncias húmicas providas de materiais com menor tempo de decomposição normalmente apresentam menor teor de carbono, todavia, este carbono apresenta maior bioatividade. Sendo assim, deve-se fazer a correlação exata para obter a bioestimulação para ótimas produtividades, como definidas anteriormente no tomateiro.
As dosagens, desta forma, ficam mais técnicas, sendo de responsabilidade da empresa produtora realizar a recomendação de acordo com os estudos técnicos de bioatividade. Através do conhecimento do volume de calda a ser aplicada e a quantidade de mmol de C a ser aplicado, pode ser definida a litragem ou quilos a serem aplicados por hectare.
Além disso, o uso das substâncias húmicas deve ser dividido em dois parâmetros de funcionalidade: condicionadores de solos e fitorreguladores foliares. Quando se visa o condicionamento do solo, maiores dosagens são requeridas e, dentre os fracionados, o ácido húmico é o escolhido para realizar as funções de quelatar e complexar elementos ali presentes.
Quando o tratamento ocorrer de forma foliar, em todas as culturas e no tomate, como já estudado, deve-se realizar a aplicação dos fracionados ácidos fúlvicos, que apresentam maiores funcionalidades e estimulação em relação aos demais compostos provindos das substâncias húmicas. Além disso, a mistura com sais e demais agroquímicos pode ser realizada sem que ocorra qualquer problema de incompatibilidade física ou química.
Assim, definimos como aplicar, via foliar, nas bandejas de mudas de tomate com ácidos fúlvicos, ou o tratamento do substrato fazendo a utilização do ácido húmico. O tratamento deve decorrer semanalmente até o fim da cultura, realizando-se aplicações isoladas ou juntamente às decorrentes para o controle de pragas, doenças ou nutrição foliar.
Oriente-se
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A utilização desta tecnologia requer conhecimento técnico proveniente dos fornecedores das substâncias para que elas sejam aplicadas com eficiência no campo. Quando o posicionamento é realizado da forma correta, os ganhos são inestimáveis, já que quando o tratamento é realizado no solo, resíduos perpetuam no local.
Pela grande quantidade de empresas trabalhando com estas substâncias, define-se que a rentabilidade é certa, mas para isso deve-se realizar a compra de empresas idôneas que lhe forneçam todos os materiais que garantam a produtividade e qualidade do cultivo para que assim o retorno seja extremamente maior que o investimento realizado.
Assim como no tomateiro, diversas culturas já vêm recebendo substâncias húmicas desde o tratamento de sementes, como já estudado para soja e milho, onde se obtêm aumentos significativos de germinação e emergência, e em bandejas com plântulas de alface, onde se observou o grande desenvolvimento radicular, quando tratados com ácidos fúlvicos via foliar.
Para finalizar, a utilização desta tecnologia traz muitos benefícios econômicos ao produtor, mas este, necessariamente precisa avaliar o que a ele é fornecido e comparar os efeitos in situ, para que então possa adquirir o que melhor corresponda a sua necessidade.