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Márcio Fernandes Peixoto
Doutor em Agronomia e professor do Instituto Federal Goiano
Um produto inédito entra no mercado para o manejo da fase adulta (mariposas) de lagartas, com mÃnimo impacto ambiental. Trata-se de um produto revolucionário à base de néctar e extratos de flores, que tem cumprido o seu papel na redução de prejuízos dados pelas lagartas da família Noctuidae. Pertencentes a essa família estão as principais lagartas desfolhadoras nas principais culturas plantadas no País.
Alimento – o desafio da ciência
A tecnologia foi propulsora para aumentar a produtividade agrícola nesse último século de maneira a evitar o colapso de alimentos no mundo. A inovação produzida por cientistas possibilitou a produção de mais alimentos do que se imaginava há 50 anos.
Em razão disso, tem se observado a redução de pessoas passando fome no mundo. O conhecimento foi a ferramenta que fez melhorar a produtividade agrícola em ritmo maior que o aumento da população.
Mesmo no ano 2050, a expectativa é que haverá alimento suficiente para a provável população de nove bilhões de pessoas. No Brasil essa realidade é evidente na cultura da soja, onde o progresso da tecnologia de cultivo permite produções anuais crescentes.
Cultura da soja
A cultura da soja ocupa grande parte das áreas cultivadas no Brasil e vem se expandindo ano a ano. Nas décadas de 70 e 80 começou a maior expansão no cerrado goiano e mato-grossense, abrindo fronteiras em novas cidades, valorizando e transformando esse bioma até então desprezado. A rápida expansão modificou todo o sistema agrícola brasileiro, principalmente por transformar a agricultura de subsistência em cultivos comerciais de grande escala, uma revolução econômica jamais vista no Brasil, fundamentada em propriedades grandes, dedicadas à produção de cereais.
Nessa nova ótica de produção a monocultura se estabeleceu de maneira rápida na maioria do território nacional. Paralelamente, a atuação da pesquisa buscou resolver questões ligadas à adaptabilidade da espécie no novo ambiente de latitude menor e solos mais pobres.
Ocorrência de pragas na cultura da soja
O domÃnio territorial da cultura da soja trouxe um novo padrão de manejo de pragas baseado em técnicas de monitoramento e controle estabelecidos pela Embrapa. Apesar das tecnologias de manejo desenvolvidas, a rápida expansão da cultura fez com que a soja se tornasse hospedeira de vários insetos-pragas capazes de provocar perdas econômicas significativas, demandando, com isso, o consumo crescente de agrotóxicos.
Desde o início do ciclo a cultura é atacada por pragas, sendo as principais os percevejos e as lagartas. Diversas espécies de lagartas ocorrem normalmente na soja e de forma simultânea em todas as regiões do País, o que aumenta os riscos de perdas.
A amostragem de pragas é essencial desde o período vegetativo para maximizar os recursos e manter o adequado estado fitossanitário da cultura. No entanto, para se executar o MIP é importante reconhecer, bem como entender o comportamento destes insetos.
Atualmente o surgimento de novas espécies de lagartas-praga nas culturas e a introdução de novas variedades e variações climáticas (duração dos veranicos) tem gerado discussões acaloradas sobre os níveis de controle para cada uma das espécies, bem como da eficiência dos inseticidas no mercado. Porém, muitos estudos serão demandados para se estabelecer novos padrões para um sistema cada vez mais dinâmico e complexo.
Novidade no manejo de Lepdoptera
O manejo de pragas da família Noctuidae na atualidade se dá essencialmente pela utilização de inseticidas químicos visando somente a mortalidade da fase jovem (lagarta), e por vezes por inseticidas de origem biológica. Dessa forma, o manejo de pragas leva forçosamente a uma situação de pressão de resistência.
Contrapondo esse padrão no manejo de lagartas, recém-lançada a soja Bt entra no sistema como ferramenta para auxiliar o produtor no controle de pragas. Outra opção recém-lançada no mercado foi um produto composto de oleoresinas e sacarÃdeos, chamado Noctovi, um atrativo alimentar que, ao ser associado com inseticidas, visa a mortalidade de mariposas da família Noctuidae.
É uma alternativa muito diferente do que se tem no mercado, pois as ferramentas até então visavam o controle de lagartas sem efeito nas mariposas. A grande diferença está na ideia de reduzir a expansão exponencial da praga. As mariposas, em geral, ovipositam cerca de 500 a 2.000 ovos em um curto período, ou seja, em poucos dias. Nessa lógica, se uma mariposa for morta, evitam-se todas essas posturas com potencial de se transformar em lagartas e se alimentarem da cultura.