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Neem: Eficiência no controle da mosca-branca no tomateiro

Autores

Renata Lunardi BegniniGraduanda em Engenharia Agronômica – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)renatanovamutum@hotmail.com

Rafael Rosa RochaEngenheiro agrônomo e Mestrando em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola –UNEMAT rafaelrochaagro@outlook.com

Fernanda Lourenço DippleZootecnista, engenheira agrônoma, especialista em Perícia e Licenciamento Ambiental, mestra em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola e professora de Fitotecnia – UNEMATfernanda.dipple@gmail.com

Tomate – Crédito: Nim Brasil

O óleo de neem pode ser utilizado para o controle de pragas na produção de tomate orgânico e convencional. Sua aplicação está proporcionando excelentes resultados no controle da mosca-branca no tomateiro, sendo um inseticida totalmente natural, que não polui, não é nocivo à saúde humana e é eficiente no combate a mais de 500 espécies de insetos e ácaros.

Pode ser usado em tratamentos preventivos ou de controle. A ação dos extratos de neem sobre insetos é bastante variável de espécie para espécie. Pode afetar o desenvolvimento, atrasar seu crescimento, reduzir a fecundidade e fertilidade dos adultos, alterar o comportamento e causar diversas anomalias nas células e na fisiologia dos insetos.

Alvo: mosca-branca

A mosca-branca Bemisia tabaci (Genn.) é um inseto polífago e de rápida reprodução, causadora de prejuízos em praticamente todas as culturas cultivadas no Brasil. A principal forma que controle ainda é por meio de produtos químicos convencionais, entretanto, o uso frequente e de forma inadequada tem causado desequilíbrio biológico e o surgimento de insetos resistentes, o que acarreta perdas de produtividade ainda maiores.

Devido a isso, tem-se procurado práticas que possam servir de alternativa para controle de tal praga. Assim, o neem (Azadirachta indica A. Juss.), planta cujos extratos apresentam capacidade repelente, inibidora de alimentação e reguladora de crescimento para várias espécies de pragas, apresenta-se como uma opção para controle menos tóxico e mais seletivo.

A bioatividade de derivados de neem é decorrente do sinergismo de diferentes compostos, especialmente limonoides, sendo a azadiractina o componente ativo majoritário, presente em folhas, frutos e sementes.

Esses extratos ocasionam efeitos agudos e crônicos, como inibição alimentar, alongamento da duração da fase imatura, redução da fecundidade e fertilidade, alterações comportamentais e anomalias celulares, inibição de oviposição. Também podem causar alterações no sistema hormonal, o que leva a distúrbios no desenvolvimento, deformações, infertilidade e mortalidade nas diversas fases dos insetos.

Prejuízos e sintomas

Tal inseto causa danos diretos no tomateiro pela sucção da seiva, injeção de toxinas e liberação de honeydew, e indiretos pela formação de fumagina e transmissão de doenças viróticas. As moscas-brancas do complexo Bemisia tabaci representam um dos grupos de pragas mais importantes do mundo, principalmente como vetor de centenas de espécies de vírus de plantas, destacando-se aqueles do gênero Begomovirus, família Geminiviridae.

Esses vírus geralmente produzem nas plantas infectadas sintomas de clorose (leve amarelecimento) entre as nervuras, deformação foliar e nanismo (diminuição do crescimento da planta). Muitas vezes o sintoma é severo, com o aparecimento de um mosaico bem amarelo nas folhas, o que faz com que os produtores denominem a doença como mosaico-dourado.

São várias as espécies de geminivírus que causam o mosaico-dourado do tomateiro no Brasil. Os sintomas podem ser severos, em casos de infecção precoce, diminuindo a produtividade devido à produção de menor número e tamanho de frutos.

Em infecções mais tardias, os prejuízos são menores. Em geral, as plantas infectadas são mantidas nas lavouras, pois as plantas continuam produzindo mesmo com a infecção. Isso faz com que a planta seja uma fonte de vírus para as plantas sadias.

Quando a infecção ocorre em plantas novas (plantas com idade entre 0 e 14 dias do transplantio), o tomateiro não se desenvolve bem e a produção de frutos é reduzida drasticamente. Em infecções um pouco mais tardias, até um mês após o transplantio, os sintomas são nítidos, mas os prejuízos são menores.

A doença é mais frequente no período seco e quente do ano, no entanto, surtos epidêmicos têm sido observados durante todo o ano. Assim, é muito importante que o manejo da virose via controle do vetor seja feito de forma preventiva, desde o início do cultivo.

Ação direta e indireta

Os danos ocasionados pela infestação podem ser divididos em danos diretos e indiretos. Os primeiros são visualizados na presença de altas populações do inseto nas plantas, resultando no enfraquecimento das mesmas e no aparecimento de anormalidades nos frutos e consequente perda na produção.

A isoporização da polpa e a desuniformidade na maturação são decorrentes da ação de toxinas injetadas pelas moscas-brancas durante sua alimentação na planta. Os danos indiretos são causados pela transmissão de vírus (geminivírus e crinivírus) e pela excreção de substâncias açucaradas, o “honeydew”.

Estas substâncias, quando presentes em excesso, permitem o desenvolvimento da fumagina. O crescimento deste fungo nas folhas reduz o processo fotossintético, dessa forma, a produção e a qualidade dos frutos são afetados. No entanto, o principal dano causado pelas moscas-brancas à cultura do tomateiro é a transmissão de vírus.

Os frutos atacados pelo inseto manifestam irregularidade na maturação, apresentam manchas esbranquiçadas no local de inserção do aparelho bucal do inseto, além de ficar com aspecto “isoporizado”. Perante esses sintomas, o fruto do tomateiro perde qualidade para comercialização, o que acarreta em menores índices de produção, uma vez que não são utilizados para alimentação humana.

Tais fatores, principalmente a desuniformidade na maturação, dificultam o reconhecimento do ponto de colheita e causam queda na produção, no preço e na qualidade da polpa, o que reflete de forma negativa na lucratividade dos produtores.

Regiões mais afetadas

A mosca-branca está em quase todos os Estados do Brasil, mas principalmente no Cerrado brasileiro, pelos fatores climáticos favoráveis ao seu desenvolvimento, como temperatura elevada e umidade baixa. Contudo, tal praga apareceu primeiramente na região Sudeste e em seguida nas regiões Centro-Oeste, Sul e Nordeste, provocando grandes perdas à agricultura brasileira.

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A escolha do hospedeiro para oviposição da mosca-branca está relacionada com a espécie, o estado nutricional, a idade da planta hospedeira e as condições ambientais. Um dos fatores determinantes para a escolha do vegetal para postura de ovos é a cor do mesmo, destacando-se, em ordem de preferência, o verde-amarelado, o amarelo, o vermelho, o alaranjado-avermelhado, o verde escuro e o arroxeado, cores frequentes em todo o ciclo do tomateiro.

Moscas-brancas são insetos sugadores que se alimentam do floema das plantas, tanto na fase imatura (ninfas) como adulta. Deste modo, as partes mais afetadas são as folhas, onde as colônias se estabelecem na face inferior, de preferência no baixeiro das plantas.

A fácil proliferação da mosca-branca é proporcionada por fatores simples que ocorrem naturalmente, sendo de extrema importância aprender a lidar com eles para reduzir o aumento populacional da praga. Uma das principais características que fazem a mosca-branca ter o título de uma praga de difícil controle é seu hábito de polifagia, ou seja, possui uma vasta gama de hospedeiros, entre eles diversas plantas daninhas, o que dificulta ainda mais o seu manejo por constituírem refúgio para a praga até que o tomate seja implantado.

Fatores ambientais

Assim, o desenvolvimento da praga varia em função do clima e, dessa maneira, quanto mais quente, menor será o ciclo da praga, e como consequência há o aumento do número de gerações deste sugador na lavoura.

O clima seco também favorece a multiplicação da praga, tornando as regiões do centro-oeste, norte e nordeste áreas de alerta para os produtores. Porém, em épocas de muita chuva o produtor encontra dificuldade para aplicar defensivos nas lavouras, sendo que para um bom controle, quanto mais cedo for possível erradicar as primeiras infestações, mais bem-sucedido será o controle, o que não acontece em períodos de muita pluviosidade.

Um fator ambiental interessante é o período das chuvas, onde, em função da ação mecânica das gotas de água, a população adulta dos insetos na cultura do tomate se mostra relativamente baixa, porém, a incidência de geminiviroses transmitidas pela mosca-branca é elevada devido aos altos índices de umidade do período chuvoso.

Formas de controle (preventiva e curativa)

Para um bom manejo das moscas-brancas no tomateiro utilizando óleo de nem, é necessário que se realizem avaliações constantes da infestação da população no tomateiro. Recomenda-se que o controle seja de forma preventiva. Tal processo se dá em três fases, sendo o controle da mosca-branca na sementeira ou no campo na fase de plântulas, o controle sistemático durante o período crítico da cultura já em campo e o controle da mosca-branca após o período crítico da cultura.

De forma preventiva, a produção de mudas deve ser realizada em casas de vegetação protegidas com telas para impedimento da entrada dos insetos. Também pode-se realizar, nessa fase da planta, aplicações com extratos de neem para precaução.

Os compostos dessa planta, principalmente a azadiractina, apresentam-se como translaminar, sistêmica e de contato. Já no inseto, tem atuação tanto por contato quanto por ingestão, o que determina sua eficiência mesmo nas menores dosagens estudadas.

O controle pode ser feito com o óleo de neem em soluções que variam de 0,5 a 1%, dependendo do grau de infestação. O intervalo entre as pulverizações dependerá, também, do grau de infestação e/ou reinfestação, contudo, recomenda-se que seja a cada sete dias.

Sempre lembrando que a aplicação preventiva deve ser prioridade, haja vista que a mosca-branca conta com rápido alastramento e ciclo de no mínimo 21 dias, por isso, as plantas protegidas previamente ao seu ataque serão o melhor manejo.

Na dose certa

Para efeito repelente dessa praga, dilui-se 10 ml do óleo de neem em 1,0 litro de água e realiza-se a pulverização de toda a planta, inclusive em baixo das folhas a cada 10 dias. Quando almeja-se a eliminação de larvas, é recomendada a pulverização de 10 ml do óleo dissolvido em 1,0 litro de água na planta. Para controle de ovos, é recomendado o uso de caldas com concentrações de até 3%.

Ainda não há informações detalhadas sobre doses específicas para cada inseto. Entretanto, de modo geral, as seguintes doses têm apresentado eficácia no controle, principalmente de pragas de hortaliças:  óleo emulsionável: 5,0 ml/litro água; sementes secas: 30 a 40 g/litro água; folhas: 40 g a 50 g/litro água.

É fato que o nível de infestação de mosca-branca cresce linearmente com o passar do tempo, devido, principalmente, à migração dos adultos originários de outros cultivos. Por isso, a importância do monitoramento, com a realização do caminhamento em zigue-zague por toda a área de cultivo do tomateiro, sempre se atentando às bordaduras, deve-se quantificar os adultos em dez plantas/ponto, num total de cinco pontos/área de no máximo 50 ha, sendo consideradas infestadas as plantas que apresentarem um ou mais adultos.

No caso das ninfas, o procedimento deve ser o mesmo, porém, a observação e a quantificação poderão ser feitas com maior qualidade. Para isso, recomenda-se a utilização de uma lupa de bolso com aumento mínimo de oito vezes e o número médio para a tomada de decisão pode ser de dez ninfas/folíolo.


Eficiência comprovada

Diversos resultados de pesquisas realizadas a campo e em laboratório têm demonstrado a ação inseticida do óleo de neem em mosca-branca. Gon et al. (2014) demonstrou eficiência das concentrações do extrato de neem na incidência de ninfas eclodidas, com uma redução de aproximadamente 70% em relação à testemunha.

O uso do neem também é eficiente no controle das ninfas, tanto pela aplicação diretamente nelas quando permanecem no tomateiro, como de forma residual. Soma-se à ação reguladora de crescimento quando ingerida diretamente pela mosca-branca, provocando morte entre dois e cinco dias após o tratamento ou durante a ecdise. 

Contam, ainda, com a ação translaminar, o que garante maior proteção contra os fatores do ambiente, tais como temperatura e raios ultravioletas, o que tende a aumentar a persistência do produto sobre o tomateiro, conduzindo a uma redução na oviposição e aumento mortalidade ninfal de mosca-branca por mais tempo.


Algumas vantagens do óleo de neem:

• Redução de custos;

• Mundialmente aprovado para uso na agricultura;

• Não tóxico para o homem e animais domésticos;

• Totalmente biodegradável;

• Usado no controle de mais de 418 tipos de insetos;

• Nematicida, reduz a população de nematoides;

• Ação fitotônica;

• Não mata os predadores naturais;

• Não afeta os micro-organismos do solo;

• Grande economia de água e manejo, pois reduz o número de pulverizações e entra menos na lavoura.

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