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Nitrogênio e seu manejo

Edwin Assunção

Milho – Créditos: shutterstock

Um levantamento divulgado em dezembro de 2020 pela consultoria SAFRAS & Mercados revela que a comercialização da safrinha de milho para este ano atingirá 24,2% da produção prevista de 83,726 milhões de toneladas. Para que o cultivo de milho 2ª safra continue promissor, é imprescindível que os produtores estejam atentos às épocas adequadas de plantio. Nesse sentido, fatores como o clima favorável, avanços no melhoramento genético e o planejamento do sistema de produção têm permitido excelentes resultados em termos de colheita.

Em relação ao planejamento do sistema de produção e o manejo nutricional, é importante atentar para premissas básicas como a coleta e análise de solo, interpretação dos resultados, recomendações de correção do solo e adubação, sem deixar de lado a exportação dos nutrientes pelas culturas, visando evitar o empobrecimento do solo. Além disso, é fundamental avaliar a adoção da adubação de sistemas, ou seja, a quantidade de todos os nutrientes aportados para as culturas de interesse (soja e milho, por exemplo).

Dentre esses cuidados, o manejo adequado da adubação nitrogenada para a cultura do milho safrinha é um dos temas amplamente debatidos no campo. Considerando as práticas atuais e o potencial produtivo do milho 2ª safra, o nitrogênio (N) é, em geral, um dos nutrientes que merece destaque por ter uma dinâmica particular no sistema solo-planta-atmosfera e apresentar-se como o nutriente exportado em maior quantidade (em kg) para cada tonelada de grão de milho produzida por hectare.

Em condições de segunda safra, a adubação da cultura do milho também não permite erros. As decisões precisam ser profissionais e assertivas. Dentre estas, o fornecimento adequado das formas de nitrogênio que a planta absorve (nitrato e amônio), com reduzidas perdas por volatilização, além da menor acidificação dos solos devem ser consideradas. Uma dica importante é trabalhar com o manejo 4C’s, muito difundido pelo Instituto Internacional de Nutrição de Plantas – IPNI (sigla em inglês), e agora pelo então Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia – NPCT, que considera a dose, local, fonte e época corretos para maximizar a eficiência da adubação nitrogenada e/ou de qualquer outro elemento.

Por conta de restrições hídricas cada vez mais frequentes, o balanço nítrico e amoniacal no fornecimento do nitrogênio para a cultura do milho safrinha é fundamental para potencializar os resultados de colheita, visto que as baixas perdas de NH3 (amônia) por volatilização dessa fonte configuram liquidez para o agricultor, Essa estratégia de adubação nitrogenada também gera um saldo positivo para o sistema de produção, quando se considera a manutenção dos teores de matéria orgânica do solo, efeito do N-NO3- (nitrato) na assimilação de outros nutrientes, tais como o Cálcio (Ca), Potássio (K) e Magnésio (Mg), além de menor acidificação do solo quando comparado às fontes convencionais disponíveis no mercado.

Por outro lado, o aporte de nitrogênio com o uso de fertilizantes convencionais, como por exemplo a ureia, permite perdas variáveis desse nutriente para a atmosfera por meio do processo de volatilização de gás amônia, em função das condições ambientais e das épocas de aplicação. Isso também configura perdas potenciais de produtividade e baixa liquidez para o agricultor. As perdas abordadas, tanto do nitrogênio por volatilização quanto em produtividade de milho, devem ser avaliadas conforme o manejo nutricional adotado pelo produtor, incluindo os momentos de aplicação dessa fonte.

O questionamento que fica aqui é: vale mesmo a pena perder nitrogênio para a atmosfera e sacos a mais por hectare, considerando os preços favoráveis do grão pagos ao produtor? Os especialistas avaliam que essa pode não ser uma boa opção, uma vez que é importante converter o nitrogênio, que pode ser perdido, em grãos e posteriormente em lucro líquido para a sua propriedade. Novamente, o manejo 4C’s, conforme citado acima, responde muito bem essa questão!

Indicamos também que a aquisição de fertilizantes nitrogenados faça parte do planejamento de safra do agricultor para evitar que o mesmo seja surpreendido pela baixa oferta desse fertilizante no momento de decisão do cultivo das áreas de milho safrinha. Nesse contexto, a 2ª safra deixou de ser menos atrativa, visto que os preços e boas relações de troca continuam compensando.

Destaca-se que, em situações de restrições da janela de plantio se faz necessário investir em nutrição eficiente e completa, seleção do híbrido adaptado à região, controle de pragas, doenças e plantas daninhas, além do manejo do solo. Todos esses fatores também colaboram para a formação adequada do estande de plantas, para a melhor exploração do potencial produtivo em uma área cultivada e, consequentemente, menores perdas de produtividade.

De maneira geral, temos a configuração soja-milho 2ª safra bem difundida em diversas regiões do Brasil, mas as análises criteriosas quanto à adubação de uma cultura interferindo no rendimento da cultura seguinte, ou até mesmo o efeito residual (reciclagem de nutrientes) dentro do sistema produtivo, ainda são pouco explorados em alguns locais. Deste modo, acreditamos que com o ambiente produtivo equilibrado e alta eficiência de uso do nitrogênio temos o caminho para colher mais milho na segunda safra.

*Edwin Assunção é Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia (Solos e Nutrição de plantas) e Especialista Agronômico da Yara Brasil Fertilizantes.

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