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Nova mosca-branca – Ainda mais resistente

 

Eliane Dias Quintela

Entomologista, PhD. e pesquisadora da Embrapa Arroz e Feijão

eliane.quintela@embrapa.br

 

Crédito Embrapa Arroz e Feijão
Crédito Embrapa Arroz e Feijão

A mosca-branca Bemisia tabaci pertence a um complexo de espécies morfologicamente semelhantes que estão em constante evolução. No Brasil, pelo menos quatro espécies de B. tabaci estão presentes: Middle East Ásia Menor 1 – MEAM1 (biótipo B), Novo Mundo e Novo Mundo 2 (biótipo A).

A mosca-branca Mediterrâneo – MED (biótipo Q) foi observada em 2013 no Rio Grande do Sul, ainda não havendo relato de sua dispersão para outras regiões do Brasil.

O biótipo Q é resistente aos inseticidas neonicotinoides e juvenoides e também transmite espécies de vírus que não estão presentes no Brasil, tais como o ToTV (vírus tomate assado) e o TYLCV (Amarelo tomate leaf curl virus), importantes doenças virais no tomate em países que ocorrem o biótipo Q. Este novo biótipo coletado no Brasil pode mudar o atual cenário das espécies de vírus predominantes no Brasil.

Evolução

A B. tabaci foi descrita há mais de 100 anos, e desde então se tornou uma das pragas mais importantes do mundo na agricultura tropical e subtropical, bem como em cultivo protegido. Adapta-se facilmente a novas plantas hospedeiras e regiões geográficas, tendo sido observada em todos os continentes, exceto na Antártida.

O transporte internacional de material vegetal e de pessoas, bem como o aumento da produção e das áreas agrícolas, tem contribuído para a propagação geográfica desta espécie.

No Brasil, antes da introdução do biótipo B, em 1991, B. tabaci era praga importante somente do feijão como vetor do vírus do mosaico dourado. Após sua introdução, a propagação e o aumento no tamanho da população do biótipo B foram favorecidos pelo sistema de cultivo agrícola do Brasil.

Esta praga cosmopolita alimenta-se de mais de 600 espécies de plantas e a gama de plantas hospedeiras tem aumentado no decorrer do tempo, o que tem sido atribuído, entre outras razões, ao uso de práticas agrícolas de monocultivo irrigado.

Este grande número de hospedeiros tem permitido que a mosca-branca reproduza e migre de forma rápida, tanto nos vários hospedeiros silvestres como nos cultivados, como o algodão, soja, tomate, feijão, batata, melão, etc., muitas vezes atingindo tamanhos extremamente elevados de população.

Culpa do milho

“Nuvens“ de mosca-branca inseto têm sido observadas no Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraná, Mato Grosso e Goiás, provocando perdas de 30 a 100% em diversos cultivos.

Além disso, devido ao clima tropical e longo período vegetativo, uma segunda safra de milho, conhecida como “safrinha”, é plantada em fevereiro, imediatamente após a colheita da soja ou feijão cultivados durante outubro e novembro de cada ano.

Este sistema agrícola tem favorecido a reprodução do biótipo B no milho nos últimos 3-4 anos, um hospedeiro até recentemente improvável para esta praga. A capacidade demonstrada do biótipo B de B. tabaci completar seu ciclo de vida no milho tem implicações em outros sistemas agrícolas tropicais de todo o mundo, onde o milho é cultivado como uma das principais culturas para a alimentação animal, humana e produção de biocombustíveis.

A colonização de milho pelo biótipo B de B. tabaci é uma ameaça potencial para outras espécies comerciais de gramíneas, incluindo o sorgo, o capim Brachiaria e a cana-de-açúcar, que são cultivados extensivamente no Brasil.

 

O biótipo Q é resistente aos inseticidas neonicotinoides e juvenoides - Crédito Keyplex
O biótipo Q é resistente aos inseticidas neonicotinoides e juvenoides – Crédito Keyplex

Prejuízos

Perdas excessivas na produção de grãos, hortaliças e plantas ornamentais por B. tabaci biótipo B têm sido observadas no mundo todo. As perdas são decorrentes da transmissão de vírus (mais de 150 espécies), danos diretos pela alimentação da seiva do floema, por causar distúrbios fisiológicos na planta e pela excreção de substância açucarada que favorece o crescimento de fungos nas folhas (fumagina).

Controle

O principal método de controle da mosca-branca continua sendo o uso de inseticidas sintéticos, que são aplicados várias vezes praticamente durante todo o ano, nas diversas culturas. Vários inseticidas, apesar de serem comercializados com nomes diferenciados, são constituídos pelos mesmos princípios ativos.

Os inseticidas mais utilizados para o controle de mosca-branca são os neonicotinoides, as misturas de neonicotinoides + piretroides e reguladores de crescimento (juvenoides e inibidores de síntese de quitina) que trouxeram, como consequência, uma redução na eficiência e no poder residual.

Nenhuma estratégia de controle, quando usada isoladamente, tem demonstrado ser efetiva para o manejo da mosca-branca e dos vírus que ela transmite. As medidas de controle devem ser iniciadas antes da semeadura, e devem ser planejadas de forma que a população da mosca-branca seja mantida baixa, pois, uma vez fora de controle, dificilmente, qualquer que seja a medida utilizada, terá um resultado satisfatório.

Essa matéria você encontra na edição de agosto da revista Campo & Negócios Hortifrúti. Adquira a sua.

 

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