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Nutrição favorece resistência à podridão floral dos citros

Uma nutrição adequada é a chave para fortalecer os citros e torná-los mais resistentes à podridão floral, garantindo uma colheita saudável e produtiva.

Franciely da Silva Ponce
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Horticultura – FCA/UNESP
francielyponce@gmail.com

A podridão floral dos citros é causada pelo fungo Colletotrichum acutatum, que incide sobre flores e frutos em formação, ocorrendo em quase todas as espécies de citros, sendo mais comum em pomares de laranjeiras doces, limões verdadeiros e limas ácidas.
A doença pode se manifestar em qualquer fase do florescimento, sendo mais comum no estádio final de formação das flores (cotonete) e antese. A doença ocorre de forma esporádica, estando ligada a períodos com chuvas intensas, no entanto, pode promover muitas perdas.
O uso de adubação suplementar de cálcio tem se mostrado benéfica e auxilia na redução da ocorrência da doença. O cálcio é um nutriente essencial para as plantas, devido a sua importância para a formação das paredes celulares, dando resistência às células vegetais.
O cálcio é fornecido às plantas pela calagem, adubação via sulco ou foliar. Os sintomas de deficiência são observados em tecidos com crescimento rápido, normalmente em frutos. No entanto, em caso acentuado de deficiência, as células das folhas apresentam resistência reduzida.
Os sintomas de deficiência se manifestam em forma de podridão na região apical, principalmente de frutos.

Nutrição é uma ferramenta contra doenças
Crédito: Shutterstock

Cuidados

Os citros, por apresentarem floração abundante e por se tratarem de plantas perenes, requerem atenção quanto à suplementação mineral adequada. Isso porque o fornecimento de nutrientes de forma adequada, em quantidade e época correta, proporciona maior resistência contra doenças e/ou pragas.
Alguns estudos têm demonstrado que laranjeiras bem nutridas com cálcio (Ca) apresentam maior resistência a patologias como a podridão floral dos citros. Os resultados apontam que plantas com maior suprimento de Ca solúvel apresentaram pétalas com paredes celulares epidérmicas mais espessas, que proporcionaram maior resistência contra a penetração direta do fungo e, consequentemente, mostraram baixa incidência da doença.

Benefícios da nutrição adequada

Em citros, o acúmulo de nutrientes segue a seguinte sequência: Ca > N > K > Mg > P > S, sendo o cálcio o elemento mais requerido pela planta. Os nutrientes são absorvidos durante todo o ciclo da cultura, no entanto, são mais requeridos durante a floração e formação dos frutos.
Por se tratar de um elemento imóvel na planta, a adubação com Ca, nos períodos de maior exigência, garante o fornecimento adequado.
Cerca de 60% do Ca absorvido pelas plantas passa a fazer parte da estrutura das células, formando as paredes celulares e exercendo um importante papel na estabilidade dos tecidos, influenciando na textura firmeza e amadurecimento dos frutos. Além disso, está ligado à síntese de etileno e reduz a ocorrência de doenças pós-colheita.
O fornecimento de Ca proporciona maior estabilidade das paredes das células, maior qualidade das flores e maior espessura das pétalas, o que dificulta a colonização dos tecidos por parte do fungo da podridão floral dos citros. A espessura das folhas também aumenta, com a adubação com cálcio.
Além disso, em citros proporciona redução na ocorrência de algumas doenças, como a podridão da raiz, causada por Phytophthora nicotianae. O uso de caulim nos troncos das laranjeiras reduz a infestação de insetos vetores, como psilídeo [Diaphorina citri Kuwayama (Hemiptera: Psyllidae)], transmissor do greening (Huanglongbing/HLB).
Em citros, a deficiência de Ca promove uma maior absorção de nitrogênio e potássio, promovendo um desequilíbrio nutricional, o que leva à menor resistência da planta a intempéries climáticas e maior suscetibilidade a doenças e ataque de pragas.

Podridão floral dos citros

A doença encontra-se difundida nas áreas de cultivo de citros e pode ocorrer em diversas espécies de plantas cítricas, ocasionando muitas perdas, que podem ultrapassar 80% da produção, dependendo da severidade.
A doença pode acontecer durante o período de floração, quando os botões se encontram totalmente formados, após a antese e logo após o pegamento dos frutos. Os danos reduzem drasticamente o pegamento e o desenvolvimento dos frutos. O excesso de chuva durante a floração e temperatura acima de 20 ºC e a floração fora de época são os principais promotores da doença.
A precipitação tem elevada importância para a ocorrência da doença. Em condições de 40 mm de chuva observa-se cerca de 10% de plantas afetadas pela doença, no entanto, sob 80 mm, a incidência sobe para cerca de 60% das plantas.
O tempo de molhamento foliar, a quantidade de chuva e temperatura são decisivas para o estabelecimento e severidade da podridão floral dos citros.

Na dose certa

Os sintomas são caracterizados pelo surgimento de manchas alaranjadas e posteriormente marrons (necrose), que podem incidir sobre o estilo, o estigma, pétalas e frutos.
O fornecimento de adubação com cálcio via fertirrigação, nas dosagens de Ca três vezes ao dia, proporcionou aumento da espessura da epiderme das folhas e das pétalas, sendo responsiva em função da dosagem.
Ou seja, quanto maior a dosagem, maior a espessura da epiderme, que em folhas obteve-se folhas com espessura de 0,65 µm, 1,17 µm e 1,35 µm nas dosagens 30, 150 ou 300 mg L-1, respectivamente. Em pétalas, observou-se 0,42 µm, 0,78 µm e 0,97 µm, nas mesmas dosagens.
A concentração de micronutrientes mostrou-se importantíssima na relação patógeno/hospedeiro, reforçando a importância da adubação balanceada para a redução da incidência e severidade de doenças.
No caso da podridão floral dos citros, a redução da incidência da doença está diretamente ligada à maior resistência dos tecidos das plantas, devido ao espessamento das paredes celulares. Este efeito proporcionou menor colonização dos tecidos, além de refletir sobre as estruturas reprodutivas do fungo, reduzindo sua multiplicação.
Além do Ca, o silício tem sido relacionado à adição de resistência dos tecidos das plantas, protegendo contra pragas e patógenos.
O estudo realizado por Guilherme Petená e Dirceu Mattos Jr. serviu como base para o presente artigo, sendo um estudo completo e útil para o posicionamento adequado da fertilização como ferramenta de manejo de doenças na cultura de citros.

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