Autores
José Geraldo Mageste
jgmageste@ufu.br
Wedisson Oliveira Santos
wedisson.santos@ufu.br
Doutores e professores – Universidade Federal de Uberlândia (UFU/ICIAG)
Renan Cesar Dias Silva
Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia – UFU/ICIAG
renancesar.agro@outlook.com
A adubação via foliar visa o fornecimento de nutrientes às plantas de forma prontamente absorvível, cuja finalidade é a correção imediata das deficiências, servindo como uma complementação da adubação via solo. Neste tipo de adubação são fornecidos principalmente micronutrientes, os quais são demandados em baixas quantidades pelas plantas e também pelo fato de que a aplicação de alguns destes via solo não apresenta uma eficiência tão boa quanto via foliar.
Nutrição foliar
É preciso considerar, além do nutriente em si, os aspectos fisiológicos das plantas. Plantações de eucalipto após o quarto ano de idade não costumam responder a adubações foliares com micronutrientes. Uma das explicações é que o sistema radicular já pode estar suficientemente desenvolvido, explorando um grande volume de solo, possibilitando maior absorção radicular de nutrientes pelas plantas, incluindo os micronutrientes.
Além do mais, existe dificuldade de aplicação foliar por não se conseguir atingir suficientemente toda a parte aérea das árvores onde existem folhas aptas para absorver o nutriente. Geralmente folhas velhas já podem ter iniciado um processo de abscisão ou estão próximas à senescência.
Assim, é fácil entender que aplicar nutrientes em plantas com necessidade de redução de área foliar (atravessando um estresse hídrico, por exemplo), apresenta baixa eficiência.
Manejo certo
Boro e Zn se destacam como os micronutrientes que mais são reportados problemas de deficiências em plantio de eucalipto, especialmente em solos mais arenosos. Existe uma crendice de que a adubação foliar com esses micronutrientes deve ser administrada nos meses de intenso repouso vegetativo, quando a planta não está emitindo brotação nova.
De fato, o repouso vegetativo é também estimulado pela baixa disponibilidade de água no solo, que é coincidente com o inverno seco. Nestas condições, a matéria orgânica do solo, fonte principal de boro para as plantas, tem ciclagem reduzida devido à menor atividade biológica e restrição hídrica, limitando o suprimento de boro às plantas.
Adicionalmente, a baixa disponibilidade de água limita o transporte de nutrientes no solo por ambos os mecanismos, fluxo de massa para boro e difusão, para zinco. Portanto, a adubação foliar surge como alternativa para fornecimento desses nutrientes em períodos de baixa umidade do solo, quando o transporte de nutrientes é minorado, em magnitude correspondente ao nível de restrição hídrica.
Cuidados
A técnica de adubação foliar exige cuidados, como:
Ü Evitar uma calda excessivamente salina (embora não se tenha notícia de desfolhamento total de plantas por aplicação de sais de micronutrientes). Isto pode acontecer em situações de alta concentração de íons na solução salina, podendo levar do desfolhamento total ou parcial das plantas à morte (é mais comum em culturas agrícolas que plantações florestais).
Assim, é essencial conhecer as concentrações de sais recomendadas para a produção das caldas de pulverização. Geralmente, para o boro e zinco, utilizando as fontes ácido bórico e sulfato de zinco, recomendam-se concentrações destes sais na calda de pulverização, entre 3,0 – 5,0 g/L, sendo o volume de calda variável.
Ü Facilitar a absorção dos micronutrientes usando formulados ou coadjuvantes que auxiliem a absorção pelas folhas (espalhantes adesivos, por exemplo).
Ü Misturas excessivas de diversas fontes como sulfatos, óxidos e hidróxidos e outras formulações químicas. Ultimamente vem se notando uma tendência entre os diversos técnicos florestais de querer reduzir ao máximo o número de operações de pulverizações. Assim, procura-se colocar todas as fontes num mesmo recipiente. Como resultado, pode ocorrer uma precipitação no fundo do tanque, excessivo entupimento de bicos e variações de pH a nível que impeça a absorção.
Ü Horário de pulverização: tendo em vista a necessidade de aplicação em grandes áreas, é comum a operação de pulverização se estender por até altas horas, quando grande parte das folhas já estão molhadas de orvalhos (e os estômatos completamente fechados, dada a queda de temperatura).
Nesta situação, a devida correção do nutriente pulverizado será mais eficiente se não houver a formação de uma gota que pode escorrer pelas folhas, perdendo grande parte da calda aplicada. O operador deve ter atenção especial para este fenômeno, fazendo uma verificação constante nas árvores aplicadas e controlando a velocidade de deslocamento do equipamento. Esta condição facilita aumentar o tempo de secamento da calda aplicada sobre a folha, aumentando a quantidade absorvida.
Resultados observados
Tomando-se os devidos cuidados com a fonte do nutriente a ser aplicado, com a máxima eficiência do equipamento a ser utilizado, com as condições climáticas do local (não fazer aplicações quando as condições atmosféricas indicam chuvas nas próximas horas), com o controle de pH da calda, evitando-se caldas excessivamente ácidas ou básicas (pH abaixo de 4,0 ou acima de 9,5), tem se observado a correção da deficiência da maioria dos micronutrientes em plantações de eucalipto.
Isto pode acontecer principalmente para o B, um micronutriente muito importante para esta espécie nos primeiros três anos de crescimento das plantas. A sua deficiência leva à morte da brotação apical, e ao que se denomina como “seca de ponteiros”.
A devida correção de micronutrientes em plantações de eucalipto, principalmente o B, evitando-se a “seca de ponteiros”, proporciona ganhos em crescimento das plantas. Mesmo quando não há crescimento efetivo das plantas com a aplicação foliar de B, devido ao período seco, a mitigação da ocorrência da seca dos ponteiros é altamente desejável, tendo em vista que esse distúrbio diminui expressivamente a qualidade dos troncos, devido à quebra da dominância apical, levando ao super brotamento das plantas.
Adicionalmente, reforça-se que para uma espécie que pode ganhar um volume de até 45 m3.ha.ano (IMA), os danos de crescimento representam enormes prejuízos. Além do mais, em muitos casos a comercialização da madeira para postes, estacas, moirões, etc., exige uma forma cilíndrica uniforme, logo, a deficiência de B leva fatalmente ao descarte da parte do tronco que está tortuosa.
Em muitas espécies, como o E. terenticornes, ou para a espécie Corimbya citriodora (que não é mais do gênero Eucalyptus), que são exigentes em fertilidade do solo, a aplicação de micronutrientes em pulverizações determinam o sucesso da cultura em ganhos de produtividade.
Fique atento
Além dos erros apontados anteriormente com a mistura de diversas fontes de micronutrientes incompatíveis ou a não com adição de coadjuvantes que possam facilitar a absorção, devem ser observadas as condições fisiológicas das plantas.
Plantas em completo estado de repouso fisiológico induzido, por exemplo, pela frequente ocorrência de temperaturas baixas (abaixo de 12ºC), não estão em condições de absorção dos nutrientes aplicados via aérea. O mesmo acontece com plantas em completo estresse hídrico, com desfolhamento pronunciado.
Como na adubação foliar os nutrientes são aplicados geralmente em soluções verdadeiras, as fontes devem apresentar elevada solubilidade em água e elevada pureza. Para B, a fonte mais utilizada é o ácido bórico. Para Zn, Cu, Mn e Fe, cloretos, sulfatos e quelatos representam as principais fontes.
Em geral, os quelatos são tidos como mais eficientes na adubação foliar, pois previnem a adsorção desses metais no espaço livre aparente (região com elevada CTC compreendida entre a cutícula e a parede celular foliar), além do menor risco de fitotoxidez. Entretanto, alguns estudos têm demonstrado que quelatos e sais possuem eficiências similares.