Rafael Rosa Rocha
Engenheiro agrônomo e mestre em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
rafaelrochaagro@outlook.com
Rayla Nemis de Souza
Engenheira agrônoma e mestranda em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT)
rayla.ns@outlook.com
Marla Silvia Diamante
Engenheira agrônoma, mestre e doutora em Agronomia/Horticultura – UNESP
marlasdiamante@gmail.com
Na agricultura, um conjunto de ferramentas são necessárias para sobressair sobre a presença de nematoides no solo, sendo elas o uso de cultivares resistentes, plantas antagonistas e a aplicação de produtos químicos e/ou biológicos, via tratamento de sementes ou sulco de semeadura.
Esses formam o complexo de ferramentas com grande potencial de utilização no manejo para diminuir a presença e danos dos nematoides, desta forma, reduzindo o recrudescimento de nematoides no solo.
Desafios
O cultivo da soja nos últimos anos tem se tornado extremante desafiador, devido à elevada diversidade de problemas fitossanitários que incidem na cultura, por exemplo, um complexo de patógenos habitantes do solo tem aumentado significativamente.
Microrganismos de difícil controle atacam o principal órgão da planta (raízes) em seu período mais crítico de desenvolvimento, acarretando perdas no rendimento da cultura. Dentre os diversos grupos de microrganismos que habitam o solo e podem atacar as raízes da soja, os nematoides parasitas de plantas têm papel de destaque, com perspectivas sólidas de agravamento para os próximos anos, muito em função do sistema intensivo de cultivo.
Esses parasitas possuem ampla distribuição geográfica e são capazes de causar severos danos à cultura da soja, podendo impactar em mais de 50% da produção. Dependendo de alguns fatores, esses impactos podem até serem maiores.
Fatores que contribuem neste processo passam, inevitavelmente, pelo grau de suscetibilidade da cultivar, densidade populacional da espécie envolvida, bem como as condições climáticas durante o cultivo.
Espécies mais agressivas
Das espécies que atuam abaixo da linha do solo, os nematoides das galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus), o nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines) e o nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis) figuram como as principais espécies associadas ao sistema radicular das plantas de soja.
No entanto, recentes estudos de mapeamento em diversas regiões do Brasil têm apontando o surgimento de espécies de nematoides potenciais para a cultura, como é o caso de Helicotylenchus dihystera, Scutellonema brachyurus e Tubixaba tuxaua.
Sintomas
Alguns sintomas que a planta expressa, quando atacada por esses microrganismos, podem ser facilmente diagnosticados pelos produtores. O primeiro aspecto percebido e quase sempre não creditado à presença de nematoides passa por um leve declínio na produção, que evolui consideravelmente nos anos subsequentes por aumento das populações desses microrganismos.
Outros são visualizados nas lavouras, como a diminuição no tamanho de plantas, seguido de amarelecimento na parte aérea, e também a ocorrência de murchamento e queda de folhas, normalmente disposto em manchas ou reboleiras.
Já os sintomas visualizados abaixo da linha do solo passam por uma abrupta redução no volume do sistema radicular, apresentando uma coloração mais escura, seguido de necrose causada pela rápida colonização de agentes oportunistas, ou até mesmo deformações na estrutura do sistema radicular, comumente conhecida como galhas.
No entanto, o fato da observação desses sintomas não deve ser tomado como medida única de identificação, pois servirão apenas como indício da problemática, sendo necessária a identificação da espécie. O envio das raízes para um laboratório de nematologia o mais breve possível é indispensável, pois desta forma se consegue melhor identificação.
Manejo
Para controle de nematoides, o sucesso do manejo de fitonematoides passa primeiramente pela identificação e quantificação das espécies presentes na área. Para culturas de ciclo curto, todas as medidas de controle devem ser executadas antes da semeadura.
Ao constatar que uma lavoura de soja está atacada, o produtor nada poderá fazer naquela safra. Nesse caso, todas as observações e cuidados deverão estar voltados para os próximos cultivos na área.
Deve-se optar por medidas combinadas que possibilitem a manutenção das populações próximas ou abaixo do limiar de dano econômico. O manejo e controle de fitonematoides não é tarefa fácil, pois, dependendo do nível de infestação e a espécie presente na área, cada cenário ou situação exigirá adoção de uma medida diferente.
Cabe ressaltar que a dificuldade aumenta principalmente em áreas com mais de uma espécie. Nesses casos, os esforços são ainda maiores.
Por onde começar?
De maneira geral, a rotação ou sucessão com plantas não hospedeiras ou a utilização de hospedeiras desfavoráveis com baixo fator de reprodução (FR) do nematoide, associado a temperaturas baixas, podem reduzir a densidade populacional do nematoide no solo, pois impedem o contato patogênico desses organismos com as raízes.
A utilização de cultivares resistentes, plantas antagonistas e a aplicação de produtos químicos ou biológicos, via tratamento de sementes ou sulco de semeadura, formam o complexo de ferramentas com grande potencial de utilização no manejo. Quando somados, podem apresentar resultados ainda mais satisfatórios.
Biológicos
O controle biológico é uma medida eficiente e economicamente viável, cujo objetivo é reduzir populações de patógenos por meio de organismos vivos que ocorrem na área ou são introduzidos, com a finalidade de controlar determinado patógeno.
Dentre os organismos mais estudados, destacam-se fungos e bactérias, podendo-se citar o gênero de fungos Trichoderma e as bactérias do gênero Bacillus. O gênero Trichoderma tem ação no controle de fitopatógenos e na promoção de crescimento vegetal e, por serem organismos versáteis, podem atuar de diversas formas no controle de nematoides, como pela produção de toxinas, modificações dos exsudatos radiculares, ou pela colonização do fungo em locais característicos de penetração do nematoide.
Ação direta
Os fungos do gênero Trichoderma apresentam eficiência no controle de nematoides, podendo atuar por meio de diversos mecanismos, como parasitismo, indução de resistência e promoção de crescimento de plantas.
A utilização de Trichoderma spp. como agente de controle de fitopatógenos tem cada vez mais sido estudada, pois, além de apresentarem eficiente controle, os fungos ocorrem em todo o mundo, podendo ser facilmente encontrados e isolados, além de não causarem risco à saúde humana e ao meio ambiente, e serem facilmente propagados devido à rápida taxa de crescimento e produção de conídios.
Estes fungos produzem diversas enzimas extracelulares, como as lipases, capazes de degradar reservas energéticas e atuar nos lipídeos das membranas dos nematoides. Como já citado, ele atua inibindo fitopatógenos habitantes de solo.
Além do efeito direto sobre os fitopatógenos, o fungo Trichoderma também pode atuar na decomposição de matéria orgânica e na degradação de resíduos tóxicos em solos contaminados com agrotóxicos.
Eficácia
No controle dos nematoides, as bactérias do gênero Bacillus são muito eficientes, atuando na fitoproteção por meio de compostos (toxinas) que interferem no ciclo reprodutivo dos nematoides no solo, pela formação de biofilmes no sistema radicular das plantas, além de melhorias na qualidade do solo.
No caso do tratamento químico de sementes, ele consiste na aplicação de compostos sintéticos com as mais diversas finalidades, mas com o mesmo objetivo: controle dos nematoides e melhor potencial na fase inicial ou estande.
Biológicos x químicos
No final das contas, ambos os tipos de tratamentos – biológicos e químicos – podem ser utilizados tanto em conjunto como separadamente. Tais escolhas dependem das necessidades e preferências do produtor.
Atualmente, existem mais de 100 cultivares de soja resistentes ou moderadamente resistentes a M. incognita e/ou M. javanica disponíveis no Brasil. Como os níveis de resistência dessas cultivares não são altos, em condições de elevadas populações do nematoide no solo, a utilização da cultivar resistente deverá ser precedida de rotação com uma cultura não ou má hospedeira.
Para isso, é preciso conhecer, em nível de espécies, qual nematoide está presente na área e, a partir dessa informação, procurar culturas não hospedeiras e de interesse econômico para serem utilizadas na rotação.
É possível, também, após saber qual a espécie presente na área, fazer uso de cultivar resistente. Algumas culturas apresentam materiais geneticamente modificados resistentes a nematoides que apresentam boas características agronômicas e que podem ser utilizadas sem nenhuma perda econômica.
Sustentabilidade
Uma novidade no controle de nematoides que está ganhando cada vez mais espaço é o controle fazendo uso de plantas. Esta prática tem se mostrado muito eficiente, além de ser sustentável.
Existem diversos órgãos vegetativos que podem ser utilizados no controle dos nematoides. Esse controle pode ser realizado por meio do uso de extratos vegetais, aplicação de tortas, ou ainda pela incorporação do material vegetal no solo.
Ambos podem ser incorporados ao solo devido à presença do isotiocianato, um composto tóxico para os nematoides. Muitas espécies de plantas, a depender dos seus compostos, podem ser cultivadas na área e no final do ciclo, incorporadas no solo.
Esta medida atua na redução da população de nematoides, auxiliando na implantação da cultura subsequente. Deste modo, fica evidente a necessidade de medidas conjuntas em áreas com nematoides. Fique atento às medidas preventivas e evite nematoides em sua área!