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Os desafios do manejo de resistência de Plantas daninha

Autores

Diarly Sebastião dos Reis
Engenheiro agrônomo e mestre em Agronomia/Produção Vegetal
diarly.reis@gmail.com
Ronaldo Machado Junior
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutorando em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
ronaldo.juniior@ufv.br
Roque de Carvalho Dias
Engenheiro agrônomo, mestre em Agronomia/Produção Vegetal e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – Unesp/FCA
roquediasagro@gmail.com

Crédito Larry Steckel

O principal desafio da agricultura no momento é a produção de alimentos em grande escala, atendendo as demandas humanas em quantidade e qualidade, de uma maneira socialmente justa e preservando os recursos naturais. Porém, qualquer produção agrícola é ameaçada por diversos fatores, como intempéries climáticas, pragas, doenças, plantas daninhas, entre outros.

Alerta

As plantas são consideradas daninhas se estiverem direta ou indiretamente prejudicando uma determinada atividade humana num determinado período. Assim, até uma planta de importância econômica pode ser daninha se ela não estiver no local e momento adequado. 

O principal método de manejo de plantas daninhas em culturas agrícolas é o químico. Este envolve o uso de produtos denominados herbicidas para controle destas plantas. O simples uso destes produtos, em algumas situações de maneira não tão adequada, pode selecionar plantas resistentes.

Entende-se por resistência a habilidade hereditária de uma planta se desenvolver e reproduzir após a exposição a um herbicida (nas mesmas condições edafoclimáticas e agronômicas), o que seria letal a outros indivíduos da população daquela espécie.

Esta pode ocorrer de forma natural (selecionada em biótipos dentro de populações de plantas daninhas no campo por meio do uso de herbicida) ou concebida por técnicas de engenharia genética ou seleção de genótipos diferentes produzidos por culturas de tecidos ou mutagêneses, denominada transgenia (transgênicos).

Como acontece?

A resistência de plantas daninhas a herbicidas pode ser classificada como simples, cruzada ou múltipla. Simples, quando biótipos de plantas daninhas são resistentes a um único herbicida dentro de um mesmo mecanismo de ação.

A resistência cruzada acontece quando as plantas daninhas são resistentes a dois ou mais herbicidas de diferentes grupos químicos, porém, que pertença a um mesmo mecanismo de ação. Já a resistência múltipla é quando as plantas daninhas possuem resistência a mais de um herbicida de diferentes mecanismos de ação.

O manejo da resistência depende de vários fatores, como genéticos, bioecológicos e agronômicos. Os genéticos estão relacionados à frequência inicial da mutação, que confere resistência, características da herança da resistência, tipo de fecundação e fluxo gênico. Os bioecológicos estão relacionados com as características das plantas daninhas e os fatores agronômicos estão ligados ao herbicida e ao manejo, que podem ser conduzidos de forma positiva ou negativa, dependendo das técnicas utilizadas.

O fato da maioria das plantas resistentes serem dicotiledôneas traz atenção a uma das classes mais antigas e importantes de herbicidas, que são os mimetizadores de auxina. As plantas da família Poaceae, a maioria das monocotiledôneas, possuem naturalmente maior tolerância a estes herbicidas, ao contrário das plantas dicotiledôneas, que são em quase sua totalidade sensíveis a esta classe.

Portanto, é muito utilizado em culturas como pastagens, trigo, arroz e milho (todas monocotiledôneas) em detrimento a culturas como a soja (dicotiledônea).

Estes fatos trazem grande importância ao manejo da resistência, e são necessárias novas tecnologias para auxiliar os produtores neste manejo. Modelos de manejo de plantas daninhas e da resistência com culturas transgênicas, resistentes a mimetizadores de auxina (2,4-D e Dicamba) são uma das opções à disposição do produtor. Nestes há a combinação dos produtos citados com outros mecanismos de ação, como os inibidores da EPSPs e inibidores da ACCase, sendo as culturas, por meio da transgenia, resistentes aos herbicidas dos grupos citados.

Assim, como o mecanismo de ação dos produtos são diferentes, se a planta daninha for resistente a um herbicida, o outro deverá controlá-la. O objetivo é que o manejo de plantas invasoras se mantenha simplificado, principalmente em áreas em que o controle utilizando glifosato é ineficiente, seja pela presença de plantas daninhas resistentes ou tolerantes, já que este produto é o principal para controle de plantas daninhas no sistema soja.

Eficiência

Os mimetizadores de auxina foram escolhidos devido a sua grande eficiência no controle de plantas daninhas dicotiledôneas e pelo baixo número de casos de resistência encontrados, apesar de serem os primeiros produtos a serem produzidos pela indústria para manejo das plantas daninhas de folhas largas.

Uma das preocupações a respeito do uso dessas novas tecnologias se baseia nos seus possíveis efeitos sobre as plantas não-alvo, ou seja, culturas ou plantas nativas que estejam próximas às lavouras pulverizadas. Isto porque, se não respeitadas as boas práticas da tecnologia de aplicação, pode haver deriva destes herbicidas, atingindo esses organismos.

Tecnologia de aplicação

A tecnologia de aplicação de pesticidas é o emprego de todos os conhecimentos científicos que proporcionem a colocação do produto biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica e com o mínimo de contaminação ambiental.

Um dos fatores que influencia a tecnologia de aplicação é o clima. Em se tratando de herbicidas e condições climáticas, o fator principal levado em consideração é a deriva (transporte das gotas pulverizadas pelo vento). Quanto menor o diâmetro das gotas e maior a velocidade do vento, maior será a distância percorrida pela gota até atingir o solo.

Fique de olho

A pulverização de herbicidas requer muita atenção, pois se ocorrer deriva, esta pode atingir outros ambientes, promovendo contaminação ambiental e danos em culturas sensíveis aos produtos em questão. É importante ressaltar que, em condições normais, a soja e o algodão possuem alta sensibilidade a estes produtos, o que não ocorre se ela for transgênica (resistente a estes produtos).

Em relação à deriva, várias medidas podem ser tomadas a fim de evitá-la, todas levando em consideração o uso das medidas da tecnologia de aplicação e das boas práticas agrícolas. Alguns exemplos das tecnologias seriam o emprego de adjuvantes, pontas e bicos de pulverização que diminuem a deriva, como de indução de ar, utilização de gotas maiores e emprego de maiores volumes de calda, já que o Glifosate, 2,4-D e Dicamba são sistêmicos. 

Em relação ao clima, o ideal é que as pulverizações ocorram nas horas mais frescas do dia, com temperaturas abaixo dos 30°C, umidade relativa com mínimo de 60% e ventos na faixa de 3,2 a 6,5 Km/h.

Em se tratando da aplicação de mimetizadores de auxina, além da deriva pode ocorrer a volatilização do produto, que consiste na transformação do herbicida (na maioria das vezes líquido, misturado na calda de pulverização) para a forma de gás. Assim, se não respeitadas as condições corretas de aplicação e as distâncias mínimas necessárias, culturas e plantas sensíveis podem ser atingidas.

Para minimizar esses problemas, tem-se investido no desenvolvimento de novas formulações, que conferem, por exemplo, a menor pressão de vapor à formulação final, diminuindo assim sua volatilização.

Além disso, vale destacar a correta limpeza dos equipamentos de pulverização, principalmente se eles forem usados em culturas dicotiledôneas, que são sensíveis aos mimetizadores de auxina. Empresas têm desenvolvido vários produtos que são adicionados na água de lavagem e atuam retirando os resíduos de herbicidas.

Controle integrado

O controle químico foi ressaltado até aqui, devido ser o principal para o manejo de plantas daninhas em plantios de larga escala, principalmente das culturas aqui abordadas. Porém, o manejo de qualquer planta daninha deve ser feito de forma integrada, utilizando diversas medidas de manejo, de modo que nenhuma das tecnologias e práticas adotadas fiquem sobrecarregadas.

Na maioria das regiões no Brasil, as culturas são cultivadas em complexos e diversos sistemas, assim, qualquer medida de manejo deve ser planejada, levando em consideração as culturas subsequentes. Isto porque em muitos casos será necessário o uso de produtos com efeito residual na dessecação e pré-plantio.

 Em relação as outras medidas e métodos de controle, as principais no manejo e prevenção da resistência são: utilização de sementes de qualidade; espaçamento correto; variedades precoces; nutrição equilibrada; limpeza de máquina e implementos; rotação de culturas e de herbicidas com mecanismos de ação diferentes; mistura de herbicidas com mecanismos de ação diferenciados; acompanhamento dos resultados das aplicações e da mudança da distribuição e colonização da flora; não permitir que plantas de difícil controle e/ou que passarão dos estádios de controle químico se disseminem. Nestes casos, pode ser necessário o serviço manual.

Ambientes mais complexos, com intensificação das várias práticas de manejo, dificultam o estabelecimento da matocompetição. Por fim, o produtor deve ter em mente que o controle da resistência envolve o manejo de sistemas de cultivo, que sempre deverá ser adotado, e tem resultados a longo prazo.

Outro ponto é que com a adoção do manejo integrado de plantas daninhas, nem sempre será compensatório a adoção de certas medidas de manejo. Em outros casos, como em plantas em que é conhecida sua complexidade de controle e poder de competição e resistência, o produtor deve lançar mão de todas as medidas possíveis para seu manejo. 

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