Autor
José Celson Braga Fernandes
Engenheiro agrônomo e mestre em Ciências Agrárias/Energias Renováveis e Biocombustíveis
celsonbraga@yahoo.com.br
Ligada diretamente ao planejamento agrícola, a análise de solo é de suma importância no desempenho das culturas. Por meio delas é possível identificar o estado atual da fertilidade do solo para que possamos tomar as decisões necessárias e, consequentemente, corrigir de forma mais precisa as características produtivas do solo, o que afetará o potencial de rendimento final da cultura.
A análise de solo deve ser realizada antes de qualquer plantio, com o intuito de levantar as características físicas, químicas e microbiológicas do solo. Para o desenvolvimento da maioria das culturas agrícolas é necessário que o solo se encontre com pH adequado, em torno de 5,5 – 7,0, com maior disponibilidade de nutrientes no solo. Nesse sentido, quando da introdução e manutenção de qualquer cultura se faz necessária a realização desse levantamento com certa periodicidade.
Após as análises de solo é realizada a interpretação dos dados disponíveis, com a verificação da necessidade de correção do solo e de realizar uma correção (calagem). Para esta técnica levam-se alguns dias para que ocorra reação no solo e, consequentemente, atinja o pH ideal que possa disponibilizar nutrientes que contribuirão par ao desenvolvimento da cultura.
Desse modo, tais fatores justificam a necessidade da coleta antecipada dessas amostras, que se recomenda ser feita três meses antes do plantio.
Manejo
Para a coleta de solo, a área escolhida deve ser analisada e identificada verificando a homogeneidade do perfil, topografia, histórico da lavoura, entre outras. Para uma boa amostragem, a gleba deve ser separada em áreas que apresentem características incomuns e realizadas essas coletas.
Os materiais utilizados na coleta de solo são, geralmente: pá de corte, para realizar secção transversal no solo, retirando cerca de 500 g de solo, trados ou amostradores mecânicos, que são introduzidos no solo para coletar amostras. A quantidade de amostras de solo para representar a fertilidade da área a ser trabalhada dependerá do manejo que o produtor escolheu para seu plantio.
A coleta de solo depende do manejo utilizado na área. De forma geral, a amostragem é realizada da seguinte forma: 0-20 cm ou de 0-40 cm, podendo ser realizado em outras profundidades, dependendo da cultura que será trabalhada.
No entanto, para o sistema de plantio direto deve-se coletar amostras de 0-10 cm, sendo realizado a cada quatro anos uma profundidade de 20 cm, no intuito de verificar se a aplicação das técnicas do plantio direto estão sendo executadas de forma correta.
Para o sistema de plantio convencional, coleta-se entre 0-20cm, no entanto, dependerá das culturas introduzidas nesse campo – para as frutíferas ou florestais essa profundidade pode atingir até 60 cm.
Geralmente, para glebas com a introdução de novas culturas essa amostragem é realizada a uma profundidade de 0-40 cm, visando analisar as condições físicas e microbiológicas, e não apenas a química.
Os tamanhos das glebas são determinantes nos números de amostras, que podem ser:
” Amostras simples: amostras coletadas em um único ponto e submetidas a análises;
” Amostras compostas: junção de várias amostras simples que representarão toda a gleba. Para ambas as amostragens é recomendado ao responsável pela coleta andar em forma de zigue-zague pela gleba, objetivando atingir mais subamostras em locais distintos e abranger a maior parte da área.
Importância do laboratório idôneo
As análises de solo estão sujeitas a erros, que podem ser ocasionados desde a coleta de solo até aqueles provenientes do técnico responsável pela condução da análise, e ainda na interpretação dos dados.
Laboratórios creditados pelos órgãos federais, como a Embrapa e outros, são avaliados anualmente, recebendo certificações de suas metodologias. Dessa forma, apresentam maior confiança nos dados obtidos.
Para que sejam evitados erros, periodicamente as equipes que constituem o laboratório devem passar por treinamentos e qualificações no intuito de garantir a eficiência e qualidade dos produtos oferecidos.
Inovações
Na maioria das metodologias aplicadas, as análises químicas de solo têm como objetivo identificar as condições de fertilidade do solo, com o uso de reagentes químicos que impedem a recuperação do material de origem. Porém, algumas novas metodologias vêm sendo aplicadas, como a espectroscopia na região do infravermelho próximo (do inglês Near Infrared Spectroscopy – NIR), considerada uma das técnicas analíticas modernas mais promissoras para análise de solos.
O NIR tem a vantagem de ser um método rápido, mais preciso, não destrutivo e limpo em relação aos métodos tradicionais. Segundo o pesquisador da Embrapa Solos, Maurício Rizzato Coelho, essas vantagens a tornam uma ferramenta essencial, a fim de suprir a demanda de milhões de análises de solos para atender pesquisas e serviços em temas como agricultura de precisão, levantamento e mapeamento digital de solos, zoneamentos agrícolas e fixação e estoque de carbono para o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono).
Em campo
O pH do solo está ligado diretamente à sua fertilidade. Elevar o pH do solo é deixa-lo na faixa desejável para o crescimento ideal das culturas. Para isso, é necessário a realização de amostragem de solo.
Em trabalhos realizados em casa de vegetação com a cultura do crambe, com dois níveis de pH – 5,2 e 6,0, foi possível verificar que o solo corrigido que se encontrava com pH 6,0 mostrou uma produtividade maior, chegando a 60% (Fernandes, 2019).
Guarçoni, 2017 verificou que, além de disponibilizar cálcio e magnésio para a cultura do café, o calcário contribuiu para um melhor desenvolvimento das raízes e melhor absorção de nutrientes para as plantas.
Custo beneficio
A análise tem baixo custo operacional, comparado aos enormes benefícios que traz, além de informar sobre as recomendações como calagem e/ou adubação, a fim de aumentar a produtividade das glebas e, por fim, diminuir o custo por meio das adubações corretas.