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Pequi sem espinhos é novidade

Crédito: Fabiano Bastos

Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo – Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
givago_agro@hotmail.com

O pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.), família Caryocaraceae, apresenta características bem peculiares no que se refere à produção de frutos aromáticos, ricos em óleos e com presença de espinhos em seu endocarpo. Os atributos que mais chamam atenção nos frutos e em seus constituintes são a massa e a cor da polpa, sendo a polpa a sua porção mais valorizada.

Apesar de ser uma espécie com elevada variabilidade fenotípica, alguns genótipos têm chamado a atenção devido a sua peculiaridade como pequizeiro-anão (Caryocar brasiliense Camb. subs. intermedium), ocorrente no Sul de Minas Gerais, que pode apresentar-se com e sem tronco, o tipo de porte alto, frondosa e produtora de frutos grandes, de boa qualidade visual e de rendimento de polpa.

Em destaque também está o pequizeiro que produz frutos sem espinhos no putâmen, também chamado de caroço, que corresponde à semente envolta pelo endocarpo rígido. Este genótipo é encontrado no norte de Mato Grosso.

Pesquisa

Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) selecionaram novas variedades de pequi, após 25 anos de pesquisas.

O estudo resultou em seis variações do fruto do Cerrado brasileiro, sendo três delas sem espinhos, e cada uma com suas características especiais.

Conhecer as novidades em relação a cultivares e novas técnicas de cultivo possibilita a produção de pequi em larga escala a fim de atender o mercado crescente e que aprecia o fruto, que ainda é majoritariamente explorado via extrativismo, o que contribui para erosão genética da espécie e perda de diversidade, causando um desequilíbrio grave na manutenção do pequizeiro em áreas naturais.

Produção de pequi no Brasil

A principal forma de obtenção de frutos de pequi ainda é via extrativismo, pois a espécie se encontra em estado selvagem na natureza. Contudo, tem se tornado crescente o interesse e a necessidade do desenvolvimento de cultivos baseados em princípios e técnicas agronômicas.

Plantios iniciais visando à produção de pequi começam a ser implantados por viveiristas e fruticultores pioneiros, estes ainda utilizando mudas originárias de sementes. Contudo, é necessário ressaltar que plantios de mudas provenientes de sementes (propagação sexuada) apresentam elevada taxa de variabilidade genética, característica desejável quando o plantio é feito para recuperação ambiental.

Entretanto, esse tipo de propagação não é adequado para a formação de pomares comerciais, o que deve ser feito por vias vegetativas (propagação assexuada).

Assim, a forma escolhida para propagação das plantas depende, sobretudo, se o plantio será destinado para fins comerciais ou ambientais. Além disso, o sucesso da produção fica dependente da utilização de técnicas específicas de propagação para a produção de mudas de boa qualidade e da adoção de práticas adequadas de plantio e manejo das plantas.

A produção

O Estado de Minas Gerais é consolidado como o maior produtor nacional de pequi, respondendo por cerca 51,8% da colheita, sendo este o maior produtor no Brasil, tanto do fruto quanto de seus derivados.

A presença do pequi é tão importante que o pequizeiro virou árvore símbolo do Estado por meio de uma lei promulgada. Lá, a ocorrência da espécie e boa parte da produção de pequi se concentram em pequenos municípios na região Norte de Minas. A segunda posição é ocupada pelo Tocantins, que responde por cerca de 39,7% da produção nacional em 2020.

Na terceira posição se mantém o Estado de Goiás, tendo como os principais municípios produtores Damianópolis, que assumiu a posição de maior produtor, Santa Terezina de Goiás, Campos Verdes, Crixás, Niquelândia, Sítio D’Abadia, Buritinópolis, Mambaí, Santa Tereza de Goiás e Uruaçu.

Em 2021 Goiás contabilizou, na extração do fruto, cerca de 2,7 mil toneladas, apresentando alta de 8,1% na comparação com a produção de 2020, contudo, ainda permanecendo na terceira posição.

Pequi sem espinhos

O lançamento das seis novas cultivares de pequizeiro é um trabalho resultante do Acordo de Cooperação Técnica nº 22300.22/0014-6, celebrado entre a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária – Emater e a Embrapa Cerrados.

O desenvolvimento e lançamento das novas cultivares de pequizeiro propiciam resultados positivos para o meio ambiente, com a manutenção de áreas de preservação permanente e recuperação de áreas degradadas, para a economia com a geração de emprego e renda e para a ciência, com novos conhecimentos sobre a espécie.

As cultivares lançadas e algumas de suas principais características com relação à polpa seguem, segundo Pereira et al. (2022):

” GOBRS 101: polpa de cor amarela, espessura fina (3,0 – 5,0 mm), consistência firme, solta do endocarpo, sabor agradável e suave; endocarpo sem espinhos, com superfície lisa; baixa incidência de mal-do-cipó durante as avaliações, produção média anual de 34 kg ou 145 frutos por planta, em cinco safras iniciais, com 20% de relação caroços/frutos.

” GOBRS 102: polpa de cor amarela, espessura fina (4-5 mm), consistência firme, solta do endocarpo, sabor bom e suave; endocarpo sem espinhos, com superfície lisa; sem incidência de mal-do-cipó durante as avaliações; produção média anual de 50 kg ou 167 frutos por planta, em cinco safras iniciais, com 20% de relação caroços/frutos.

” GOBRS 103: polpa de cor amarela alaranjada, espessura média (7,0 – 8,0 mm), consistência firme, aderente ao endocarpo, sabor agradável e suave; endocarpo sem espinhos; sem incidência de mal-do-cipó durante as avaliações; produção média anual de 40 kg ou 190 frutos por planta, em cinco safras iniciais, com 28% de relação caroços/frutos.

” GOBRS 201: polpa de cor laranja avermelhada, espessura média (6,0 – 8,0 mm), consistência macia, aderente do endocarpo, sabor agradável; endocarpo com espinhos; sem incidência de mal-do-cipó durante as avaliações; produção média anual de 85 kg ou 327 frutos por planta, em cinco safras iniciais, com 34% de relação caroços/frutos.

” GOBRS 202: polpa de cor alaranjada, espessura média (5,0 – 8,0 mm), consistência firme, aderente do endocarpo e sabor agradável; endocarpo com espinhos; sem incidência de mal-do-cipó durante as avaliações; produção média anual de 39 kg ou 126 frutos por planta, em cinco safras iniciais, com 21% de relação caroços/frutos.

” GOBRS 203: polpa de cor alaranjada, espessura média (6-8 mm), consistência firme, aderente do endocarpo, sabor agradável; endocarpo com espinhos; sem incidência de mal-do-cipó durante as avaliações; produção média anual de 79 kg ou 316 frutos por planta, em cinco safras iniciais, com 26% de relação caroços/frutos.

Diversificação genética

Crédito: Alexandre Veloso

O programa de melhoramento é pautado na caracterização da variabilidade genética existente na espécie, sendo este o passo inicial para o sucesso do programa. Em programas de melhoramento genético de plantas do Cerrado, as iniciativas de seleção têm se dirigido para a seleção de material superior, que seja promissor para início o programa.

No caso do pequizeiro, estudos sobre a sua biologia floral e estrutura genética de populações tem ressaltado que o pequizeiro se caracteriza como uma planta alógama, ou seja, está entre aquelas que realizam preferencialmente polinização cruzada (acima de 95%), e suas populações apresentam elevado índice de variabilidade genética.

No pequizeiro é grande a variabilidade fenotípica que envolve variações em relação a tipos de frutos, produção, sabor e porte da planta.

Propagação

As mudas originadas das sementes, também chamadas pés-francos, também podem servir como porta-enxertos para cultivares selecionadas, propagadas via enxertia por borbulhia de placa.

Plantio e manejo

O plantio de pequizeiro pode ser feito com finalidade ambiental ou comercial, objetivando o enriquecimento de áreas remanescentes do Cerrado (ocupando clareiras), a recuperação de áreas degradadas, o enriquecimento ou a formação de pomares. Sua época ideal de plantio é no início da estação chuvosa, de modo a propiciar o máximo desenvolvimento e aprofundamento das raízes antes do período de seca, garantindo a sobrevivência e o estabelecimento das plantas.

Solo

O pequizeiro é adaptado e tolerante aos solos pobres e ácidos da região de cerrado. Contudo, mesmo considerando a tolerância e adaptação aos solos pobres e ácidos do Cerrado, é responsivo no crescimento devido a adubações na fase de viveiro.

Irrigação

O pequizeiro, mesmo nativo da região de Cerrado, apresenta um frágil sistema radicular e é bastante sensível à falta d’água, na fase de viveiro e pós-plantio no campo, atingindo rapidamente o ponto de murcha permanente. Sendo assim, é necessária a rega das mudas durante os períodos de estiagem, durante e após o plantio.

Pragas

Dentre as pragas potenciais do pequizeiro, destacam-se as formigas cortadeiras e os cupins (principalmente em áreas de pastagens). São comuns também os danos causados por várias espécies de lagartas que se alimentam das folhas.

As mudas também podem ser atacadas por gafanhotos, cochonilhas, pulgões e pela broca-do-ponteiro (Rhodoneura intermedia), que abre galerias no interior do caule e provoca a morte do ponteiro do ramo.

Já os pequizeiros adultos são atacados pela broca-do-fruto (Carmenta sp.), que causa queda prematura e depreciação dos frutos para consumo e comércio e também por uma espécie de broca-do-tronco (Lepidoptera: Cossidae), que abre galerias no caule e está associada a morte de pequizeiros adultos.

Doenças

As doenças mais importantes são a podridão das raízes e a morte de mudas, causada pelo encharcamento do substrato e ação do fungo Cylindrocladium clavatum, a doença conhecida popularmente como ferrugem, causada pelo fungo Cerotelium giacometti, o mal-do-cipó, causado pelos fungos Phomopsis sp. e Cerotelium giacometti, que deformam folhas e caules de mudas e ramos de plantas adultas; a seca-de-ponteiro e a morte descendente, causadas pelo fungo Botryiodiplodia theobramae, a podridão-do-fruto, causada por B. theobramae e a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum acutatum.

Produção

De maneira geral, em plantas cuja propagação se deu via sementes (propagação sexuada), o início da produção é mais tardio, quando comparado com plantas propagadas por vias vegetativas (estaquia, enxertia, etc.), além de ter uma maior variação no tempo gasto para início da produção, o que acontece geralmente entre sete e 15 anos após a semeadura.

Contudo, algumas plantas ainda continuam improdutivas mesmo após este período. Com relação a época de floração e frutificação, também é observada grande variação entre as plantas na quantidade e qualidade dos frutos e putâmens, tudo devido à alta variabilidade genética, própria da propagação sexuada.

Outra característica do pequizeiro é a alternância de produção ao longo dos anos, o que também é observado em outras espécies frutíferas. A alternância, ou variação de produção entre diferentes anos, está ligada ao esgotamento de suas reservas em anos de maior produção.

Isso faz com que a produção diminua no ano seguinte, pois as plantas se encontram extenuadas. Quando a produção ocorre em área com solos pobres, como os de Cerrado, esse efeito é intensificado, sobretudo se não forem realizadas adubações e fornecimento de nutrientes necessários ao desenvolvimento da planta e à produção.

Em contrapartida, quando o cultivo é feito com mudas enxertadas (propagação assexuada) e com cultivares selecionadas, a homogeneidade das plantas em relação ao desenvolvimento, à floração e frutificação, produtividade e qualidade dos frutos e putâmens é maior, pois neste caso se tratam de mudas produzidas por clonagem. Neste caso, de forma geral, a fase produtiva tem início aos cinco anos após o plantio.

Coleta dos frutos

A coleta dos frutos ocorre após sua queda ao chão, o que coincide com a sua maturação. As coletas devem ser realizadas diariamente ou em dias alternados, sendo recomendado que sejam feitas roçagens durante o período de queda para facilitar a visualização e coleta dos mesmos.

Na extração dos putâmens, os frutos devem ser abertos entre um ou dois dias após a coleta. É necessário ressaltar que o pequi não atinge qualidade para o consumo, quando colhido diretamente da planta, antes do amadurecimento, além de não amadurecer quando coberto e abafado, como ocorre com muitos outros frutos.

O ideal é que seja coletado logo após a queda no chão.

Disponibilidade de mudas

A reserva e encomenda de material de propagação das novas cultivares pode ser consultada em:

– Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária – Emater: Estrada do Campus, Quadra Área, s/nº, Lote AR3, Setor Campus II da UFG, Goiânia – GO, CEP 74690-631, Fone: (62) 3201-1566, Site: www.emater.go.gov.br

– Embrapa Cerrados: Rodovia BR 020, km 18, Caixa Postal 08223, CEP 73310-970, Planaltina – DF, Site: www.embrapa.br/cultivar/pequi

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