Daniele Maria do Nascimento – Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP – donascimentodm@gmail.com
Marcos Roberto Ribeiro Junior – Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP – marcos.ribeiro@unesp.br
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e, apesar dos episódios de geadas ocorridos nesse ano em algumas áreas de produção, como São Paulo e Mato Grosso do Sul, ainda se espera uma boa produção.
Segundo o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa é que sejam colhidas 592 milhões de toneladas nessa safra 2021/22, com uma produtividade média de 71,82 kg/ha (5,5% menos que na safra anterior).
Além das oscilações climáticas, outros fatores também podem estar relacionados a possíveis perdas de potencial produtivo, como a ocorrência de pragas, doenças e plantas daninhas. Em relação a estas últimas, segundo o pesquisador Pedro Christoffoleti, infestações leves podem acarretar em até 30% de perda de produtividade, e 50% no caso de infestações mais severas.
Principais plantas daninhas
Uma das principais espécies infestantes presentes na cultura da cana-de-açúcar hoje é o capim colonial, seguido da braquiária e capim-colchão. Por serem gramíneas, como a cana-de-açúcar, seu manejo é um pouco mais complicado.
Outras plantas que merecem nossa atenção nessas lavouras são a corda-de-viola, mamona, grama seda, mucuna, tiririca, fedegoso, capim-amargoso, bucha, entre outras. Em levantamentos realizados nos últimos anos, destaca-se o grande número de plantas daninhas de folha larga, demonstrando assim a importância do uso de herbicidas que possuem dois ou mais ativos.
Manejo, por onde começar?
Dessecação, essa é a palavra-chave no manejo de plantas daninhas e para cana-de-açúcar, em especial, é o momento mais crítico. Se não for bem realizada, as espécies infestantes serão um problema até o momento da reforma dos canaviais.
Ainda durante o preparo da área da cana planta, a briga é contra as plantas oriundas das sementes. É nesse cenário que entram os pré-emergentes. Uma recomendação é o uso do glifosato associado a outros herbicidas com diferentes modos de ação, como os inibidores de ACCase. Isso se deve principalmente à ocorrência de plantas daninhas resistentes ao glifosato, como o capim-amargoso. Logo, esse herbicida sozinho não será eficiente.
Plantas remanescentes de cana-de-açúcar também devem ser eliminadas, uma vez que hospedam pragas e doenças, atuando como uma “ponta verde” para o próximo cultivo.
Novas ferramentas
O mercado vem recebendo a cada ano novas tecnologias para o canavicultor. Quando se trata de herbicidas, a novidade são as formulações. Os ingredientes ativos, de modo geral, continuam os mesmos, mas as formulações vêm gerando produtos que toleram melhor a seca, por exemplo.
Dentro desse arsenal de novas ferramentas, um novo herbicida de uso em pré-emergência se destaca, inibindo tanto a germinação de plantas daninhas de folhas largas como as de folhas estreitas; com alta eficiência de transposição da palhada; e sem volatilidade, o que possibilita seu uso próximo a culturas sensíveis.
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Com os ingredientes ativos piroxasulfona (grupo K3 – inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia muito longa) e amicarbazona (grupo C1 – inibição da fotossíntese no fotossistema II), esse herbicida é ideal para regiões que vêm enfrentando uma seca severa, como o Centro-Sul do País, que responde por pelo menos 90% da produção canavieira.
É nesse período que deve ser realizado o manejo de plantas daninhas, uma vez que quando começarem as chuvas e as mesmas germinarem, a infestação será alta, se não controlada preventivamente.
Esse herbicida tem ação comprovada contra capim-braquiária, corda-de-viola, mamona, mucuna-preta, dentre outras espécies infestantes. É recomendada uma única aplicação na área, em pré-emergência total (da cultura e das plantas infestantes), e a dose pode variar entre 1.500 a 3.000 L/ha, de acordo com a comunidade e densidade de plantas daninhas presentes. Em áreas com alta densidade, aplicar a dose mais alta.
Manejo de resistência
É importante ressaltar que o uso sucessivo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação pode levar ao aumento de população de plantas resistentes. Até o momento, não se tem relatos de plantas resistentes a herbicidas do grupo K3 no Brasil, mas para que essa nova molécula não caia em desuso, recomenda-se a rotação de herbicidas com mecanismos de ação distintos do grupo K3 e C1; utilizar as recomendações de dose e modo de aplicação descritos na bula e adotar outras práticas de controle de plantas daninhas, como o controle cultural.