Alisson André Vicente Campos
Engenheiro agrônomo, doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) e coordenador de Pesquisa – Fronterra
alissonavcampos@yahoo.com.br
Laís Sousa Resende
Engenheira agrônoma, doutoranda em Fitotecnia (ESALQ) e pesquisadora Rehagro
sialresende@gmail.com
A ocorrência de plantas daninhas no cafeeiro é muito variável de região para região, levando em consideração as condições edafoclimáticas, bioma e mecanização. No cerrado mineiro algumas espécies de plantas daninhas vêm sendo mais problemáticas, escapando ao manejo dos herbicidas.
As principais espécies observadas são a trapoeraba, corda-de-viola, erva-tostão, maria-pretinha, picão-preto, capim-pé-de-galinha, capim-amargoso, buva e leiteiro.
Impactos das ervas daninhas
As plantas daninhas podem afetar o cafeeiro de forma direta pela competição por água, luz e nutrientes. Espécies como o picão-preto conseguem acumular mais nutrientes nos tecidos das plantas do que o café, além de absorverem água de forma mais eficaz, até em condições de déficit hídrico severo.
A corda-de-viola é uma planta que tem o hábito de crescimento trepador, podendo subir na planta e reduzir a atividade fotossintética das plantas. Além disso, indiretamente também pode ocorrer um microclima gerado pelo sombreamento, favorecendo a incidência de doenças.
Ao remover a corda-de-viola, as folhas também podem ficar propensas à escaldadura pelo período de aclimatação. Plantas daninhas, como o joá-bravo, podem dificultar a colheita manual e a corda-de-viola na colheita mecanizada.
Algumas espécies ainda podem atuar como hospedeiras de nematoides, sendo problemáticas para o cafeeiro.
Técnicas tradicionais de controle
O principal manejo realizado na cafeicultura é com herbicidas na linha de plantio do cafeeiro. Na entrelinha é realizado o controle mecânico com a trincha ou roçadora. Para a cafeicultura, poucos são os herbicidas seletivos para as plantas, devendo sua maioria ser aplicada em jato dirigido, evitando que a deriva atinja as plantas e causem injúrias.
Os herbicidas podem ser aplicados em pré-emergência (oxifluorfem, indaziflam, piroxasulfona, flumioxazina) ou na pós-emergência (cletodim, haloxifope, clorimurom, saflufenacil, carfentrazone) das plantas daninhas.
Os herbicidas aplicados em pós-emergência devem ser verificados quanto à forma de ação, se são sistêmicos ou de contato, pois a tecnologia de aplicação para cada forma de translocação deverá utilizar a ponta mais adequada.
Novas técnicas
O cenário da matologia na cafeicultura vem se modificando com os anos, aumentando a adoção de herbicidas pré-emergentes. Normalmente, esses herbicidas são um pouco mais técnicos, devendo ser posicionados de forma que tenham um manejo mais adequado conforme a ocorrência de plantas daninhas da área.
Atualmente, na formação de lavoura vem crescendo o manejo com a aplicação de herbicida pré-emergente (flumioxazin + piroxasulfona) em pré-plantio. Após a realização do plantio se faz a aplicação em pré-emergência da piroxasulfona sequencialmente.
Esse manejo promove períodos residuais superiores a 80 dias, conforme a regime hídrico da local.
Obstáculos
A primeira dificuldade observada no controle de plantas daninhas no café é o fato de haverem poucos herbicidas seletivos. Outro ponto importante no manejo de plantas daninhas é relacionado a determinadas espécies.
Por exemplo, o controle de corda-de-viola é mais complexo, uma vez a planta apresenta tolerância a alguns herbicidas, como o glifosato e clorimurom. Associado a isso, a corda-de-viola, quando sobe no cafeeiro, não é mais possível realizar o seu controle com herbicidas, devendo ser realizado o arranquio de forma manual.
Outras espécies que apresentam dificuldade no manejo são as plantas daninhas resistentes a herbicidas, como o capim-pé-de-galinha e capim-amargoso, com relatos de resistência a glifosato e cletodim, a buva e trapoeraba, resistente e tolerante ao glifosato, respectivamente.
Sustentabilidade
Para um manejo mais sustentável na cafeicultura, é importante fazer uso de plantas de cobertura na entrelinha do cafeeiro, que são de mais fácil manejo do que as plantas daninhas que ocorrem na área.
O corte das plantas de cobertura pode ser realizado com a roçadora ecológica, que direciona a palhada para a linha de plantio, atuando como barreira física para a emergência de plantas daninhas.
Dessa forma, além da redução do uso de herbicidas na trilha, a palhada possibilita que fique por períodos maiores sem competição no cafeeiro. Porém, esse manejo deve ser realizado de forma mais cautelosa em lavouras recém-implantadas, para não danificar as mudas.
Algumas universidades e instituições de pesquisa têm trabalhado com filmes de polietileno como cobertura do solo (já adotados na horticultura), como forma de impedimento do desenvolvimento de plantas daninhas.
Inovação tecnológica
Novas práticas de controle de plantas daninhas favorecem que plantas de difícil controle ocorram cada vez menos nas lavouras. O aspecto positivo para esse manejo é a utilização dessas tecnologias de forma integrada.
Desde a utilização de um novo princípio ativo no controle químico de plantas daninhas ao uso de coberturas de solo com plantas ou estruturas plásticas, o uso de herbicidas pré-emergentes contribui para que o café fique por períodos menores de competição com o mato, além do mix de plantas de cobertura, específico para cada realidade de lavoura.
Expectativas
O foco futuro no controle de plantas daninhas será a utilização cada vez menor de herbicidas, dando preferência para ativos mais seletivos e com maior período residual, diminuindo as entradas de maquinário na propriedade.
Outro possível cenário é o desenvolvimento de herbicidas biológicos, mais sustentáveis, minimizando os riscos de intoxicação dos operadores e fitotoxicidade para as plantas.