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Polinização de macieiras com drones

Inovação que promove a produção sustentável de maçãs e preserva a vitalidade dos pomares.

Catherine Amorim
Doutora e professora – Instituto Federal Catarinense (IFC) – Campus Araquari
cath.amorim@gmail.com

Tuan Henrique Smielevski de Souza
Engenheiro agrônomo e doutor em Zootecnia – Universidade Estadual de Maringá (UEM)
tuan.henrique@gmail.com

Crédito: Aires Mariga

A maçã é uma cultura agrícola de importante destaque na fruticultura nacional. Seu plantio é realizado de forma geral em locais frios, como os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Para ocorrer a formação de frutos, as flores necessitam da visita de agentes polinizadores, sendo as abelhas os principais. Por esse fato, a cultura é altamente dependente de polinização.

O processo da frutificação

Para ocorrer a frutificação, as flores precisam receber pólen oriundos de outras variedades compatíveis. Esse processo é denominado de xenogamia, que é a polinização cruzada entre dois indivíduos.

Nesse caso, é necessário que o polinizador visite a flor da planta A e depois a flor da planta B.

Em sistemas produtivos de média e grande escala, na qual temos um grande número de flores, os polinizadores presentes nos arredores não são suficientes para realizar a polinização.

Em casos como esses, os produtores rurais alugam colônias de abelhas Apis mellifera de apicultores. Considerando a densidade de 3,0 a 4,0 colônias ha-1 de pomar, as caixas são levadas pelo apicultor no início do florescimento das macieiras e permanecem ali até o final da floração. 

Diversificação de renda

Em determinados momentos, em que temos o preço do mel mais atraente que o valor pago por colônia para realizar a polinização (R$ 100,00 por colônia), pode haver um déficit de colônias disponíveis para realizar a polinização.

Isso acontece porque o preço pago por quilograma de mel muitas vezes acaba sendo mais lucrativo, e o produtor não precisa ter os gastos de deslocamento em relação ao transporte das colônias.

Obstáculos

Em algumas circunstâncias, podemos ter, também, a redução da polinização por abelhas, pelo fato de que os apicultores, em anos de El niño, têm maior dificuldade de logística ao transportar as colônias até os pomares, dado o excesso de chuva e danos às estradas.

Além disso, a chuva em excesso pode acarretar perdas de colônias, consequentemente, há a redução da população de abelhas para realizar a polinização dos pomares.

A chuva em excesso também pode levar à redução de pólen disponível para as abelhas coletarem, devido ao processo das gotas da chuva lavarem o pólen da flor, o que acarreta a redução no potencial de polinização.

Drones a favor das abelhas

Recentemente, a startup americana Dropcopter, pioneira na criação de um drone adaptado para a polinização artificial, apresentou bons resultados para a polinização de amendoeiras, cerejeiras, pereiras e macieiras.

Para a polinização, os drones são adaptados com um tanque armazenador de pólen, com capacidade de até 1,0 L. Lá, os grãos de pólen são homogeneizados internamente e dispersos no ar por um orifício de saída durante o voo sobre o pomar.

A região a ser polinizada durante o voo é previamente determinada por meio de imagens de satélite, e o drone é pilotado por um operador treinado através de um aplicativo específico, desenvolvido para esse fim.

Com o drone, é possível, além de determinar a rota de voo, acompanhar a topografia do terreno de modo a padronizar a altura de polinização e escolher a combinação genética de preferência.

Crédito: Shutterstock

Em outras linhas, é possível uma polinização padronizada e escolher a combinação genética de preferência entre planta doadora e receptora. Em seu site, a empresa Dropcopter se refere ao seu serviço como: “somos especializados em distribuir o pólen certo, na hora certa, nos locais certos de um pomar, para ajudar os produtores a obterem uma melhor frutificação e colheita”.

Em atividade

Nos Estados Unidos, a polinização artificial com drones já é uma atividade aplicada comercialmente em alguns casos. No Brasil, a tecnologia foi trazida por uma empresa de recursos florestais em parceria com a Epagri de Caçador (SC), e está atualmente em fase de testes.

A instituição de pesquisa realizou um dia de campo em 2019, quando o equipamento foi trazido ao país, para divulgação da tecnologia e dando início às pesquisas com polinização de florestas, especificamente para trabalhos de melhoramento genético em pinus.

Apesar de estar ainda em teste, o Brasil foi pioneiro na utilização da tecnologia na América Latina, uma vez que não havia sido ainda usada nesses países.

Produtividade

Segundo dados da Dropcopter, a utilização dos drones aumentou cerca de 94% a produção de amêndoas, 40% de cerejas e 53% de maçãs. Ainda segundo a empresa, em maçãs pode ocorrer um aumento significativo no diâmetro das frutas.

Nesses pomares, as primeiras flores a abrirem, localizadas no centro da inflorescência, geram frutos maiores, sendo necessário a raleio das menores. O aumento no diâmetro das maçãs com a polinização por drones ocorre devido à possibilidade de seleção das flores maiores para polinização.

Versatilidade

Atualmente, outras empresas também oferecem a tecnologia comercialmente, e nos Estados Unidos isso é aplicado em algumas culturas, como milho. No Japão, pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industrial Avançada desenvolveram drones para polinização um pouco diferente, destacando-se o tamanho reduzido.

Esses drones japoneses apresentam pelos de animais na superfície que acumulam pólen, e levam de uma flor a outra, de modo a simular a atividade das abelhas sem a necessidade de fornecimento prévio de pólen.

No Brasil, para aplicação comercial em pomares de macieira, a tecnologia ainda precisa ser estudada e os custos de operação ainda são desconhecidos. Um ponto que ainda precisa ser considerado é o fornecimento de pólen para o drone, uma vez que no país a coleta do pólen é feita apenas em programas de melhoramento genético.

No Brasil

As flores necessitam da visita de polinizadores, sendo as abelhas os principais Crédito: Marco Lucini

Outra questão a ser considerada é que, devido aos pomares brasileiros de macieira estarem localizados nas regiões serranas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, são frequentemente atingidos por granizo.

Portanto, há a necessidade de utilização de telas antigranizo para proteção das plantas e evitar perda na produção devido às ocorrências do granizo fora de época.

As telas ficam localizadas na parte superior das plantas, normalmente deixando pouco espaço para o voo do drone. Assim, ele precisa sobrevoar as plantas, e muito pólen pode acabar aderido à tela.

O uso das telas também acaba sendo um problema na própria polinização natural. As abelhas têm dificuldade em retornar às colônias, ficando presas na tela, e muitas vezes gerando sua morte.

Viabilidade

Em linhas gerais, os drones podem ser mais atraentes para suprir determinadas lacunas em que as abelhas não estejam presentes nos pomares. Isso devido às condições climáticas desfavoráveis, ou em casos de elevação do preço do mel, onde não seja vantajoso para o apicultor levar as colônias até o pomar.

Muitos fatores ainda precisam ser considerados no país, como o fornecimento de pólen, aplicabilidade prática para a realidade brasileira e custos, o que leva a crer que o processo ainda pode levar algum tempo para ser implantado.

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