Luciano Picolotto
Professor de Fruticultura/UFSC, Campus Curitibanos (SC)
Ivan dos Santos Pereira
Engenheiro agrônomo, bolsista Capes PNPD
Jonatas Thiago Piva
Professor de Manejo e Fertilidade do Solo/UFSC, Campus Curitibanos (SC)
Atualmente o hábito alimentar dos consumidores brasileiros vem sendo alterado, seguindo uma tendência mundial, que é a da busca por uma alimentação mais saudável, o que aumentou o consumo de frutas e hortaliças.
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas. Mesmo com uma área inferior, em relação às espécies de clima tropical e subtropical, as frutas de clima temperado têm uma importância socioeconômica destacada em diversas regiões. No Brasil, o pêssego é uma das principais culturas frutÃferas de clima temperado.
É cultivado principalmente no Rio Grande do Sul e em menor escala nos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. A produção nacional de pêssegos apresenta características diferenciadas de acordo com a região: as frutas podem ser produzidas com finalidades distintas, sendo para mesa, indústria ou dupla finalidade (mesa e/ou indústria). As primeiras são cultivadas em todas as regiões e as últimas principalmente no Rio Grande do Sul.
Nutrição em primeiro plano
A adubação é uma das principais práticas de manejo na cultura do pessegueiro e tem como objetivo suprir uma possível carência de nutrientes que o solo não é capaz de fornecer à planta. Dentre os nutrientes destaca-se o potássio (K), macronutriente que possui papel importante na formação das plantas e manutenção da qualidade do fruto.
Importância do potássio
O potássio desempenha diversas funções metabólicas e estruturais na planta. Possui papel importante na regulação do potencial osmótico das células vegetais, assim como é ativador de diversas enzimas envolvidas na respiração e fotossíntese.
Plantas nutridas adequadamente com K apresentam maior tolerância a circunstâncias de estresse, como geada, seca, pragas e doenças. A necessidade de K pelo pessegueiro é relativamente grande, uma vez que a remoção anual deste elemento é bastante expressiva, especialmente em plantas altamente produtivas.
No Brasil, as recomendações de adubação para a cultura do pessegueiro são, de certa forma, regionalizada, havendo interpretação e recomendação diferenciadas entre as regiões produtoras, principalmente devido às diferentes condições edafoclimáticas e exigências das cultivares.
A disponibilidade de K às plantas depende muito de sua difusão no solo, uma vez que a quantidade que chega até as raízes por fluxo de massa é muito menor do que a taxa de absorção. A difusão de um Ãon como o K no solo depende de alguns atributos inerentes a cada solo, a exemplo do pH, o teor de água e o poder tampão de cada nutriente no solo.
Escassez nutricional
Os solos brasileiros, em geral, apresentam carência de K. Um dos motivos é que a forma solúvel, utilizada pela planta, é facilmente lixiviada no perfil do solo. Outro fator é o pH natural dos solos. Em geral, a maior parte dos solos cultivados com pessegueiro no Brasil apresentam pH ácido, sendo, no caso do K, o pH maior que 5,5 ideal para sua maior disponibilidade às plantas.
Além disso, a disponibilidade de K para as plantas depende, em grande parte, da sua difusão no solo, processo de contato do nutriente com a raiz, aspecto intimamente ligado à umidade no solo, pois é necessário a umidade para poder se movimentar do ponto mais concentrado para o menos concentrado (próximo às raízes).
Sendo assim, sistemas de cultivo irrigado podem favorecer o aproveitamento pelo pessegueiro do potássio presente no solo.
Mitos e verdades
Há alguma controvérsia sobre o efeito do potássiona qualidade dos frutos. Vários estudos têm mostrado uma correlação positiva entre os teores foliares de K com a acidez do fruto e a coloração da epiderme. Por outro lado, parece não haver relação com o teor de sólidos solúveis e a firmeza dos frutos.
Entretanto, a ausência de resposta da adubação potássica, em geral, está associada a solos com elevada disponibilidade do nutriente. O mecanismo pelo qual o K influencia na coloração vermelha da epiderme não é bem conhecido, mas especialistas acreditam que o nutriente tenha relação com a formação dos pigmentos.
Na planta, no entanto, a falta deste nutriente pode ser verificada nas folhas mais velhas, por este elemento ser móvel, as quais podem apresentar manchas cloróticas, passando, em estágios mais avançados,Ã necrose em parte do limbo foliar.
O desequilíbrio nutricional envolvendo o K pode trazer prejuízos indiretos à planta, como redução da capacidade de resistência a patógenos, por exemploà podridão parda (MoniliniafructÃcola). Para evitar este desequilíbrio nutricional, é importante a realização da adubação em quantidade, fonte e no momento adequado.