Autores
Bianca Gailoti Rezende – Graduanda em Engenharia Florestal – Faculdade de Ensino Superior e Formação Integral (FAEF – Garça (SP)) – bianca.gailote@hotmail.com
Marcelo de Souza Silva – Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Horticultura e professor – FAEF – Garça (SP) – mrcsouza18@gmail.com
No Brasil, há uma grande incidência de pragas em eucalipto, tanto espécies nativas como exóticas, para as quais está sendo usado o controle biológico como saída para os químicos, já que os mesmos causam vários impactos ao meio ambiente.
Controle biológico de pragas do eucalipto é um fenômeno natural que consiste na regulação do número de insetos por inimigos naturais, os quais se constituem nos agentes de mortalidade biótica. Assim, todas as espécies de insetos considerados pragas para esta cultura têm inimigos naturais que os atacam em alguns de seus vários estágios de vida.
Dentre tais inimigos naturais existem grupos bastante diversificados, como outros insetos (predadores e/ou parasitoides), vírus, fungos e bactérias, com maior aplicação comercial, além de outros indivíduos, como nematoides, protozoários, ácaros, aranhas, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.
Trata-se de um método de controle racional e sadio, que tem como objetivo final utilizar esses inimigos naturais que são inofensivos ao meio ambiente e à saúde da população, visando a regulação da população de pragas nos ambientes de cultivo de eucalipto para níveis inferiores aos de dano econômico.
Contra pragas exóticas
Vale destacar que o controle biológico é uma prática muito utilizada para pragas exóticas, isto é, que não são de origem brasileira. Em sua maioria os controladores são do país de origem da própria praga, porém, as pragas nativas já possuem seu próprio inimigo natural onde vivem e já temos um manejo de controle, pois é uma espécie conhecida por nós, como o exemplo das formigas cortadeiras.
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As pragas podem ser controladas/reguladas de três formas: por meio de parasitoides, ou seja, organismos que, para completar seu desenvolvimento, necessitam de um hospedeiro. Esses parasitoides são menores que suas presas. Os predadores, para completarem seu desenvolvimento e sobreviverem, necessitam se alimentar de mais de um indivíduo, e em geral são maiores que as presas.
Por último, os patógenos, que são um grupo de microrganismos que sobrevive internamente ou externamente ao hospedeiro. Diferente do parasitoide e predador, que em sua maioria é um inseto que faz o controle, no controle biológico com uso de patógenos, os agentes de controle são fungos, vírus ou bactérias.
Premissas
É importante destacar para os profissionais que trabalham com controle biológico de pragas na cultura do eucalipto ou outras espécies de grande importância econômica, que para garantir o sucesso de aplicação desta técnica, primeiro temos que identificar a praga e em que estágio ela causa danos às plantas.
Para isso, deve-se fazer o monitoramento periódico da área afetada e identificar a praga causadora dos danos. Depois de identificada, é feita a análise do controle biológico ideal e, por fim, realizado o manejo adequado para cada um dos controles (com predador, parasitoide ou organismo patogênico), lembrando que para cada praga pode existir um método de controle biológico específico.
Pragas em destaque
De todas as pragas-chave da cultura do eucalipto, existem quatro principais que já utilizam o controle biológico. São elas o gorgulho do eucalipto (Gonipterus platensis), psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei), vespa-da-galha (Leptocybe invasa) e percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus).
O ataque do gorgulho do eucalipto caracteriza-se pelo desfolhamento do ponteiro e ramos novos, redução de crescimento, provoca bifurcação/desvio do fuste, atacando as plantas desde plantios com oito meses até os seis anos e pode reduzir de 10 a 30% o volume de madeira produzida.
O controle biológico desta praga é realizado com o uso do parasitoide de ovos Anaphes nitens, que foi importado pela África do Sul em 1924 e levado para toda a África, América do Sul, Europa e Estados Unidos.
O parasitismo deste inimigo natural é de 80 a 100%, levando a um controle efetivo da praga após dois a três anos de uso regular. O controle do gorgulho também pode ser realizado com uso do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana, mas até o presente momento a eficiência deste método de controle biológico se restringe aos testes em laboratório, havendo a necessidade da aplicação comercial em grandes áreas de cultivo de eucalipto.
O psilídeo-de-concha pode causar redução de 10 a 15% na produtividade pelo desfolhamento, causando uma alta mortalidade na espécie de Eucalipto camaldulensis. O controle biológico é realizado mediante o uso de um parasitoide de ninfas Psyllaephagus bliteus, cujo controle varia de 0,2 a 11% das ninfas em campo.
A grande eficiência e especificidade deste parasitoide têm sido listados como um grande aliado dos programas de controle biológico clássico do psilídeo-de-concha, com relatos de sucesso em áreas de produção de eucalipto na Califórnia, México e Ilhas Britânicas.
Vespa-da-galha
A vespa-da-galha é uma praga responsável pela deformação das folhas, das brotações novas e redução de crescimento e vigor da planta, podendo até mesmo levá-la à morte. Além disso, deixa a planta suscetível ao ataque de outras pragas. Existe um parasitoide que já está sendo estudado para o controle biológico desta praga. Para tal, foi realizada a importação do parasitoide Selitrichodes neseri, que vem sendo estudado em diferentes condições de cultivos para sua liberação e estabelecimento em campo.
Percevejo bronzeado
De todas as pragas citadas, o percevejo bronzeado é o que vem causando mais danos à produção de eucalipto. Como as outras, é uma praga exótica de origem australiana, mas está presente em todo o território brasileiro, causando problemas especialmente nos Estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo.
Os plantios afetados podem apresentar sintomas de prateamento, amarelecimento ou bronzeamento das folhas, seguidos de desfolhamento total das árvores que, além de aumentar o risco de incêndios florestais, pode matar as árvores.
Depois de oito anos de pesquisa, o parasitoide Clerucoides noackae, que é uma pequena vespa de aproximadamente 0,5 mm de comprimento, foi escolhido como agente para uso em controle biológico clássico. Esse tipo de controle utiliza inimigos naturais da mesma região de origem da praga, oferecendo baixo risco ambiental, algo que é característico do controle biológico.
O controle biológico do percevejo bronzeado é realizado no estágio de ovos, uma vez que o parasitoide C. noackae se desenvolve dentro dos ovos do percevejo, desde o estágio inicial até o inseto adulto, alimentando-se de seu conteúdo. Possui ciclo biológico de 15 a 17 dias e, logo após a emergência do inseto, as fêmeas são copuladas e saem em busca de novos ovos de percevejo-bronzeado para depositar os seus ovos.
Monitoramento
A melhor forma de fazer um monitoramento da praga é usando armadilhas adesivas amarelas colocadas no tronco de árvores, que devem ser retiradas aproximadamente 30 dias após a identificação da praga. A partir daí é iniciado o manejo de controle, adquirindo o parasitoide e realizando a soltura dele em campo, que deve ser realizada da seguinte forma: ao receber os ovos parasitados por C. noackae, mantê-los nos recipientes de envio em temperatura de aproximadamente 24°C até o momento da emergência dos parasitoides.
Após a emergência dos parasitoides, proceder à alimentação com solução de mel a 50%, utilizando tiras de papel filtro. Essa data de emergência corresponde a aproximadamente 15 dias após a data identificada nos frascos de criação recebidos (data correspondente à montagem).
Libração dos parasitoides
A liberação poderá ocorrer em um ou mais pontos do talhão. O ponto será representado por uma árvore de eucalipto, que deverá ter uma maior quantidade de adultos e ovos do percevejo bronzeado. A presença de ninfas é um indicativo de que os ovos são velhos e inadequados ao parasitoide.
Para a liberação em dois ou mais pontos de um mesmo talhão, deve ser considerada uma distância de 100 a 200 m entre os pontos de liberação e da borda. Os pontos de liberação devem ser marcados com fitas zebradas, tinta spray ou outra marcação, para facilitar as avaliações de pós-liberação.
As coordenadas geográficas também devem ser registradas. Após a alimentação dos adultos de C. noackae e escolha dos pontos de liberação, deve-se seguir as seguintes orientações: a liberação deve ser feita preferencialmente no início da manhã ou final da tarde, com temperaturas amenas.
A liberação pode ser feita no mesmo recipiente de recebimento dos insetos ou outro semelhante. Antes de os frascos serem levados a campo, esses podem ser cobertos com fita isolante ou cartolina preta, o que posteriormente auxiliará a saída dos parasitoides dos frascos no sentido da luz.
Além disso, esses frascos devem receber uma cobertura para protege-los de chuvas, como por exemplo plástico, calha, etc. Os frascos contendo os parasitoides devem ser fixados com arame ou barbante, o mais próximo possível da copa da árvore. Após a fixação desses frascos, preferencialmente na posição horizontal, os mesmos deverão ser abertos para a saída dos parasitoides.
Dez dias após a liberação dos parasitoides no campo, os frascos que foram fixados devem ser retirados e lavados, para posterior utilização. Uma avaliação da presença do parasitoide no campo é recomendada para verificar sua eficiência.
Essa avaliação pode ser realizada 30 dias após a liberação, por meio da coleta de 10 folhas de eucalipto contendo posturas de T. peregrinus das quatro árvores localizadas ao lado do ponto de liberação e correspondentes às coordenadas, norte, sul, leste e oeste. As avaliações também poderão ser realizadas em árvores com diferentes distâncias do ponto de liberação, devendo-se, neste caso, registrar a distância entre a árvore de avaliação e o ponto de liberação.
Após a coleta das folhas de eucalipto, os ovos de T. peregrinus nessas folhas deverão ser recortados com o auxílio de tesoura, acondicionados em frascos de poliestireno e mantidos sob condições de temperatura próximas a 24°C e umidade relativa de 60%, para aguardar a emergência dos parasitoides e/ou eclosão das ninfas, procedendo-se, em seguida, à contagem do número de insetos emergidos.
A porcentagem de ovos do percevejo bronzeado, parasitados por C. noackae em laboratório e locais de sua liberação, é de aproximadamente 50%. É importante destacar que, se não controlado, o percevejo bronzeado pode provocar perdas de até 15% do volume de madeira do eucalipto.
Desafios
O principal empecilho para a implementação efetiva do controle biológico ainda é o custo. Considerado alto no passado, atualmente a relação custo-benefício é vantajosa, pois há mais empresas produtoras de inimigos naturais no mercado, o que reduz preços pela competição. Por outro lado, os inseticidas químicos modernos são mais caros que antes, devido às exigências das agências reguladoras quanto aos testes toxicológicos e de segurança ambiental.
Com base nesse contexto, pode-se afirmar que os métodos de controle biológico de pragas florestais, sobretudo na cultura do eucalipto, tendem a crescer nos próximos anos. Mas, é importante recordarmos que há vários relatos de fracassos no controle biológico no mundo. Dessa forma, o controle biológico só será bem-sucedido se a fundamentação científica for rigorosamente mantida durante seu desenvolvimento e implementação, o que reforça a importância das parcerias entre instituições de pesquisa e empresas e produtores florestais no Brasil.