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Pragas no quiabeiro pede atenção

Franscinely Aparecida de AssisDoutora em Entomologia e professora de Agronomia – Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)franscinelyassis@unicerrado.edu.br

Vanessa AndalóDoutora em Entomologia e professor de Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)vanessaandalo@ufu.br

Flávio Lemes FernandesDoutor em Entomologia e professor de Agronomia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)flaviofernandes@ufv.br

Quiabo – Crédito: Shutterstock

A cigarrinha-verde, Empoasca kraemeri (Hemiptera: Cicadellidae), localiza-se na parte abaxial das folhas, sugando a seiva da planta. Os prejuízos em quiabeiro são observados tanto pela sucção da seiva quanto pela injeção de toxinas durante a alimentação, o que pode causar o depauperamento, amarelecimento e posterior seca da planta.

As fêmeas realizam postura endofítica, no interior do tecido da planta, principalmente ao longo das nervuras das folhas, mas também nos pecíolos e no caule, podendo ovipositar até 60 ovos durante seu ciclo de vida.

A duração do ciclo é, em média, de três semanas, variando devido às condições ambientais. São relatadas maiores ocorrências do inseto em épocas com menor incidência de chuva e elevadas temperaturas.

Para redução populacional do inseto no campo devem ser adotadas práticas culturais, como o uso de palha de arroz ou capim seco nas entrelinhas que auxiliam na repelência dos insetos. A cor amarela é atrativa para a espécie, podendo ser utilizada em armadilhas para captura e monitoramento de ocorrência.

Barreiras vivas podem ser instaladas ao redor do cultivo a fim de evitar a disseminação do inseto. A espécie E. kraemeri, além de causar prejuízos no quiabeiro, é uma praga importante do feijoeiro, com isso, deve-se evitar plantios próximos ou sucessivos dessas culturas. É importante salientar que não existem produtos registrados para a cigarrinha-verde no quiabeiro.

Lagartas

Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) é uma espécie polífaga que se alimenta de grande diversidade de plantas, tais como o quiabeiro, dentre outras olerícolas; algodoeiro, milho, soja, etc.

A lagarta causa injúrias nas plantas em função de sua alimentação, podendo atacar as mais diversas partes da planta. Atualmente, acredita-se que o inseto esteja distribuído em todo o território nacional.

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As mariposas têm hábito noturno e preferem ovipositar na face adaxial das folhas, podendo também realizar as posturas, de forma isolada, nas demais partes das plantas, dependendo da cultura e da densidade populacional do inseto. Inicialmente os ovos têm cor branco-amarelada, tornando-se marrom-escuros quando próximos à eclosão.

As lagartas passam por cinco ou seis ínstares e apresentam colorações variadas em cada um deles. São características das lagartas linhas laterais finas de cor branca e, quando no quarto ínstar, na região dorsal do primeiro segmento do abdômen, apresentam protuberâncias escuras no formato de sela. São lagartas com pelos ao longo do corpo, cápsula cefálica com coloração pardo-clara e tegumento coriáceo quando comparado às demais espécies de noctuídeos.

No final do último instar a lagarta, na fase de pré-pupa, desloca-se para o solo. Assim, as pupas permanecem neste local por 13 a 15 dias o que pode variar em função das condições ambientais, que também podem acarretar na ocorrência de diapausa.

Características

Helicoverpa armigera apresenta diversas características que a fazem ocupar o status de praga, pois além do hábito alimentar polífago apresenta elevada mobilidade, alta fecundidade e alta capacidade de sobrevivência, mesmo em condições adversas, podendo completar até nove gerações por ano. Essas características favoreceram o estabelecimento do inseto no País, tornando-o um dos maiores problemas fitossanitários das regiões produtoras brasileiras.

Para o manejo desta praga, dentre os produtos de controle biológico que são registrados para todas as culturas de ocorrência do inseto, têm-se os formulados à base de bactérias (Bacillus thuringiensis), vírus (VPN-HzSNPV) e fungos entomopatogênicos (Isaria fumosorosea). Também existe registro de feromônio sintético indicado para uso em armadilhas, utilizado principalmente para monitoramento dos adultos do inseto nas lavouras.

O momento correto da aplicação dos agentes microbiológicos é de extrema importância para o sucesso no controle da praga. A aplicação de B. thuringiensis, por exemplo, deve ser direcionada ao controle de lagartas de instares iniciais, principalmente 1º ao 3º instar, fase do inseto que a bactéria tem maior ação.

Quanto à utilização de vírus, deve-se considerar que esse agente de controle pode levar maior tempo para causar a morte das lagartas, sugerindo assim uma aplicação antecipada. Mesmo assim, resultados têm comprovado que ocorre redução na alimentação de lagartas depois de infectadas pelo vírus.

Quanto ao uso de fungos, pode-se salientar a importância de condições ambientais favoráveis para sobrevivência, germinação e esporulação, como elevada umidade relativa. Para todos os agentes biológicos deve-se considerar também a compatibilidade e intervalo de aplicação com os demais produtos fitossanitários utilizados na área.

Estudos têm sido desenvolvidos voltados à utilização de Trichogramma pretiosum (Hymenoptera: Trichogrammatidae) para parasitismo de ovos de H. armigera, como ocorre para outras espécies de lepidópteros, como H. zea, ressaltando que as maiores taxas de parasitismo ocorrem em ovos de até 36h, o que destaca a importância do momento correto da liberação dos parasitoides na área.

A principal forma de controle de H. armigera tem sido por meio de inseticidas químicos, no entanto, existem diversos registros, em diferentes países, de ocorrência de resistência de H. armigera aos principais inseticidas utilizados, como piretroides, ciclodienos, organofosforados e carbamatos.

No Brasil, foram desenvolvidos trabalhos que verificaram redução na suscetibilidade de populações de H. armigera aos inseticidas do grupo das diamidas, indicando o possível desenvolvimento de resistência. Atualmente, existem três ingredientes ativos (grupos químicos) com registro para controle de H. armigera no quiabeiro: espinetoram (espinosina), teflubenzurom (benzoilureia) e clorantraniliprole (antranilamida).

Lagarta-rosada

A espécie Pectinophora gossypiella (Lepidoptera: Gelechiidae), conhecida como lagarta-rosada, é uma importante praga do quiabeiro e por ser uma praga-chave do algodoeiro deve-se evitar o cultivo próximo ou sucessivo dessas culturas.

Os prejuízos ocorrem em decorrência da alimentação das lagartas nos botões florais e no fruto, danificando também as sementes, o que proporciona aberturas que facilitam a entrada de microrganismos, fato que reduz a produção e torna o produto inviável para comercialização.

As mariposas têm hábito noturno, ovipositando principalmente na parte reprodutiva da planta, como brácteas, botões florais ou flores, em geral de forma agrupada, com número de ovos variando entre cinco e 100, e com capacidade de oviposição de cerca de 250 a 500 ovos.

Esta praga tem preferência por épocas chuvosas e temperaturas elevadas. Apresenta grande capacidade de dispersão e de reprodução; ciclo de vida de cerca de 30 dias, podendo obter até cinco gerações em uma safra. Em função das injúrias causadas nos frutos pelas lagartas, quando detectada a ocorrência de P. gossypiella no quiabeiro, medidas de controle devem ser tomadas.

Por outro lado, o principal método de controle utilizado é o químico, sendo atualmente registrados os ingredientes ativos (grupos químicos): espinetoram (espinosina) e alfa-cipermetrina (piretroide) + teflubenzurom (benzoilureia).

Lagarta-rosca

Agrotis ipsilon (Lepidoptera: Noctuidae), conhecida como lagarta-rosca, é um inseto polífago que se alimenta de diversas culturas, incluindo o quiabeiro. É uma praga que causa problemas no início do desenvolvimento da cultura, realizando o corte rente ao solo, o que acarreta a morte da plântula. Pode também se alimentar da haste da planta, causando a quebra e tombamento.

É um inseto com hábito noturno, e durante o dia as lagartas ficam abrigadas no solo. As fêmeas podem ovipositar até 1.000 ovos ao longo de sua vida, o que demonstra a grande capacidade reprodutiva da espécie.

Os ovos são principalmente depositados na parte aérea da planta, como folhas e hastes, podendo também ser encontrados em material vegetal presente no solo, próximos às plantas hospedeiras. As lagartas eclodem após quatro dias da postura e, quando na parte aérea, migram para o solo ainda no primeiro instar.

A fase larval tem duração de 20 a 40 dias, com média de seis instares, dependendo das condições ambientais e disponibilidade de alimento. Tem preferência por solos com elevado teor de umidade e matéria orgânica. As lagartas de primeiro ao terceiro instares se alimentam raspando o tecido das plântulas, e a partir do quarto instar cortam as plântulas rente ao solo.

O ciclo de vida de A. ipsilon pode ter duração de 2 a 3 meses. Fatores como a polifagia, os elevados prejuízos ocasionados na lavoura em função da alimentação e a alta capacidade reprodutiva, caracterizam essa espécie como uma importante praga no quiabeiro.

As práticas culturais, como a eliminação de plantas daninhas e o correto manejo da área no pós-cultivo, auxiliam na diminuição da população de A. ipsilon no campo, já que é uma espécie com amplo espectro de hospedeiros e as fêmeas fazem oviposição tanto na planta como em restos culturais ainda verdes.

Para o controle químico podem ser utilizados os ingredientes ativos (grupos químicos): deltametrina (piretroide) e espinetoram (espinosinas). Em função do hábito noturno do inseto e de permanecer no solo, é feita a recomendação de aplicação no fim da tarde ou início da noite e com jato dirigindo-se à base da planta.

Vaquinha

Allocolaspis brunnea (Coleoptera: Chrysomelidae), conhecida como vaquinha, é um inseto de importância econômica para o quiabeiro devido aos danos que pode acarretar pela sua alimentação tanto na parte aérea da planta como na raiz.

Os adultos possuem coloração marrom-avermelhada. Têm preferência por se alimentar de pecíolos e partes novas da haste, podendo causar o dobramento dos pecíolos e posterior secamento. Apresentam hábito noturno e durante o dia ficam escondidos, se enterrando no solo, próximos à base da planta, em geral em até 5,0 cm ao redor da mesma.

As larvas vivem no solo e se alimentam das raízes das plantas. Além do quiabeiro, existem relatos da incidência do inseto em culturas como algodoeiro e rami.

Apesar da importância da ocorrência do inseto no quiabeiro não existem inseticidas químicos registrados para a praga. Recomenda-se para o manejo de A. brunnea a eliminação de plantas daninhas e de restos culturais, além do revolvimento do solo com aração e gradagem.

Broca-da-raiz

A broca-da-raiz, Eutinobothrus brasiliensis (Coleoptera: Curculionidae), é uma espécie hospedeira de plantas da família Malvaceae, como o quiabeiro e o algodoeiro. Os danos ocorrem devido à alimentação do inseto no coleto e na raiz da planta, realizando galerias e acarretando inicialmente a murcha e a seca das folhas, com consequente morte da planta.

O ataque pode ocorrer em plantas novas ou bem desenvolvidas. As plantas com maior desenvolvimento podem sobreviver à alimentação do inseto, porém pode ocorrer redução no tamanho da planta e na produção. Pode-se confirmar a ocorrência do inseto pelo engrossamento localizado no colo da planta, em decorrência da presença do inseto e de sua alimentação.

As fêmeas ovipositam na base do caule da planta, um ovo por dia de forma isolada. Os ovos têm coloração creme-esbranquiçada. A eclosão das larvas ocorre em 10 dias e logo começam a se alimentar no coleto da planta formando pequenas galerias, onde se pode notar a presença de detritos.

Conforme a larva se desenvolve as galerias vão aumentando de tamanho. A duração do período larval é em média de 54 dias. A formação das pupas ocorre no interior das próprias galerias, onde permanecem nesse estádio de desenvolvimento por 8 a 31 dias, dependendo das condições ambientais.

A espécie E. brasiliensis têm preferência por solos úmidos, ricos em matéria orgânica, com presença de restos culturais. Assim, para o seu controle é recomendado o manejo cultural da área, evitando solos de plantio direto, com grande quantidade de detritos, material vegetal em decomposição e plantas daninhas.

Também se deve evitar o plantio subsequente ou próximo ao algodoeiro. O revolvimento do solo por meio de aração auxilia no controle da praga. Apesar de existirem inseticidas químicos registrados para a broca-da-raiz no algodoeiro, o mesmo não acontece para este inseto-praga no quiabeiro.

Formiga

As formigas do gênero Solenopsis (Hymenoptera: Formicidae), conhecidas como lava-pé, podem causar desfolhas de 100% em plantas de quiabeiro, gerando prejuízos de mais de 80%, se não forem controladas. Estas formigas confeccionam ninhos rasos (30-40 cm de profundidade) e estreitos (22 cm de largura), o que facilita o controle, pois o simples passar de grades e arados nas áreas pode destruir os ninhos.

O maior problema destas formigas é em plantios de quiabo em áreas novas, pouco cultivadas e com pastagens. Estas áreas abrigam grande número de formigueiros. Assim, em função do uso destas áreas deve-se fazer uma amostragem em áreas de até 100 m da área cultivada. Se detectada a presença dos ninhos, estes devem ser tratados para controlar as formigas.

Áreas de plantio, com aração e gradagem, reduzem em mais de 90% o ataque, mas as áreas vizinhas não plantadas são mais difíceis. Assim, as formigas presentes em áreas vizinhas são problemas também e devem ser controladas.

O controle pode ser feito aplicando inseticidas em pulverização em área total, iscas formicidas nos formigueiros, aplicação com polvilhamento (pó) e via termonebulização. Todos estes métodos possuem pontos positivos e negativos.

A pulverização em área total é eficiente, mas de alto custo; iscas são de baixo custo, eficientes, mas em épocas chuvosas é limitante, por danificar as iscas; pós tem problemas nas épocas chuvosas, mas devido os ninhos serem mais rasos, comparados às saúvas, torna-se bem eficiente e de baixo custo, mas é muito tóxico ao ser humano, devido à formulação facilmente inalável.

A aplicação via termonebulização é eficiente, mas pouco usada para esta espécie, porém vantajosa em ninhos mais profundos e grandes.

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