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Práticas regenerativas fazem parte do novo dicionário do capitalismo mundial

Diante de uma urgência climática e a adoção crescente de práticas ESG em diversas esferas do mundo corporativo, outras correntes de pensamento estão sendo defendidas e colocadas em prática.

Divulgação

Toda empresa, quando nasce, prioriza necessariamente a lucratividade com a comercialização de seus produtos, o valor do seu capital em bolsas de valores, dividendos estendidos ao quadro societário e uma série de outros focos. Mas, diante de uma urgência climática e a adoção crescente de práticas ESG em diversas esferas do mundo corporativo, outras correntes de pensamento estão sendo defendidas e colocadas em prática.

O Capitalismo Regenerativo está cada vez mais forte como um pilar desse novo momento. O conceito assertivo de engajamento total na defesa da natureza como o principal ativo para preservação da vida humana é a chave mestra para esse sistema, que também tem um viés econômico, pois observa que o mercado mundial não possui força para se regular de forma autônoma, já que depende dos recursos naturais, que geram custos na hora de serem usados. 

Vale destacar ainda que sustentabilidade não é apenas dar um destino correto ao lixo, trocar o carro pela bicicleta, ou abdicar do uso do plástico. Essas atitudes possuem um enorme valor, mas a ação sustentável de fato deve interagir de forma global. Basicamente, o âmbito social da sustentabilidade tem a ver com a geração de renda, mas sem perder o objetivo macro: diminuir desigualdades sociais, priorizando, também, a qualidade de vida de funcionários e fornecedores. Esse espectro forma o conceito regenerativo que o novo capitalismo está buscando. 

Entre os pensadores desse novo sistema está o britânico John Elkington, criador do termo “Cisne Verde” e precursor da responsabilidade social e ambiental nas grandes empresas. Ele criou o conceito Triple Bottom Line (TBL), que em uma tradução grosseira significa “Resultado Triplo”. Ele é expresso por três colunas: Profit (Lucro), People (Pessoa) e Planet (Planeta). De forma resumida aponta que o lucro se faz presente, pois é o que mantém as empresas vivas, essência do capitalismo, mas que necessariamente deve estar acompanhado por uma visão de cuidado com as pessoas e com o planeta.

O aquecimento global e suas agruras, que estão cada dia mais presentes entre a sociedade, e as orientações equivocadas de autocratas, que fingem não enxergar as mazelas da sociedade, apontaram para a urgência para que esse pensamento se entranhe em todas as esferas, principalmente nas empresas. É preciso que haja um foco direcionado para além do lucro e do acionista (shareholder), e uma parte do olhar se volte para a preservação do planeta e o bem-estar de todos (stakeholders). Isso tudo exprime esse novo conceito do capitalismo, menos agressivo e sem alma, mais consciente e empático.

Outro ponto de equilíbrio que empresas têm colocado como meta entre as práticas de ESG, é o ideal do Carbono Negativo, onde as emissões de CO₂ são removidas em abundância, com pouca dispersão, sendo que a compensação desse pouco volume é ainda maior, gerando não apenas a neutralização das emissões, mas tornando as mesmas negativas. Essa ideia faz sentido se colocarmos na ponta do papel a quantidade de emissões feitas anualmente em todo o mundo. Só o Brasil lançou na atmosfera, 2,18 bilhões de toneladas de CO₂ na atmosfera. Todas essas variantes ganham significado crescente para as instituições financeiras atribuírem valor às empresas e para os consumidores escolherem produtos, além da reputação geral das companhias, cada vez mais cobradas para se adequarem aos novos princípios ESG.

Capitalismo Regenerativo cresce entre empresas nacionais e internacionais 

Diversas empresas estão se adequando aos modelos de negócios nos últimos anos. Entre as empresas nacionais estão inseridas a Mahta, empresa de foodtech, que tem em seus princípios básicos o modelo de agricultura regenerativa e com soluções que vão de encontro a questões vitais, como o desenvolvimento sustentável e de cadeias produtivas para a conservação de todo meio ambiente. 

A empresa criou um produto, o Nutrição Regenerativa da Floresta, alimento que agrega 15 superalimentos do bioma amazônico. Os ingredientes provêm de comunidades tradicionais da Amazônia e de pequenos agricultores que operam no modelo SAFs (sistemas agroflorestais), como os da Associação dos Pequenos Agrossilvicultores e Cooperativa Agropecuária e Florestal do Projeto RECA, de Rondônia, e da Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), do norte de Mato Grosso, entre outros.

“É uma questão de lógica. Tão importante quanto se alimentar bem, é imprescindível que tenhamos uma nova visão no planeta, uma modificação dos meios de produção para modelos que beneficiem não só o consumidor, mas também os produtores e o nosso ecossistema. A minha empresa, Mahta, se insere nesse debate com a promoção de ações em prol desse produtor da ponta, que respeita os ciclos da natureza e com toda cadeia, que engloba o meio ambiente, a natureza social do processo e seu impacto no mundo”, atesta Max Petrucci, sócio fundador da Mahta.

A reNature também aposta na agricultura regenerativa. A empresa, idealizada em Amsterdã, também atua no Brasil e tem gerado lucros de R$ 5 milhões anuais. Além da produção, a empresa presta consultoria para grandes marcas como Nespresso, Unilever e Danone, que estão aprimorando suas práticas no manejo agrícola.

Outro exemplo de empresa que abraça o conceito do Capitalismo Regenerativo é a Viva Floresta, que atua no desenvolvimento e distribuição de ativos da natureza e nutrimentos saudáveis e orgânicos, sem uso de agrotóxicos e insumos químicos. A empresa apoia e estimula o sistema agroflorestal, onde espécies agrícolas florestais são cultivadas no mesmo espaço, sem a depredação de hectares de mata nativa. 

Entre os exemplos internacionais estão a empresa de roupas Patagonia, eleita Campeã da Terra pela ONU; Guayaki que é uma empresa de erva-mate da Califórnia e a Dr.Bronner’s, empresa americana que comercializa cosméticos sustentáveis. Todas operam em consonância com as diretrizes de sustentabilidade englobadas nos conceitos do Cisne Verde de Elkington, procurando transformar a realidade das empresas mundiais. 

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