O primeiro dia do X Abisolo – Fórum e Exposição, principal evento da indústria de fertilizantes especiais, condicionadores de solo e substratos para plantas da América Latina promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), apresentou um vasto conteúdo sobre a sustentabilidade econômica da produção agrícola e um panorama sobre o ambiente de negócios e competitividade.
Com a presença do Presidente do Conselho Deliberativo da Abisolo, Roberto Levrero, do secretário de Defesa Agropecuária – Ministério da Agricultura e Pecuária, Carlos Goulart, do subsecretário da Agricultura do Estado de São Paulo, Orlando Melo de Castro, da chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Territorial, Lucíola Alves Magalhães, do Diretor do Departamento de Agronegócio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e vice-presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, Roberto Betancourt, e do sócio da Maneira Advogados, Eduardo Lourenço Gregório Júnior, a mesa de abertura deu início aos painéis temáticos desta quarta-feira, 5 de junho, no Expo D. Pedro, em Campinas (SP).
De acordo com Levrero, presidente do Conselho Deliberativo da Abisolo, o objetivo do fórum é ampliar o debate do papel estratégico do mercado de fertilizantes especiais. “Esse é um momento de troca de e conhecimentos e experiências. Temos consciência de que o nosso setor é estratégico para a manutenção da competitividade do agronegócio brasileiro e, com essa oportunidade, ampliamos a nossa capacidade de análise e decisão”, disse.
Levrero também ressaltou que o mercado de fertilizantes especiais teve um faturamento de R$ 22,6 bilhões em 2023, graças aos constantes investimentos em pesquisa e desenvolvimento, gestão e resiliência dos profissionais que atuam nesse setor. “Nosso setor contribuiu para o agro nacional com ganho de eficiência e diminuindo a dependência da importação dos insumos”, enfatizou Levrero.
O secretário de Defesa Agropecuária, Carlos Goulart, destacou o momento oportuno no aspecto de regulação dessa indústria. “Esse é um setor que está se transformando e inovando, testando as fronteiras da regulação, que hoje já não responde mais aos desafios apresentados. Um exemplo disso é como classificar os bioinsumos e como vendê-los, comercializá-los, já que possuem funções diferentes. Precisamos de uma legislação que seja flexível o suficiente para não negar novas tecnologias”, apontou Goulart.
Negócios e competitividade
O painel de abertura do fórum foi dedicado ao tema “Ambiente de negócios e competitividade”, com uma abordagem detalhada sobre a competitividade, segurança jurídica, ambiente de negócios, mercado de carbono e sustentabilidade da produção agrícola brasileira.
A primeira palestra foi ministrada pelo professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Daniel Vargas, com o tema a “Sustentabilidade da Produção Agrícola Brasileira e o Mercado de Carbono”. Vargas abordou duas questões centrais para a produção de alimentos no Brasil: o significado de “verde” e qual a posição do país no mercado de carbono.
“Sabemos que nos últimos anos o mundo tem dado muitos passos para abraçar a agenda verde como um caminho de progresso. Mas ‘verde’, no debate internacional é um conjunto de objetivos estabelecidos por padrões ou pela ciência e que nos permitem diferenciar as atividades produtivas e dizer quais são sustentáveis e quais não são”, explicou.
Quando esses padrões aterrizam na realidade tropical, como no Brasil, as tensões começam a emergir, segundo o palestrante da FGV. “Ao discutirmos a transição verde, a impressão é de que a nossa tarefa é nos adaptar ao que foi definido por padrões internacionais. Mas o setor de uso da terra tem uma condição própria. Temos a oportunidade de criar uma maneira de tornar visível e rentável o nosso verde para convertê-lo em valor”, ressaltou Vargas.
O professor também questionou qual é e qual deve ser o papel da agropecuária no mercado de carbono? Internacionalmente, ele explicou que o foco central desse mercado tem sido a criação de um regime que permita adaptação da realidade para atividades que são mais limpas ou mais sustentáveis. No Brasil, segundo ele, o debate oscila, mas prevalece a ideia de que precisamos adaptar esse regime para tratar o uso do solo.
“Nós vamos participar desse regime como mais um setor devedor, com metas e obrigações a cumprir, ou vamos participar desse setor como um credor, como alguém que tem a função e a tarefa de oferecer ativos que podem contribuir com serviços ambientais sustentáveis para o planeta?”, questionou. “O melhor caminho e proposta para um regime de precificação do mercado de carbono brasileiro é a segunda rota, na qual conseguiremos capitalizar financiamento, investimentos, tecnologia e técnicas de produção mais sustentáveis”, concluiu Vargas.
A segunda palestra foi dedicada à “Competitividade Internacional da Agricultura Brasileira: Status, Riscos e Oportunidades” e contou com o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, como palestrante. Ele concentrou sua fala em três pontos principais: uma avaliação das bases da produção e da sustentabilidade produtiva do agronegócio, a preservação das florestas brasileiras por meio da adoção de tecnologias poupadoras da terra e as exportações brasileiras em comparação com outros países.
“O Brasil vem crescendo a sua Produtividade Total dos Fatores (PTF), de forma muito mais rápida do que o resto do mundo. O PTF é a capacidade de gerenciar melhor os insumos e o conhecimento que façam com que a utilização dos insumos seja aproveitada de forma mais eficiente”, analisou o palestrante ao comentar o “efeito poupa-floresta”, que evidencia o compromisso do Brasil com práticas agrícolas sustentáveis. Comparando dados de produção e emissões de carbono ao longo das últimas décadas, o pesquisador explicou que o Brasil se destaca como líder na eficiência de produção por unidade de emissão, demonstrando um notável avanço na redução da pegada de carbono do setor agrícola.
“Quando comparamos a relação entre produção e emissão de carbono ao longo das últimas décadas, é notável o avanço que o Brasil alcançou. Na década de 90, um quilo de carbono resultava na produção de 243 quilos de alimento. Hoje, esse mesmo quilo de carbono gera uma produção de 774 quilos de alimento. Este aumento significativo na eficiência produtiva demonstra o compromisso do Brasil com a sustentabilidade e sua liderança na redução da pegada de carbono no setor agrícola”, explicou Vieira Filho.
O primeiro painel desta quarta-feira foi encerrado por uma síntese do professor da FIA Business School, Ivan Wedekin, responsável também pela medição das perguntas dos participantes.
Sustentabilidade Econômica
No período da tarde, o segundo painel abordou a “Sustentabilidade Econômica da Produção Agrícola” e apresentou um panorama do cenário macroeconômico, político e geopolítico do setor de fertilizantes.
O economista e consultor da MB Associados, Sérgio Vale, foi responsável por abordar o tema “Cenário Macroeconômico, Político e Geopolítico e Impactos no Agro. “Os indicadores mostram que a recessão dos Estados Unidos deve chegar até o final do ano. E no segundo semestre já começaremos a ver isso acontecer, incentivado também pelas eleições presidenciais norte-americanas”, analisou Vale.
Ele explicou que as guerras da Ucrânia e de Israel também têm reflexo nessa conjuntura, assim como a produção chinesa, que favorece a ampliação comércio da China para fora do país. Tais fatores mostram que a economia mundial está se fragmentando, de acordo com o palestrante
Já no mercado nacional, o economista destacou o agronegócio como um fator do crescimento da economia brasileira. “As commodities têm sido o grande carro chefe desse crescimento. O Brasil está cada vez mais bem posicionado no mundo das commodities. E o processo de descarbonização pode acelerar essa tendencia”, frisou Vale.
Ele também ressaltou os efeitos sociais dessa mudança. “Os estados do agro têm os menores índices de desigualdade de renda atualmente, a exemplo de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A esfera social desses estados se desenvolveu com muita intensidade, mostrando que o agronegócio não é só economia, mas tem cada vez mais impacto social”, listou o palestrante.
A segunda palestra foi apresentada pela engenheira agronômica e editora assistente de grãos e fertilizantes na Argus Media, Renata Cardarelli, e teve como tema o cenário global dos fertilizantes. “O País importa em torno de mais de 80% dos fertilizantes necessários e busca alternativas para diminuir a dependência da importação”, afirmou a palestrante.
Renata também ressaltou a importância de se acompanhar o cenário dos fertilizantes NPK. “O panorama é de pouca movimentação de preço e uma tendência de queda. Outro ponto de atenção no é a disponibilidade de ureia chinesa para o mercado, o que acaba refletindo nos valores globais”, alterou Renata.
A demanda global do fertilizante é de 180 milhões de toneladas anualmente, diante de uma capacidade de produção de 200 milhões de toneladas. “A perspectiva é de que a oferta se mantenha maior do que a demanda. O sudeste asiático e Austrália devem intensificar a compra e o movimento no ocidente deve aumentar conforme os preços sobem”, explicou a palestrante da Argus Media.
Para encerrar o segundo e último painel desta quarta-feira, o consultor em agronegócios, Carlos Cogo, representante da COGO Inteligência em Agronegócio, abordou os cenários para o agronegócio global mundial e brasileiro, com destaque para a gestão da fazenda para além da porteira.
Para essa análise, Cogo listou os três principais fatores: a urbanização, a expansão populacional – concentrada em oito países africanos e do sudeste asiático – e o crescimento da classe média global, que hoje está em 3,8 bilhões de pessoas e caminha para 5,3 bilhões de pessoas até o final da década. “A classe média é a camada da população que mais impacta a mudança dos hábitos alimentares com o maior consumo de proteínas animais e de rações e grãos, como milho e farelo de soja”, disse Cogo.
O crescimento do consumo de proteína e de grãos em nível global é bastante desigual. “Hoje o Brasil é o quarto maior produtor de grãos no mundo, com 331 milhões de toneladas, e seguido pelos Estados Unidos, com 315 milhões. Também é o maior exportador global de grãos e de carne e dificilmente irá perder esse status nos próximos anos”, analisou o consultor.
Para abordar a gestão além da fronteira, ele destacou que o produtor brasileiro pode proteger seu negócio com base nos três itens que compõem o preço: cotação futura, Basis (disparidade de preço causada pela diferença geográfica entre os pontos de entrega das commodities) e a taxa de câmbio. Outro ponto de atenção é o baixo volume de vendas antecipadas à colheita, o que gera excesso de oferta na safra e reduz prêmios nos portos. E isso poderá se repetir em 2024/25, afirmou o palestrante
Outros pontos carentes de melhoria na gestão também foram citados pelo consultor. “Estamos tomando o cerrado como o maior estoque de terras agrícolas, mas nossa expansão precisa ser em direção ao Arco Norte, Matopiba e sul do Pará, nossas principais fronteiras agrícolas. O produtor brasileiro também precisa fazer seguro rural, mas poucos fazem. A gestão de risco Hedge também é feita por uma minoria”, afirmou.
Cogo também citou a preocupação com o nível de escassez de água, visto que o Brasil já ocupa a lista de risco médio; a gestão de armazenagem, com tendência a um déficit de 123,1 milhões de toneladas em 2025; a frota, que cresceu expressivamente, mas não na mesma proporção de área plantada e possui máquinas defasadas; além da falta de conectividade, com 69% das fazendas brasileiras sem conexão à Internet.
Além da grande de palestras, X Fórum da Abisolo também contou com a participação de 40 expositores, que puderam apresentar seus lançamentos em produtos e serviços aos visitantes do evento. O segundo e último dia do evento ocorre nessa quinta-feira, 6 de junho. Mais informações em https://forum.abisolo.com.br/.