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Produtos biológicos: sustentabilidade com eficiência

Os produtos biológicos de controle são categorizados como bioinseticidas, biofungicidas, bioacaricidas e bionematicidas.

Foto: ABCbio

Carlos Antônio dos Santos
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia e professor – Instituto Federal do Paraná (IFPR)
carlos.santos@ifpr.edu.br

O mercado de produtos biológicos tem crescido num ritmo veloz, sendo um dos grandes destaques do agronegócio brasileiro na atualidade. O país é o grande protagonista mundial na produção e adoção de produtos biológicos e apresenta cenários promissores de crescimento. 

A nível de exemplo, dados da IHS Markit, em 2021, apontam que as estimativas de crescimento do mercado de biodefensivos no Brasil partem de R$ 1,9 bilhão, em 2021, para R$ 9,8 bilhões em 2027 e, para 2030, é esperado um valor próximo de R$ 16,9 milhões.

No Brasil, segundo relatório da Move Analytics, o número de empresas registrantes de produtos biológicos de controle partiu de 25, em 2010, para 132, em 2021. Nenhuma tecnologia cresceria num ritmo tão acentuado se não estivesse entregando resultados promissores.

Benefícios

Diversos fatores podem explicar o aumento exponencial na utilização de biológicos nas lavouras brasileiras e em todo o mundo. Os principais foram os investimentos feitos em pesquisa e inovação pela iniciativa pública e privada, que têm garantido avanços na seleção de espécies e isolados promissores para o controle biológico, bem como a geração de um grande conjunto de informações e recomendações alinhadas às características de nossas lavouras.

A sustentabilidade é outro fator que pesa na escolha pelos biológicos. A busca por práticas de menor impacto nas atividades agrícolas é uma pauta de relevância na agenda do futuro da agricultura sendo, inclusive, uma exigência por parte de alguns mercados.

Outro ponto que merece ser destacado é a perda da efetividade de alguns ativos químicos, que reduzem as opções de controle de pragas e doenças. A disponibilização de novos ativos químicos é limitada e morosa, devido a aspectos regulatórios e critérios mais rígidos quanto à toxicidade e persistência no ambiente.

As vantagens do uso de produtos biológicos para controle de pragas e doenças incluem maior especificidade e seletividade, um controle mais duradouro, multiplicação e dispersão no ambiente; menor poluição e toxicidade, além de um menor risco de resistência.

Já as desvantagens incluem uma ação mais lenta, comparado aos químicos; possibilidade de influência das condições ambientais, além de condições especiais de armazenamento.

Bionematicidas

Em função do alvo, os produtos biológicos de controle são categorizados como bioinseticidas, biofungicidas, bioacaricidas e bionematicidas.

Os nematoides fitopatogênicos são pequenos vermes, microscópicos, ou seja, que não podem ser vistos a olho nu. A raiz é o principal órgão atacado por esses agentes, causando danos diretos e indiretos às plantas.

Diferentemente do tamanho diminuto desses parasitas, os prejuízos por eles causados são gigantescos. Dados da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN) apontam que as perdas causadas por nematoides no Brasil são estimadas em R$ 35 bilhões por ano, sendo R$ 16,2 bilhões somente para a cultura da soja.

Com base em informações da Embrapa, a utilização de bionematicidas é um dos mais expressivos casos de sucesso na adoção do controle biológicos no Brasil, sendo, inclusive, superior ao mercado de nematicidas químicos.

No segmento de bionematicidas, destacam-se a adoção nas culturas do milho, soja e cana-de-açúcar. Os agentes atuam na redução da população dos nematoides, promovendo redução das perdas e ganhos em produtividade.

Alguns destes produtos podem, inclusive, promover proteção contra outros patógenos causadores de danos radiculares, como exemplo, o fungo Fusarium.

Na cultura soja, principal produto do agronegócio brasileiro, dados da CropLife Brasil indicam que cerca de 2,5 milhões de hectares utilizaram produtos biológicos para controlar nematoides na safra 2019/20. Houve, portanto, um aumento de 45%, comparado à safra anterior.

Tecnologias mais recentes

Conforme consulta ao Agrofit (2024) do Ministério da Agricultura, atualmente existem 78 produtos formulados e registrados na classe de nematicidas microbiológicos. Estes bionematicidas são produtos biológicos à base de Bacillus spp., Paecilomyces lilacinus, Paenibacillus azotofixans, Pasteuria nishizawae, Pochonia chlamydosporia, Priestia megaterium, Pseudomonas oryzihabitans; Purpureocillium lilacinum e Trichoderma spp.

A depender da formulação, as espécies voltadas ao biocontrole dos nematoides poderão ser comercializadas isoladamente, em um conjunto de isolados da mesma espécie, ou no conjunto de espécies no mesmo produto.

Outro ponto que merece ser destacado é a inclusão recente de novas formulações, destacando, portanto, os avanços desse segmento. Todo o processo é fruto de muitos investimentos no desenvolvimento destas inovações, bem como validação de sua eficiência e segurança perante os órgãos regulatórios.

As bactérias do gênero Bacillus estão presentes na maior parte dos produtos formulados da classe dos nematicidas biológicos, de acordo com dados do Agrofit/MAPA. Uma publicação recente feita por Dias-Arieira e colaboradores (2022) aponta um compilado de estudos científicos que identificaram as razões por trás da eficiência dos biológicos no controle dos nematoides.

A nível de exemplo, observa-se, no geral, que os Bacillus apresentam diferentes frentes de batalha na luta contra os nematoides, incluindo a antibiose, competição, promoção do crescimento e indução de resistência.

Os fungos Purpureocillium lilacinum e Pochonia chlamydosporia parasitam ovos e fêmeas e atuam na indução de resistência nas plantas. O fungo Trichoderma spp. também atua por meio de parasitismo, antibiose, produção de substâncias; indução de resistência; produção de metabólitos secundários, dentre outros mecanismos.

Pseudomonas fluorescens é capaz de destruir ovos de nematoides e diminuir a eclosão dos juvenis, além da produção de compostos e indução de resistência. Já as bactérias do gênero Pasteuria são parasitas obrigatórios de nematoides com alta especificidade.

Reflexos diretos

Os efeitos positivos dos produtos biológicos estão diretamente relacionados com a(s) espécie(s) que compõem o produto e com o(s) isolado(s) deste(s) microrganismo(s). Os produtos atualmente disponíveis e registrados no MAPA passaram por anos de pesquisa e validação de sua eficiência para o controle de nematoides.

Apesar disso, a oferta de produtos tem potencial para ser ainda maior. Dentre as limitações, destaca-se que algumas espécies ou isolados são altamente eficientes no controle dos nematoides em condições controladas.

No entanto, a produção em larga escala dessas espécies como bioinsumos é dificultada, o que limita sua utilização comercial. Outros pontos que merecem ser discutidos é que alguns materiais apresentam tempo de prateleira baixo, ou apresentam limitações quanto à competitividade na rizosfera.

As instituições públicas e privadas, no entanto, persistem nos estudos e nas buscas por novos materiais visando ampliar as possibilidades, além das disponíveis atualmente ao agricultor brasileiro.

Os principais esforços têm sido pautados em inovações visando ampliar a compatibilidade dos biológicos com outros produtos, principalmente quando se trata da mistura em calda, além da obtenção de formulações cada vez mais elaboradas e aspectos quanto às inovações na tecnologia de aplicação de biológicos.

Foto: ABCbio

Devido à importância dos biológicos para o futuro da agricultura brasileira e ao mercado aquecido, crescendo num ritmo veloz, são esperadas, nos próximos anos, grandes inovações, tanto em termos de produtos quanto recomendações práticas.

Aplicações dos produtos biológicos

As inovações tecnológicas utilizando microrganismos benéficos têm sido muito bem difundidas na agricultura brasileira, sendo os bionematicidas um dos grandes exemplos de sucesso.

No entanto, também deve ser ressaltado o uso de agentes biológicos para o controle de outros patógenos de solo, existindo uma série de produtos atualmente em uso. Um exemplo são as formulações contendo Bacillus spp. e Trichoderma spp. para controle do mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) na soja.

Os avanços também têm se expandido para patógenos foliares, como exemplo, produtos à base de Bacillus spp. para controle da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi) e ferrugem do café (Hemileia vastatrix).

Alguns destes produtos, inclusive, são categorizados como multissítios, um aspecto importante a ser considerado.

No tocante ao controle de pragas, destacam-se, principalmente, os inseticidas microbiológicos à base de Metarhizium spp., Beauveria bassiana, Isaria spp. e Bacillus thurigiensis. São bioinseticidas utilizados em larga escala, incluindo culturas de importância, como a soja, por exemplo.

Outro segmento de biológicos de relevância são os produtos conhecidos como inoculantes. As vantagens de seu uso são múltiplas, sendo eles grandes responsáveis pelo menor custo de produção da soja brasileira.

Atualmente, o Brasil produz mais de 75 milhões de doses de inoculantes e o uso já representa cerca de 85% da área produtiva da soja. Nos últimos 10 anos, essa produção cresceu, em volume, mais de 15% ao ano, segundo estimativas recentemente publicadas.

Aderência no mercado

A adoção de biológicos no controle de nematoides é uma estratégia viável na concepção do manejo integrado. Conforme apresentado nas projeções de crescimento do setor, a perspectiva é de que o crescimento do mercado de produtos biológicos continue num ritmo acelerado.

Recentemente, foi lançado pelo Ministério da Agricultura o “Programa Nacional de Bioinsumos”, com o objetivo de ampliar e fortalecer a utilização de bioinsumos para promoção do desenvolvimento sustentável na agropecuária brasileira. 

São exemplos de bioinsumos, além dos agentes de controle biológico, como os bionematicidas, os promotores de crescimento das plantas, como os inoculantes e bioestimulantes. Logo, são inovações que estarão cada vez mais presentes nas lavouras brasileiras.

A utilização de bionematicidas é um dos mais expressivos casos de sucesso na adoção do controle biológicos no Brasil

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