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Protegendo a florada do café, os frutos aparecem

É durante a florada que se define a produtividade dos cafezais. Exatamente por isso a fase é considerada uma das mais importantes do ciclo de produção do café. Por ser um momento tão crítico, a exigência com os cuidados e a saúde da planta também aumenta.

Florada é o início da cafeicultura, a base para a produtividade, porque é a partir dela que se forma o fruto. “Cada 100 flores resultam em 50 frutos, então temos que ser previdentes, pois não adianta na última hora tentar corrigir o que deixou de ser feito”, diz José Braz Matiello, engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação Procafé.

Ainda segundo ele, uma boa florada depende do trato realizado no último ano, principalmente do pegamento dela para se transformar em fruto, consequência do enfolhamento da planta. Assim, toda a adubação, controle de pragas e proteção da folhagem será benéfico para garantir a boa florada. Outra dica importante, dada pelo especialista, é que em pós-florada, nas regiões de altitude elevada e com umidade, o produtor aplique fungicidas para evitar a phoma, que é o principal problema que ataca a florada e os frutos novos.

“Phoma é um fungo que começa atacando as folhas, depois o botão, até o fruto novinho, e na última fase, com os frutos já grandes, os danos são menores. Com a phoma o fruto mumifica, porque ela mata a inflorescência e leva à perda de produtividade. A phoma também ataca os primeiros nós e ramos novos, que ficam queimados, diminuindo a área produtiva, derrubando folhas e reduzindo a fotossíntese da planta. Mas, o efeito mais danoso ainda é sobre os botões e chumbinhos dos frutos mais novos”, considera Matiello.

Condições ideais

Visando uma boa florada, o produtor deve contar com chuvas nesta época. Então, muitas vezes o erro está em plantar em área sujeita a vento, muito úmida e fria, sem quebra-vento, e não propiciar as condições onde a doença atacaria menos. Outro erro apontado por Matiello é não realizar as pulverizações de proteção da florada, para isso priorizando as lavouras que estão com mais carga, que são mais propícias a perdas, e aquelas que estão situadas em locais mais frios e úmidos, como fundos de lavouras, que recebem maior umidade, ou deixar a lavoura fechar muito, também condição que favorece a maior umidade.

Proteção da produtividade

As áreas com maiores problemas de phoma são o Triângulo Mineiro, o Sul de Minas, regiões da Mantiqueira e de montanhas, acima de 800 metros de altitude, ou regiões marítimas, que apresentam mais umidade, como Espírito Santo, Zona da Mata de Minas, Bahia, etc. “Nestes locais é importante tomar mais cuidado, porque são constantes as chuvas finas. Esta é uma doença muito ingrata, pois o produtor pode proteger a lavoura e não se deparar com a phoma, mas se deixar de proteger ela pode atacar e perder toda lavoura”, alerta.

Assim, são necessárias duas pulverizações de fungicida adequado, na dosagem também indicada na bula.

Custo x beneficio

O custo-benefício de proteger a lavoura é muito favorável, segundo Matiello, resultando em aumento de 05 a 07 sc/ha. “Os produtores têm ficado atentos, e investido nas aplicações preventivas, especialmente em regiões problemáticas com a phoma. É importante priorizar a lavoura que está em ano de safra. Recomendo que se o produtor não tem recurso para fazer aplicação em todas as lavouras, que faça pelo menos naquelas que estão com perspectivas de boa produtividade. Assim ele evita a perda significativa de produção e o custo não é tão elevado”, garante o pesquisador.

Importante saber

Na cafeicultura, a tendência que Matiello nota para o futuro é que os produtores melhorem seu manejo por meio de podas, arejamento da lavoura, que diminui a umidade dentro das lavouras e sistema safra zero. À medida que o clima esquenta, a phoma também tende a diminuir, por ser uma doença de clima mais frio.

“Nas áreas de café conilon, eventualmente em agosto e setembro há uma frente fria, fazendo a doença atacar essas regiões. Mas, passou esse período não há mais problema. Os ataques são maiores na área de café arábica, onde acontecem 90% dos problemas, especialmente em altitude de 900 a mil metros, que são mais frias e úmidas. Assim, toda atenção é pouca”, conclui Matiello.

Isso é muito importante porque se a ferrugem já estiver presente, recomenda-se diminuir o intervalo de tempo entre as aplicações e acrescentar fungicidas multissítios (de contato) no programa de controle.

Outras recomendações importantes são optar pelos fungicidas com melhor desempenho nos ensaios anuais de eficiência, publicados anualmente pela Embrapa, e alternar aplicações de fungicidas com princípios ativos diferentes, evitando mais do que duas aplicações do mesmo fungicida na mesma safra.

Devemos alertar que quanto mais cedo a ferrugem aparece no ciclo da planta, maior será a dificuldade de controle e maiores serão os potenciais prejuízos devido a falhas no controle. A ocorrência da ferrugem no início do florescimento ou antes, em anos com clima favorável à doença, pode ocasionar redução drástica da produtividade, chegando a inviabilizar a colheita quando não eficientemente controlada.

Felizmente, casos assim não têm ocorrido, e isso se deve aos controles legislativo (vazio sanitário e datas limites para semeadura) e cultural (cultivares precoces e semeaduras no início da época recomendada), além do controle químico preventivo e quando necessário.

Cultivares resistentes

A busca por cultivares de soja resistentes à ferrugem tem demandado um grande esforço da pesquisa agropecuária. Existem algumas cultivares resistentes no mercado, porém, todas elas baseadas em resistência monogênica, ou seja, muito eficiente, mas que pode ser facilmente suplantada (“quebrada”) pelo fungo causador da doença.

Por isso, mesmo nessas cultivares deve-se aplicar fungicida preventivamente. Mas, por que então semear cultivares resistentes se teremos que aplicar fungicida? Porque a cultivar resistente diminui consideravelmente os danos pelas falhas no controle (e essas falhas são muito mais frequentes do que imaginamos!).

As cultivares com genes de resistência não são imunes, ou seja, a doença ocorre, mas não progride, ou então evolui muito lentamente. A cultivar resistente é uma garantia, um seguro, talvez o seguro mais barato que exista.

Além disso, cultivares resistentes diminuem a pressão de seleção do fungo sobre os fungicidas, retardando o surgimento de populações do fungo resistentes. A mais recente cultivar de soja resistente à ferrugem asiática é a BRS 511, uma variedade de ciclo precoce e recomendada para diversas regiões do País.

O gene de resistência dessa variedade é diferente do que está presente em todas as outras variedades lançadas anteriormente. E, além de ser resistente à ferrugem, também é resistente à podridão-de-fitóftora, uma doença comum na região Sul do Brasil, cuja relevância vem crescendo no Centro-Oeste.

Do que a ferrugem gosta?

A presença de água na superfície das folhas é uma condição essencial para o estabelecimento da ferrugem. Sendo assim, quanto maior o tempo com molhamento foliar, melhores as condições para seu desenvolvimento e mais severos serão os danos.

O tempo no qual uma planta permanece com as folhas molhadas é muito mais dependente da frequência das chuvas do que de seu volume. O orvalho e a irrigação também são determinantes. Dias quentes e noites amenas, com alta umidade do ar, favorecem a formação de orvalho e, assim, criam condições favoráveis para a ferrugem.

O foco de ferrugem em MS

É muito interessante observarmos que a primeira lavoura na qual foi detectada a ferrugem em MS já estava no estádio R5, ou seja, no enchimento de vagens. Essa é uma informação extremamente importante, porque mostra o resultado de duas medidas de controle muito valiosas adotadas pelo produtor rural, que são: 1) realizar o vazio sanitário (para diminuir a sobrevivência da ferrugem na entressafra) e 2) semear a lavoura no início da época recomendada (para que as plantas escapem da ferrugem).

Não fossem essas duas medidas de controle, a ferrugem provavelmente surgiria muito mais cedo, talvez mesmo antes do início do florescimento. Apesar disso, esse primeiro foco em MS foi detectado bem mais cedo do que no ano passado, quando os primeiros relatos ocorreram no mês de janeiro.

O número de dias com chuva, de primeiro de outubro a 15 de novembro, foi muito semelhante entre os anos de 2017 e 2018. No entanto, em 2018 o volume de chuvas nesse período foi quase 200 milímetros superior, o que manteve a umidade do ar alta e criou condições para maior duração de molhamento foliar, favorecendo a ferrugem.

Outra informação importante é que o fato de a ferrugem ter sido detectada agora não significa que já não estava presente antes. Devemos lembrar que o cadastro dos focos de ferrugem no Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net) é voluntário.

Ao mesmo tempo em que é muito importante notificar o Consórcio e as autoridades competentes sobre a ocorrência da doença, pois isso serve de alerta aos produtores, não podemos confiar cegamente na ausência de ferrugem em locais sem relatos de sua ocorrência.

Isso reforça a necessidade do monitoramento constante de cada lavoura, especialmente a partir do início do florescimento ou do fechamento das entrelinhas, pois não há como prever com segurança quando a ferrugem vai aparecer.

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