Túlio de Paula Pires
Engenheiro agrônomo, mestrando em Agricultura e Informações Geoespaciais – Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisador Fronterra
tuliopiresagro@gmail.com
Alisson André Vicente Campos
Engenheiro agrônomo, doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) e pesquisador Fronterra
alissonavcampos@yahoo.com.br
O cultivo do café é significativo no setor agrícola brasileiro, e desempenha funções que contribuem para o desenvolvimento social e econômico do Brasil, garantindo a continuidade da existência dos produtores rurais no campo.
Porém, esses profissionais têm enfrentado diversos problemas no cultivo do café, incluindo falta de mão de obra, preço dos insumos, questões climáticas, resistência de plantas daninhas a herbicidas, pragas e doenças de difícil controle, que afetam diretamente o custo de produção.
As mudanças climáticas têm afetado de forma negativa o cultivo do café, mas por meio de soluções inovadoras e tecnológicas, podemos amenizar e garantir a produção em condições difíceis causadas pelo ambiente natural, seja ele biótico ou abiótico.
A realidade
Em 2024, a produtividade dos cafeicultores brasileiros diminuirá parcialmente, principalmente devido às adversidades climáticas como, granizo, ventos fortes, calor excessivo, chuvas irregulares.
A utilização de ácidos húmicos tem proporcionados melhores resultados no manejo do cafeeiro, visto que são compostos orgânicos, gerados a partir da decomposição química e biológica de qualquer material vivo existente.
Estes compostos propiciam uma maior retenção de água no solo, ocasionando o melhor desenvolvimento das plantas. Dessa forma, a maior retenção de água no solo ocorre porque o ácido húmico forma estruturas agregadas, lembrando uma esponja com espaços vazios, o que faz com que o solo tenha capacidade de reter grandes quantidades de água, liberando-a lentamente, conforme a necessidade da planta.
Segundo pesquisadores, a partir de condições e manejos específicos, os ácidos húmicos podem alcançar a capacidade de reter água na proporção de seis a oito vezes o seu peso.
Como eles atuam
Além de serem utilizados para o crescimento de plantas, estimulação e maior produtividade, os ácidos húmicos também podem ser utilizados no combate a estresses bióticos e abióticos devido aos seus efeitos diretos na produção de enzimas e metabólitos das plantas.
Atualmente, sabe-se que o sistema de resistência adquirida é ativado pela substância húmica, onde as proteinases e a fenilalanina amonioliase são ativadas. O déficit hídrico nas plantas é expresso pela ausência da quantidade normal de água nas plantas em seu ciclo de vida.
Este fenômeno acontece mundialmente e pode levar a distúrbios, como o menor tamanho de folhas, raízes e multiplicação radicular.
Os vegetais apresentam vários fenômenos bioquímicos e fisiológicos de resposta para o estresse hídrico a nível celular e de organelas. Nas folhas, os estômatos se fecham, e para que a membrana não seja danificada, são ativadas várias enzimas.
Diversos mecanismos podem ser desenvolvidos para contribuir com a tolerância e a adaptação contra o estresse, como a redução do conteúdo de água por maior acúmulo de metabólitos, prevenção da desintegração da membrana celular, ativação enzimática e incremento nos teores dos íons cálcio e potássio.
Defesa vegetal
Para melhoria e combate a estes fenômenos, pode-se fazer o uso de substâncias húmicas, que auxiliam no incremento da resistência à seca. As substâncias húmicas podem combater estresses ambientais por alterarem as propriedades químicas e físicas do solo, aumentando a capacidade de absorção de água, aeração, pH e transporte de íons.
Entretanto, isso ocorre quando a substância húmica é aplicada diretamente no solo, sobre a palhada ou restos de resíduos, com resultados no aumento do teor de matéria orgânica e, consequentemente, na melhoria da estruturação química do solo e, principalmente, na sua biologia.
Para o cafeeiro
Os ácidos húmicos e fúlvicos são bem-vindos para ajudar a reduzir a bienalidade do cafeeiro e aprimorar a qualidade dos grãos, assim como o incremento de produtividade. Essas substâncias são fundamentais no manejo nutricional do café, tendo em vista os benefícios que eles proporcionam diretamente no desenvolvimento das raízes, às plantas e também ao solo.
As substâncias húmicas estão associadas à melhora da estrutura do solo devido ao aumento da CTC, o que propicia também a retenção de água e promove um melhor aproveitamento de nutrientes fixados.
Com um bom sistema radicular, a planta se desenvolve com mais vigor, fica estruturalmente mais forte, sadia e apresenta maior resistência, refletindo diretamente no aumento de produtividade e contribuindo para uma melhor formação de frutos de elevada qualidade.
Opções
Dentre os condicionadores de solo, existem aqueles que ainda têm sua fórmula complementada com micro e/ou macronutrientes, para se enquadrarem como fertilizantes organominerais.
Os ácidos húmicos e fúlvicos fazem parte da composição orgânica do solo (húmus) e os condicionadores do solo tendem a simular essa composição. O húmus é formado a partir da decomposição da biomassa do solo em compostos orgânicos.
As substâncias húmicas possuem alta capacidade de troca de cátions e estão presentes em solos, águas e sedimentos com matéria orgânica estável, sendo originadas da deposição e/ou da degradação de resíduos orgânicos vegetais e animais, do metabolismo biológico destes compostos, da ciclagem do C, H, N e O da matéria orgânica do solo, pela biomassa microbiana e, ainda, da polimerização microbiológica dos compostos orgânicos cíclicos.
O resultado são substâncias complexas com diferentes pesos moleculares.
Sustentabilidade
Esses compostos orgânicos auxiliam no aumento da produtividade agrícola, além de ser uma prática sustentável, sem agressão ao meio ambiente. Promovem inúmeros benefícios que contribuem para o crescimento e desenvolvimento do cafeeiro.
Entre eles, estão: enraizamento e a brotação de novos ramos, e auxiliam a planta no equilíbrio hormonal. Ainda, as substâncias húmicas estimulam a produção dos hormônios vegetais: giberelina, citocinina e auxina; atuam na síntese da enzima ATPase da membrana, favorecendo o enraizamento da planta; estimulam a germinação de sementes e aceleram o crescimento das plantas.
Também ajudam na manutenção da fertilidade do solo, promovendo o equilíbrio do ecossistema (macro e microfauna do solo), o que auxilia na disponibilidade, absorção, translocação e eficiência de nutrientes, tais como nitrogênio e fósforo.
Observa-se maior capacidade de retenção de água também resulta em maior porosidade do solo e, portanto, melhor oxigenação; formação de quelatos orgânicos; aumento da atividade antioxidante das plantas e da resistência ao estresse de diversas fontes abióticas (hídrico, salino, altas e baixas temperaturas).
Embora não estejam diretamente relacionados a fatores biológicos, como pragas e doenças, os bioestimulantes podem promover um melhor desenvolvimento das plantas, que se tornam menos suscetíveis a ataques de fitopatógenos.
Manejo no cafeeiro
A aplicação dos ácidos orgânicos no cafeeiro pode ser feita via semente, diretamente no solo, pela irrigação, pela incorporação em fertilizantes ou, ainda, via foliar. Utilizá-lo não exime o uso da adubação com fertilizantes químicos.
Seu uso potencializa o efeito da absorção e translocação, propiciando, posteriormente, a redução de insumos químicos.
Cuidados
Como qualquer produto, cuidados devem ser tomados na aplicação para não se ter efeitos negativos. Deve-se averiguar a composição do produto, dosagem, recomendação, como aplicar e a melhor época para fazê-lo na cultura desejada.
Seu uso vem sendo cada vez mais implantado na cafeicultura para obtenção de maiores rendimentos, devido aos resultados constatados por pesquisas. Cada empresa tem sua linha de produtos e suas recomendações. Cabe ao técnico repassar essas informações de forma clara e objetiva para os cafeicultores, a fim de ter mais sucesso nas aplicações.
Só assim, haverá um expressivo aumento da produtividade e, consequentemente, financeiro para o cafeicultor, além da questão ambiental, uma vez que a utilização de produtos que contaminam o ambiente e que podem causar danos à saúde de trabalhadores do campo e consumidores pode ser minimizada.