Eduardo Petrelli
Cofundador e CEO da Diferente, principal foodtech de alimentos orgânicos do Brasil. É formado em Engenharia de Produção pela Universidade Católica do Paraná e pós-graduado em Business e Finance pela Universidade de Berkeley (EUA).
A busca por hábitos saudáveis e um modelo de vida sustentável se tornaram duas prioridades comuns dentro da nossa sociedade. Diante dessa pegada mais ecológica, as pessoas estão cada vez mais dispostas a alterar a sua rotina por práticas que estejam alinhadas à essa nova concepção. Uma dessas atitudes tem sido a adoção do consumo de alimentos orgânicos, que são cultivados livres de componentes químicos, como agrotóxicos, antibióticos e fertilizantes, não oferecendo resíduos desses compostos ao organismo, sendo benéficos para saúde, além de não afetar o meio ambiente.
De acordo com dados revelados pela pesquisa “Panorama do consumo de orgânicos no Brasil”, desenvolvida pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), 31% da população brasileira já inclui frutas, legumes e hortaliças orgânicos nas suas refeições. O dado de 2021 representa um aumento de 106% no número de consumidores em comparação a 2017. Portanto, fica claro que o consumo e a produção de alimentos orgânicos no Brasil segue crescendo. No entanto, a preocupação com a qualidade do cardápio não é o único ponto a se comemorar por trás dessa expansão dos alimentos cultivados de forma natural.
Agrotóxicos causam danos à saúde e ao ambiente
Não é segredo pra ninguém que o Brasil tem uma gigantesca cultura agrícola em toda a sua extensão territorial. Sendo assim, é possível dizer que o consumo cada vez mais forte de alimentos orgânicos significa uma redução importante sobre a presença dos agrotóxicos no solo. Até porque, o país convive com um uso intenso desses químicos em suas produções. Para se ter uma ideia, um estudo internacional apontou que as 500 mil toneladas utilizadas nas lavouras nacionais colocam o Brasil como líder global entre as nações que mais empregam esse tipo de veneno.
Esse alto índice não seria tão problemático se levarmos em conta o levantamento do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), realizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que analisou 4.616 amostras espalhadas pelo país e identificou que apenas 41 unidades (0,89%) apresentaram quantidades de resíduos que representam algum risco. No entanto, um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde e realizado pelo Instituto Butantan avaliou os dez agrotóxicos mais usados pelos agricultores brasileiros e apontou que na verdade não há dose segura para esses pesticidas, mesmo quando adotadas quantidades equivalentes a até um trigésimo do recomendado pela Anvisa.
Dessa forma, não há como negar que uma dieta baseada em frutas e vegetais orgânicos simbolizam menos riscos à saúde, tendo em vista que estes não estiveram em contato com os pesticidas. O corpo também agradece. Também, porque, além dele, o uso dos agrotóxicos gera problemas graves ao solo, à água, à fauna e à flora em decorrência dos componentes químicos.
Ambiente agradece
Há de se destacar então que o cultivo orgânico fortalece a preservação ambiental. Por exemplo, sem o uso dos fertilizantes artificiais, os produtores acabam se empenhando bem mais na condução do local da plantação, deixando sempre apto e propício a receber algum tipo de cultura. Portanto, práticas como a rotação de culturas e adubação verde são bastante benéficas para o resguardo do ambiente.
Vale destacar que o uso constante de agrotóxicos, como acontece na agricultura convencional, acaba por dificultar a fixação de nitrogênio pelos microrganismos que habitam o solo, deixando-o bem mais pobre e improdutivo de maneira muito rápida. Outro ponto que vale ser mencionado é que o próprio manuseio desses agrotóxicos também representam um perigo significativo para os trabalhadores rurais. De acordo com um levantamento feito pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os agrotóxicos são a segunda maior causa de intoxicação no país, perdendo apenas para os medicamentos. Sem o contato com esses produtos, o profissional assegura estar livre dos problemas comuns a esse tipo de veneno, tais como dores de cabeça, náuseas, dor de estômago, e, em casos de maior contato, até tipos de câncer.
Com tudo isso exposto, está claro que a adoção dos alimentos orgânicos trazem consigo muito mais vantagens do que apenas a melhor qualidade nutricional no prato dos brasileiros. O impacto dessa decisão influencia todo um ecossistema, culminando na preservação do meio ambiente. Nunca é demais ressaltar que o meio ambiente é vida. O que poucos sabem ainda é que os alimentos orgânicos também são.