Wanderley Oishi
Engenheiro agrônomo e consultor de grãos e fibras, proprietário da consultoria Quality Cotton Consultoria Agronômica, Ltda
wanderleyoishi@gmail.com
O principal fator climático é o aumento de temperatura que estamos observando em todas as regiões. Associado a este fator, a distribuição irregular e a ocorrência de pancadas de grande intensidade e de curta duração de chuvas têm aumentado, reduzindo a penetração da água no solo e aumentando o escorrimento superficial.
Com a ação destes dois fatores, a evaporação aumenta levando à necessidade de reduzir o intervalo das irrigações. Também vale ressaltar que o algodão é uma planta em que as condições ótimas de temperatura se situam entre 33 e 18ºC.
Tem sido comum a ocorrência de temperaturas superiores a 33ºC e, nesta condição, a planta fecha os estômatos e os processos fisiológicos cessam, obrigando a necessidade de irrigar para reduzir a temperatura e permitir a manutenção da funcionalidade da planta.
Produtividade
A irrigação permite que consigamos manter a estabilidade produtiva e qualitativa do algodoeiro. Com a falta de irrigação, as perdas quantitativas podem chegar a 80%. Além da perda drástica do potencial produtivo, as perdas qualitativas também são bastante significativas, a ponto de inviabilizar sua comercialização.
Para comercialização, características da fibra são essenciais, dentre elas o comprimento. Se nos primeiros 30 dias após a fecundação da flor ocorrerem episódios de estresse hídrico, o comprimento da fibra será muito impactado, ficando abaixo das exigências do mercado, que se situa acima de 1,08 polegadas, provocando deságio ou mesmo cancelamento da compra.
Se a fibra ficar curta, outra característica da pluma, denominada micronaire, é impactada e tende a aumentar, saindo do máximo exigido pelo mercado, que fica até 5,0. Além destas, a uniformidade da fibra também é impactada, forçando abaixo de 80%.
Também o índice de fibras curtas tende a aumentar acima de 10%. Tudo isso depreciará a fibra. Manter a planta dentro do ótimo das suas necessidades permitirá a ela alcançar a máxima produtividade e qualidade.
Benefícios da irrigação
Pensando em irrigação no algodoeiro, ela é complementar. Normalmente o plantio se estende de novembro a fevereiro. A irrigação é feita quando se observam veranicos entre dezembro a março, ou a partir do final das chuvas, de abril em diante.
Benefícios são inegáveis, principalmente porque o algodão é uma planta muito exigente em luz, temperatura, água e nutrientes. Estas condições ótimas são encontradas normalmente no final das chuvas, nos meses de abril e maio, com tempo mais aberto, ausência de nuvens e temperatura dentro da necessidade ótima das plantas.
Neste período, normalmente se inicia a irrigação complementar, porque a necessidade diária da planta atinge o máximo e as chuvas não conseguem atender a demanda da planta, gastando a reserva de umidade do solo.
Desafios
O grande desafio é ter pessoas capacitadas para definir o momento de fazer a irrigação. Os diferentes programas de irrigação existentes servem para balizar as irrigações, mas não conseguem atender as necessidades de cada pivô, ou mesmo de bandas do pivô.
Então, formar pessoas habilitadas para enxergar in loco, amostrando o solo e vendo o comportamento das plantas, é essencial para um bom manejo da irrigação. Outro fator que tem sido desafiador é a instabilidade da rede de energia e sua disponibilidade.
Na safra passada, muitas áreas sofreram com falta ou instabilidade de energia, o que comprometeu a produtividade.
Sustentabilidade
Como a água é um recurso finito, deve ser utilizado da melhor maneira parra ter resultados mais positivos com a cultura. A tecnologia está ajudando bastante no uso racional da água, mas precisa continuar a evoluir.
Deve-se acompanhar os dados climáticos, a umidade do solo e a taxa de crescimento das plantas de cada pivô para permitir maior racionalidade e resultados.
Potencial de uso
A irrigação está entrando em todas as regiões produtoras de algodão no Brasil. Inicialmente ela se concentrava no oeste da Bahia, noroeste de Minas, São Paulo e leste de Goiás.
Hoje ela está entrando em todas as regiões. O MT, onde se planta algodão de segunda safra na sua quase totalidade, tem problemas recorrentes de corte precoce de chuvas. A irrigação tem sido uma solução cada vez mais adotada naquele estado.
O cotonicultor está vendo que, para aumentar suas vendas, ele não pode depender unicamente do clima, é preciso ter segurança, estabilidade produtiva e qualitativa. Só assim conseguirá crescer no mercado internacional. A perspectiva é de aumento da área irrigada e maior participação na área a cada ano.
Impactos ambientais
As medidas que estão sendo utilizadas pelos produtores para reduzir os impactos ambientais do cultivo de algodão são o uso racional dos recursos, como fazer um bom planejamento das necessidades de água na cultura, formação de pessoas para monitoramento da disponibilidade de água no solo e crescimento diário da planta de cada pivô.
Recomenda-se, ainda, investimento em sistemas de monitoramento do clima e de desenvolvimento das plantas com uso de imagens NDVI, manutenção preventiva dos pivôs, redução do ciclo da cultura com a utilização de plantas de menor ciclo, controle eficiente de pragas para reduzir perdas de estruturas e manejo de porte da planta, entre outros.