Autores
Raphael Augusto de Castro e Melo
Pesquisador da Embrapa Hortaliças
raphael.melo@embrapa.br
A receita global do mercado de repolho totalizou US$ 39,4 bilhões em 2018, de acordo com o relatório da ResearchAndMarkets.com. Para o Brasil não há dados atualizados referentes ao valor movimentado por produtores, atacado e varejo.
Atualmente, estima-se que a área cultivada com repolho no Brasil ultrapassa 30 mil hectares, mantendo sua predominância nos Estados do Sudeste e do Sul, porém, com crescimento significativo no Nordeste, sobretudo em regiões de altitude como a Chapada Diamantina, na Bahia, e a Serra da Ibiapaba, no Ceará. A produção brasileira anual tem ficado acima de 370 mil toneladas.
Mundo x Brasil
No mundo, cerca de 70 milhões de toneladas de repolho são produzidas anualmente, em uma área próxima a 4,0 milhões de hectares, distribuída por 150 países. A China produz metade desse volume, seguida pela Índia, Angola e por países do Leste da Europa (Rússia e Ucrânia) e Indonésia.
No Brasil, o Estado de São Paulo, com 9.021 ha, e o Paraná, com 8.874 ha, em 2017, e Minas Gerais, com 2.243 ha, em 2018, são as principais regiões produtoras. A seguir está uma estratificação por municípios preponderantes na produção desta hortaliça:
ð SP – Sorocaba com 5.092 ha, Mogi das Cruzes com 899 ha, Itapeva com 670 ha e São João da Boa Vista com 426 ha representam as principais áreas de produção de repolho do Estado (IEA-SP, 2019).
ð PR – a área regional de Curitiba concentra os municípios de Araucária, Almirante Tamandaré, Colombo, Contenda, Mandirituba, São José dos Pinhais e Tamarana como os principais produtores de repolho (SEAB/DERAL-PR, 2019).
ð MG – Rio Paranaíba com 405 ha, Carandaí com 300 ha, Lagoa Dourada com 190 ha e Barbacena com 130 ha são as principais regiões (Emater-MG, 2019).
Produtividade média no Brasil
A produtividade média comercial de repolho varia grandemente no território nacional, sendo que bons produtores conseguem médias de 30 toneladas por hectare. Em regiões mais tecnificadas, a exemplo da Chapada Diamantina e do Rio Paranaíba, em Minas Gerais, produzem acima de 60 toneladas por hectare.
Mercado interno x externo
Não há exportação de repolho constante dos dados da Secretaria Comércio Exterior do Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços – SECEX/Mdic. O mercado interno para essa espécie em termos de quantidade consumida, volume e área produzida é relativamente estável quando comparado a outras folhosas ou variedades da mesma espécie – brócolis, couve-flor e couve.
Isso se deve majoritariamente à disponibilidade de cultivares adaptadas às regiões brasileiras e estações do ano, a tecnologias disponíveis para diferentes sistemas de produção e à competência de distintos segmentos da cadeia produtiva nacional. No entanto, dentro da conjuntura mercadológica dessa hortaliça, nota-se uma flutuação de preços e volumes que está intrinsicamente ligada a condições do tempo, especialmente a anos muito chuvosos ou períodos de seca prolongados, que têm causado diversos problemas fitossanitários, além do aumento dos custos de insumos, mão de obra, energia e outros fatores associados.
Investimento inicial
O custo de produção nas diferentes regiões tem valores iniciais próximos a R$ 20 mil e podem chegar a mais de R$ 30 mil, a depender do nível tecnológico empregado.
Desafios
Os principais gargalos fitossanitários no cultivo de repolho são relacionados, sobretudo, à traça-das-crucíferas (TDC) (Plutella xylostella) e à hérnia-das-crucíferas (Plasmodiophora brassicae). A resistência aos inseticidas, causada pelo uso desregrado e inadequado, e a restrição de agrotóxicos registrados para controle, no caso da hérnia, têm levado a prejuízos significativos em regiões produtoras.
Portanto, no caso da TDC, faz-se importante considerar o Manejo Integrado de Pragas (MIP), com controle utilizando barreiras físicas, tais como a manta de agrotêxtil, além do controle químico realizado de maneira racional a partir de produtos seletivos, que não prejudicam a ocorrência de inimigos naturais, e o controle biológico com bioinseticidas à base de bactérias que controlam as lagartas.
O controle da hérnia tem sido um dos maiores desafios das principais regiões produtoras de repolho em todo o mundo e no Brasil. Há menções em catálogos de híbridos com atribuída resistência, porém, essa descrição é contestável, pois se trata de um patógeno de difícil introgressão em programas de melhoramento, o que se deve ao fato de P. brassicae apresentar grande variabilidade genética, dificultando a seleção de cultivares que sejam resistentes a todas as raças conhecidas.
Assim, a escolha da área, a calagem do solo e o uso de mudas sadias, que podem ser tratadas com um fungicida registrado (Ciazofamida), são medidas preventivas recomendadas. Em casos de altos níveis de infestação do solo e ocorrência da doença faz-se necessária a rotação de culturas ou o pousio, deixando o solo sem cultivo de brássicas por pelo menos três anos.
Outro aspecto relevante é referente à qualidade de parte do repolho comercializado nacionalmente, que é insatisfatório devido, entre outras causas, à elevada incidência de danos físicos e à exposição do produto colhido a condições ambientais inadequadas nas etapas entre a colheita e a comercialização.
Recomenda-se o uso de boas práticas para reduzir o número de repasses e da necessidade de toalete (retirada de folhas com manchas de doenças ou descoloração) que são submetidas às cabeças recém-colhidas.
Além disso, recomenda-se melhorar o controle das condições ambientais (umidade relativa e temperatura) e utilizar, quando da demanda do mercado comprador, embalagens ou invólucros (filmes) que possam estender a durabilidade e, consequentemente, aumentar o tempo disponível para sua comercialização.