21.3 C
Uberlândia
sexta-feira, novembro 22, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosHortifrútiRelevância do cálcio para a tomaticultura

Relevância do cálcio para a tomaticultura

Autor

Carlos Eduardo Rosa
Engenheiro agrônomo – Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo – Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável – CDRS-SP
carlos.eduardo@cati.sp.gov.br

Com as projeções de aumento da população mundial e da demanda por alimentos, o Brasil se apresenta como um importante produtor mundial, com grande potencial de expansão da oferta de alimentos. Do grupo das hortaliças, o tomate é uma das espécies mais importantes do País do ponto de vista socioeconômico. devido ao volume produzido e consumido, os valores monetários movimentados e o número de pessoas empregadas na atividade produtiva.

Nesse cenário, a obtenção de novas tecnologias e a adoção de boas práticas de produção agropecuária são fundamentais para suprir a demanda constante por essa hortaliça. A correta nutrição mineral do tomateiro mostra-se imprescindível para o melhor desenvolvimento das plantas.

O conhecimento obtido pela pesquisa nos mostra que uma adubação equilibrada com macro e micronutrientes traz não somente aumento de produtividade, mas também da resistência das plantas a pragas, doenças e condições adversas do ambiente, bem como uma melhoria na qualidade do produto. Sendo assim, a nutrição do tomateiro envolve mais que o simples aporte de nutrientes no solo. É preciso fazê-la de forma técnica para a maximização dos resultados.

Cálcio

Do ponto de vista nutricional, o cálcio (Ca2+) exerce papel fundamental no desenvolvimento da planta e dos frutos, pois ativa importantes reações vitais e participa da estrutura celular (cerca de 60% do cálcio celular encontra-se na parede celular), exercendo função estabilizante, o que pode influir na textura, na firmeza e na maturação dos frutos do tomateiro.

É o terceiro nutriente mais absorvido pela cultura do tomate, podendo ser extraídas do solo quantidades superiores a 200 kg de cálcio por hectare em um ciclo de cultivo.

Sabe-se que a deficiência de íons de cálcio traz grandes prejuízos ao produtor, pois, além de afetar o desenvolvimento da planta, sua deficiência ocasiona baixa deposição de pectato e fosfato de cálcio nos frutos, resultando em uma desordem fisiológica conhecida como podridão apical ou “fundo preto”.

Os sintomas desta anomalia ocorrem inicialmente nos frutos verdes, com formação de áreas inicialmente brancas no tecido locular (parte interna), que evoluem para áreas enegrecidas. Externamente surge um pequeno ponto encharcado na porção distal do fruto. A mancha aumenta com o tempo e os tecidos afetados passam de marrom-claro a uma cor escura, seca e deprimida. Com isso, o aspecto e a qualidade são prejudicados, depreciando o produto e inviabilizando a comercialização dos frutos.

Danos causados pela deficiência

A deficiência de cálcio é determinada por concentrações inadequadas de cálcio no solo e, consequentemente, nos tecidos celulares ou, em alguns casos, se deve a falhas na absorção e transporte deste íon pela planta. Estudos sugerem que as interações entre diversos fatores edafoclimáticos podem provocar a restrição da absorção e transporte do cálcio.

Como o transporte do cálcio ocorre somente via xilema, e uma vez incorporado ao tecido celular torna-se imóvel na planta, quando a absorção de água e a transpiração da planta são reduzidas por influência de fatores externos estressantes (temperatura e radiação solar elevada, baixa umidade do ar e do solo, salinidade do solo, etc.), a absorção e transporte de cálcio é afetada de forma proporcional.

Outro aspecto importante é a competição desfavorável do íon Ca2+ com os íons NH4+, K+ e Mg2+ por sítios de absorção. Além disso, alguns genótipos podem ser mais suscetíveis a essa desordem fisiológica, influenciando em maior ou menor grau na incidência da podridão apical.

Solução

Apesar dos grandes problemas causados pela desordem em tomateiro, o problema pode ser contornado com algumas medidas simples e bastante eficazes, suprindo o solo com quantidades adequadas que atendam a demanda das plantas e fazer o aporte equilibrado de nutrientes, principalmente Mg2+ e K+.

Recomenda-se que pelo menos 90 dias antes do início da implantação da cultura se realize uma amostragem de solo para determinação da disponibilidade de nutrientes por meio de análise química. Com o resultado da análise química em mãos, a recomendação de adubação e calagem deve ser realizada por engenheiro agrônomo ou profissional habilitado, obedecendo sempre as necessidades da cultura ao longo de seu ciclo.

Recomendações

Para o fornecimento de cálcio e sua correção no solo em teores adequados, a técnica com melhor custo/benefício é a calagem, com aplicação do calcário a lanço em superfície em área total com posterior incorporação ao solo pelo menos 60 dias antes do transplantio das mudas.

A metodologia de cálculo da necessidade de calagem varia e cada Estado brasileiro possui a sua recomendação de acordo com os boletins oficiais elaborados pelos órgãos de pesquisa.

Uma metodologia bastante empregada pelos profissionais é a da saturação por bases (SP e PR). Outra metodologia que tem apresentado bons resultados em campo é a do equilíbrio de bases trocáveis em relação à capacidade de troca catiônica do solo (CTC), em que cada uma das bases (Ca2+, Mg2+ e K+) ocupa certa porcentagem da CTC, a depender da exigência da cultura.

Feito o aporte adequado de Ca2+ via solo, é de se esperar que não ocorra o problema da podridão apical nos frutos do tomateiro. No entanto, como já dito anteriormente, outros fatores edafoclimáticos podem levar a falhas na absorção do íon cálcio pela planta.

Um dos fatores diz respeito ao desequilíbrio das bases do solo (relação Ca2+, Mg2+ e K+) e ao desequilíbrio da adubação nitrogenada com o íon NH4+, pois há uma competição destes íons pelos sítios de absorção da planta. Verifica-se, na prática, que a recomendação da adubação com potássio e a calagem para fornecimento de cálcio e magnésio utilizando-se o método do equilíbrio de bases tem apresentado resultados bastante satisfatórios, sendo um método economicamente viável para evitar o problema da podridão apical.

Nessa metodologia, o cálcio ocupa cerca de 65% da CTC, o magnésio aproximadamente 15% da CTC e o potássio cerca de 5% da CTC do solo. Com relação à adubação nitrogenada, deve-se sempre respeitar a recomendação profissional e levar em conta o potencial produtivo esperado da lavoura. Com isso, maximiza-se a produtividade e a rentabilidade da cultura.

Manejo hídrico

Outro fator a ser observado é o manejo hídrico da cultura. Deve-se procurar fornecer água na medida certa para a lavoura. Muitos produtores não fazem um bom manejo da irrigação, tornando a atividade mais cara, ineficiente e até mesmo prejudicial ao tomateiro, predispondo a planta ao problema da podridão apical, já que estresses que diminuem a absorção e transporte de água pela planta também diminuirão o transporte de cálcio aos pontos de carência.

Um bom manejo da irrigação envolve primeiramente um bom projeto, correto dimensionamento do sistema e escolha certa dos equipamentos. Observado isso, o manejo deve ser eficiente e levar em conta as características de solo e do tempo no local.

Para apoiar o agricultor irrigante, a instalação de tensiômetros no solo em profundidades de 0-20 e 20-40 cm em pontos da lavoura ou o uso de aplicativos e sites que dispõem de dados agrometeorológicos auxiliam o produtor no cálculo da lâmina d’água a ser aplicada diariamente, evitando excessos e, principalmente, a falta de água para a cultura.

Escolha certa

A escolha da cultivar também tem influência na maior ou menor suscetibilidade de ocorrência do fundo preto em tomateiro, pois as características genéticas da planta podem interferir na absorção e translocação de cálcio para os frutos, bem como na adaptação às condições climáticas locais que podem ser fatores estressantes de absorção da água.

De modo geral, cultivares do grupo saladete e santa cruz são mais suscetíveis à ocorrência de fundo preto que cultivares do grupo salada. Portanto, a escolha técnica das cultivares mais adaptadas ao local de plantio são fundamentais para o sucesso da atividade.

Aplicação de cálcio

Tendo sido feito um correto fornecimento de cálcio via solo com a calagem, as aplicações foliares de cálcio podem ser dispensadas, podendo ser feitas apenas pontualmente no caso de ocorrência de fatores estressantes que interferirão na absorção de cálcio pelas raízes.

As pulverizações foliares são mais onerosas que a calagem e, portanto, a decisão pela sua adoção deve ser feita com critério, já que podem não trazer resultados significativos. Os frutos absorvem boa parte do cálcio fornecido via pulverização, mas essa absorção diminui com a idade do fruto, a contar da antese.

Assim, como medida preventiva, as pulverizações devem ser dirigidas para os cachos em início de formação com pulverizações a cada seis a dez dias com cloreto de cálcio ou nitrato de cálcio a 0,6 – 0,8% (600 a 800 g/100 L de água).

A produção de tomate não é simples e exige uma série de cuidados por parte do produtor, principalmente em relação à adubação e manejo hídrico. Tanto os órgãos de pesquisa quanto as empresas e órgãos de assistência técnica devem contribuir para que os produtores tenham as orientações adequadas e, assim, o sucesso da atividade seja garantido e se obtenha máxima rentabilidade na cultura do tomateiro.

ARTIGOS RELACIONADOS

Tecnologias para citricultura

  As frutas cítricas estão entre as mais apreciadas e produzidas no mundo. O Brasil destaca-se como maior produtor de laranja, segundo maior produtor de...

Jacto apresenta novos modelos de pulverizadores costais a bateria

  A JactoSmallFarmSolutions " unidade de negócios da Jacto que tem como foco servir aos pequenos produtores, busca soluções que tragam melhoria contínua de resultados...

Controle de pragas e doenças em folhosas

Alimentos como a alface contêm ácido fólico, que atua na síntese dos neurotransmissores como a serotonina, dopamina e noradrenalina. Estes, quando em quantidade adequada em nosso cérebro, ajudam a regular as sensações de ansiedade.

Podridão parda – O perigo ronda o pessegueiro

  José Luis da Silva Nunes Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia, grupo técnico do BADESUL, Agência de fomento do Estado do Rio Grande do Sul silva.nunes@ufrgs.br   O pessegueiro...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!