21.6 C
Uberlândia
quinta-feira, abril 17, 2025
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosGrãosSafra de soja 2020/21 já começou

Safra de soja 2020/21 já começou

Autor

Rodrigo Arroyo GarciaPesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste

Lavoura de soja – Créditos: Shutterstock

A safra começa muito antes do processo de plantio propriamente dito. A escolha dos genótipos é uma etapa estratégica e muitos critérios devem ser levados em consideração. Há uma grande oferta de genótipos no mercado, de várias empresas e com diversos níveis tecnológicos.

Caso as escolhas sejam equivocadas, o produtor já começa perdendo diversas sacas, até dezenas, mesmo sem ter iniciado o plantio. Além do mais, o custo desse insumo está cada vez maior. Ou seja, não podemos errar nessa etapa do processo de produção de soja.

Por onde começar

O primeiro passo é verificar se a cultivar tem recomendação para a região. Devido à sensibilidade da soja ao fotoperíodo, a adaptabilidade de cada genótipo oscila com a latitude, ou seja, conforme se desloca o seu cultivo para o Sul ou Norte.

Portanto, cada cultivar tem uma faixa limitada de adaptação em função do seu grupo de maturidade. A indicação de cultivares é baseada na diversidade de ecossistemas e tipos de solo e clima. Essa indicação é resultado de testes de VCU (valor de cultivo e uso) conduzidos regionalmente e que são apresentados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Foram estabelecidas cinco macrorregiões sojícolas e 20 regiões edafoclimáticas (RECs) distintas para pesquisa e indicação de cultivares. O objetivo é que os obtentores indiquem as respectivas cultivares segundo as macrorregiões e RECs.

Vamos para um exemplo prático: Dourados (MS) está situada na macrorregião 2 e na REC 204. Naviraí, mais ao Sul do Estado, também está na macrorregião 2, porém, na REC 202. Portanto, há cultivares mais adaptadas e que são recomendadas para os dois locais, enquanto outras, não.

A transgenia

Como muita tecnologia já vem “embarcada” na semente, isso acaba encarecendo o custo. No entanto, não necessariamente as mais caras serão as melhores opções em determinado ambiente de produção. O produtor tem que ter isso muito claro para poder fazer as melhores escolhas.

A Embrapa mantém simultaneamente três programas de melhoramento: 1. Soja convencional; 2. Soja RR (resistente ao glifosato) e 3. Soja intacta (cultivares IPRO, com resistência a algumas lagartas + resistência ao glifosato).

[rml_read_more]

As convencionais, além de produtivas, são alternativas para o manejo de plantas daninhas. Além do mais, há possibilidade de bônus na comercialização dos grãos. Com relação à RR, muitas empresas não lançaram mais cultivares com essa tecnologia. Ela é fundamental para as áreas de refúgio da tecnologia intacta.

Nessa última safra a Embrapa lançou cultivares RR (BRS 543 RR, BRS 544 RR, BRS 467 RR) tão produtivas quanto as intactas. Portanto, a não adoção do refúgio não pode ser justificada pelo menor potencial produtivo dos genótipos RR.

Finalizando, temos o grupo de cultivares com tecnologia intacta, que além de produtivas, trazem essa facilidade de manejo de lagartas na lavoura, além da resistência ao glifosato. Esses genótipos dominam o mercado de sementes na maior parte das regiões produtoras. Há municípios em que praticamente 100% da área é cultivada com essa tecnologia.

Áreas de expansão da soja

Um aspecto importante é que há áreas novas sendo incorporadas ao sistema produtivo, com diferentes níveis de qualidade do solo, seja por questões físicas e/ou químicas. Algumas cultivares são limitadas em alguns desses ambientes mais desafiadores.

Enquanto uma área consolidada tem potencial de mais de 80 sacas por hectare, em um ambiente menos favorável a produtividade não passa de 50 sacas, mesmo sem haver restrição hídrica. Por outro lado, há cultivares que se comportam de forma mais estável nesses ambientes.

Cultivares x épocas de semeadura

A época de semeadura é um fator que tem grande impacto no potencial produtivo da cultivar de soja. Além do mais, o produtor também pensa no milho em sucessão. As empresas indicam as épocas preferenciais de semeadura, assim como a população de plantas, para cada cultivar em determinada região.

Mais um ponto que nos ajuda a trabalhar com maior chance de sucesso.  De forma geral, a partir do início da semeadura, em meados de setembro, há menor quantidade de genótipos com elevado potencial produtivo para a REC 204, por exemplo. Avançando em outubro, o cenário muda bastante, com mais opções.

Para o fechamento de plantio, já em novembro, as opções diminuem novamente. Ou seja, difícil imaginar que teremos a melhor cultivar, com potencial de 80-90 sacas por hectare durante toda essa “janela” de plantio. Aquela velha recomendação de se trabalhar com variedades de ciclos diferentes, escalonando o plantio, continua valendo, ainda mais com a possibilidade de veranicos.

Cultivares x doenças, nematoides e pragas

Os fatores fitossanitários são extremamente relevantes. Muitas vezes, o que limita o potencial da cultivar em um talhão da propriedade é a ocorrência de um nematoide, por exemplo. Nesse caso, uma cultivar com resistência a esse fator é o mais importante, e os melhores resultados provavelmente não serão alcançados com a cultivar de melhor rendimento utilizada pelo vizinho, que não tem esse problema no solo.

Mais recentemente estão sendo lançadas outras tecnologias, como a tolerância ao percevejo (Block) e resistência à ferrugem asiática (Shield), que também podem ajudar o produtor na tomada de decisão, além, é claro, da tecnologia intacta.

Como relatado, vários fatores são importantes na escolha da cultivar, e se esses aspectos não forem levados em consideração, as chances de se obter produtividades elevadas diminuem consideravelmente. Em contrapartida, só a escolha da cultivar não é a solução de todos os problemas, pois sabemos bem que o sucesso da safra depende de vários pontos, inclusive alguns são trabalhados em longo prazo, como é o caso do Sistema Plantio Direto.

ARTIGOS RELACIONADOS

Câmbio e demanda interna sustentam recuperação do preço do arroz no ano

Depois de anos de preços abaixo dos custos de produção, os arrozeiros puderam desfrutar de cotações maiores pelo cereal, recompondo em alguns casos parte de perdas...

Diversificação de exportações e produtos com maior valor agregado são oportunidades para o Brasil

Hoje, com a recuperação progressiva da planta suína na China, “com a superação da grave crise da peste suína africana”, novas oportunidades surgem, como o aumento da demanda pelo milho.

Expectativas do mercado de fertilizantes para a safra 2022/23

Segundo Presidente da BRANDT do Brasil, o momento é de análise mais técnica e minuciosa por parte dos agricultores.

Prejuízos provocados pelos nematoides na agricultura brasileira

Segundo pesquisa da SBN, esses microrganismos provocam perdas de cerca de R$ 35 bi por ano aos produtores.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!