Jean dos Santos Silva – Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia/Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) – santos.jean96@yahoo.com.br
Denis Henrique Silva Nadaleti – Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Fitotecnia e pesquisador – INCT Café –denishenriquesilva@yahoo.com.br
O sistema safra zero do cafeeiro consiste na utilização da poda do tipo esqueletamento, como forma de programar a safra em anos alternados. A poda é realizada após safras com alta carga pendente, com a finalidade de manter o porte da lavoura e eliminar os custos de colheita em anos de safra baixa, uma vez que no ano seguinte o cafeeiro ficará sem produzir, apenas vegetando.
Com a ausência do custo de colheita, o cafeicultor consegue reduzir os custos de produção, visto que a colheita é a operação mais onerosa durante o ciclo da cultura, sendo responsável por 30 a 60% (no caso da colheita totalmente manual) dos custos de uma saca beneficiada de 60 kg. Com isso, a técnica vem sendo adotada com maior frequência ao longo dos anos, devido ao aumento da lucratividade da atividade.
Condição para a safra zero
Para que o sistema safra zero seja viável, é necessário alcançar um alto potencial produtivo no ano de safra, portanto, a meta é que a produtividade fique entre 80 a 100 sacas/ha, de modo a alcançar uma média entre 40 e 50 sacas/ha na média de duas colheitas.
A técnica consiste na realização de um decote alto (1,6 a 2,0 m), com corte dos ramos produtivos ou laterais. A altura do decote deve ser menor para espaçamentos entre linhas mais reduzidos, de modo a evitar o sombreamento da saia do cafeeiro.
Já para o corte dos ramos produtivos, é indicado um padrão que deixará o cafeeiro em um formato cônico, onde o corte dos ramos no topo serão de 20 a 30 cm e na base serão de 40 a 50 cm de distância do ramo principal. A época mais indicada para essa operação é entre julho e agosto, logo após a colheita e, com a retomada das chuvas, de modo a garantir um bom desenvolvimento vegetativo dos ramos produtivos.
A poda pode ser realizada por meio de operações mecanizadas, com implementos específicos acoplados ao trator. Esses implementos podem funcionar com lâminas do tipo pente cortante ou discos rotativos, e são indicados para áreas maiores com baixa declividade, com característica de possuir um alto rendimento operacional.
Há também as operações semi-mecanizadas, com a utilização de motosserras ou podadoras motorizadas, laterais ou costais. Essas são indicadas para cafeicultura de montanha, onde os terrenos são mais declivosos e as áreas tendem a ser menores. Apesar de ser semi-mecanizada, apresenta um rendimento operacional satisfatório.
Porteira adentro
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Resultados em campo mostram que, além do bom uso da técnica, a cultivar adotada no sistema é um fator determinante para o sucesso do sistema, uma vez que existem materiais genéticos mais responsivos a este tipo de poda.
Essa resposta está diretamente relacionada ao vigor vegetativo da cultivar, que será crucial para seu desempenho em produtividade. Estudos de Maia et al. (2020) e Domingues (2020), comparando a produtividade média de cultivares por dois ciclos de safra zero em relação à produtividade anterior, apontou que cultivares como o grupo Catucaí, Acauã, MGS Ametista, Catiguá MG2, MGS Paraíso 2, Paraíso MG H 419-1, IAPAR 59, IPR 98 e, Tupi IAC 1669-33 são mais responsivas ao esqueletamento.
De modo geral, os estudos apontam que a produtividade média em sistema safra zero tende a ser semelhante ou superior em relação à média da lavoura antes da poda. Mesmo para situações em que a produtividade média é pouco inferior ou semelhante, a técnica se mostra viável, pois há uma redução significativa com os custos da colheita em anos alternados.
Equívocos
Os erros mais frequentes associados ao sistema safra zero são:
– Ausência de desbrota dos ramos “ladrões”: Com a realização do esqueletamento com decote, há a quebra de dominância apical e penetração de luz ao longo do ramo principal, o que estimula o desenvolvimento de ramos ladrões. Esses ramos ladrões podem causar fechamento excessivo da planta, prejudicando a produção e o manejo fitossanitário, e além disso são fortes drenos de fotoassimilados e nutrientes. Com a sequência das safras, a ausência de desbrota pode levar à queda de produção e depauperamento da lavoura. Assim, recomenda-se a realização da desbrota, a fim de garantir a manutenção da produtividade e arquitetura das plantas. Para reduzir a mão de obra com a desbrota, o cafeicultor pode adiar o decote imediato após o esqueletamento, e realiza-lo dois meses após o corte dos ramos produtivos, garantindo uma menor brotação de ramos ladrões.
– Lavoura sem ramos produtivos: outro erro frequente é a utilização desse tipo de poda quando as plantas da lavoura já apresentam grande perda de ramos produtivos nos terços médio e inferior. Como a planta do cafeeiro não tem a capacidade de originar outro ramo produtivo, o esqueletamento não surtirá efeito positivo na recuperação da produção. Para evitar esse erro, o cafeicultor deve conhecer a lavoura onde irá iniciar o sistema. Caso ela apresente essa perda de ramo, deve-se utilizar outros tipos de poda, ou até mesmo renovar a lavoura.
– Época da poda: vale ressaltar essa informação, pois se trata de um erro comum em muitas propriedades. O atraso na poda, que diversas vezes ocorre devido à falta de planejamento, pode prejudicar a obtenção de altas produtividades do sistema. Por isso, acertar a época de realização da poda é crucial para o seu sucesso. Desse modo, é importante que a operação seja realizada o mais rápido possível após o término da colheita nos meses de julho ou agosto, permitindo um bom desenvolvimento vegetativo dos ramos produtivos, que já estarão em crescimento desde o início da elevação da temperatura e do período chuvoso.