24.6 C
Uberlândia
quinta-feira, novembro 21, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioDestaquesSafra zero do cafeeiro

Safra zero do cafeeiro

Jean dos Santos Silva Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia/Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) santos.jean96@yahoo.com.br 

Denis Henrique Silva Nadaleti Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Fitotecnia e pesquisador – INCT Cafédenishenriquesilva@yahoo.com.br

Café – Crédito: Shutterstock

O sistema safra zero do cafeeiro consiste na utilização da poda do tipo esqueletamento, como forma de programar a safra em anos alternados. A poda é realizada após safras com alta carga pendente, com a finalidade de manter o porte da lavoura e eliminar os custos de colheita em anos de safra baixa, uma vez que no ano seguinte o cafeeiro ficará sem produzir, apenas vegetando.

Com a ausência do custo de colheita, o cafeicultor consegue reduzir os custos de produção, visto que a colheita é a operação mais onerosa durante o ciclo da cultura, sendo responsável por 30 a 60% (no caso da colheita totalmente manual) dos custos de uma saca beneficiada de 60 kg. Com isso, a técnica vem sendo adotada com maior frequência ao longo dos anos, devido ao aumento da lucratividade da atividade.

Condição para a safra zero

Para que o sistema safra zero seja viável, é necessário alcançar um alto potencial produtivo no ano de safra, portanto, a meta é que a produtividade fique entre 80 a 100 sacas/ha, de modo a alcançar uma média entre 40 e 50 sacas/ha na média de duas colheitas.

A técnica consiste na realização de um decote alto (1,6 a 2,0 m), com corte dos ramos produtivos ou laterais. A altura do decote deve ser menor para espaçamentos entre linhas mais reduzidos, de modo a evitar o sombreamento da saia do cafeeiro.

Já para o corte dos ramos produtivos, é indicado um padrão que deixará o cafeeiro em um formato cônico, onde o corte dos ramos no topo serão de 20 a 30 cm e na base serão de 40 a 50 cm de distância do ramo principal. A época mais indicada para essa operação é entre julho e agosto, logo após a colheita e, com a retomada das chuvas, de modo a garantir um bom desenvolvimento vegetativo dos ramos produtivos.

A poda pode ser realizada por meio de operações mecanizadas, com implementos específicos acoplados ao trator. Esses implementos podem funcionar com lâminas do tipo pente cortante ou discos rotativos, e são indicados para áreas maiores com baixa declividade, com característica de possuir um alto rendimento operacional.

Há também as operações semi-mecanizadas, com a utilização de motosserras ou podadoras motorizadas, laterais ou costais. Essas são indicadas para cafeicultura de montanha, onde os terrenos são mais declivosos e as áreas tendem a ser menores. Apesar de ser semi-mecanizada, apresenta um rendimento operacional satisfatório.

Porteira adentro

[rml_read_more]

Resultados em campo mostram que, além do bom uso da técnica, a cultivar adotada no sistema é um fator determinante para o sucesso do sistema, uma vez que existem materiais genéticos mais responsivos a este tipo de poda.

Essa resposta está diretamente relacionada ao vigor vegetativo da cultivar, que será crucial para seu desempenho em produtividade. Estudos de Maia et al. (2020) e Domingues (2020), comparando a produtividade média de cultivares por dois ciclos de safra zero em relação à produtividade anterior, apontou que cultivares como o grupo Catucaí, Acauã, MGS Ametista, Catiguá MG2, MGS Paraíso 2, Paraíso MG H 419-1, IAPAR 59, IPR 98 e, Tupi IAC 1669-33 são mais responsivas ao esqueletamento.

De modo geral, os estudos apontam que a produtividade média em sistema safra zero tende a ser semelhante ou superior em relação à média da lavoura antes da poda. Mesmo para situações em que a produtividade média é pouco inferior ou semelhante, a técnica se mostra viável, pois há uma redução significativa com os custos da colheita em anos alternados.


Equívocos

Os erros mais frequentes associados ao sistema safra zero são:

– Ausência de desbrota dos ramos “ladrões”: Com a realização do esqueletamento com decote, há a quebra de dominância apical e penetração de luz ao longo do ramo principal, o que estimula o desenvolvimento de ramos ladrões. Esses ramos ladrões podem causar fechamento excessivo da planta, prejudicando a produção e o manejo fitossanitário, e além disso são fortes drenos de fotoassimilados e nutrientes. Com a sequência das safras, a ausência de desbrota pode levar à queda de produção e depauperamento da lavoura. Assim, recomenda-se a realização da desbrota, a fim de garantir a manutenção da produtividade e arquitetura das plantas. Para reduzir a mão de obra com a desbrota, o cafeicultor pode adiar o decote imediato após o esqueletamento, e realiza-lo dois meses após o corte dos ramos produtivos, garantindo uma menor brotação de ramos ladrões. 

– Lavoura sem ramos produtivos: outro erro frequente é a utilização desse tipo de poda quando as plantas da lavoura já apresentam grande perda de ramos produtivos nos terços médio e inferior. Como a planta do cafeeiro não tem a capacidade de originar outro ramo produtivo, o esqueletamento não surtirá efeito positivo na recuperação da produção. Para evitar esse erro, o cafeicultor deve conhecer a lavoura onde irá iniciar o sistema. Caso ela apresente essa perda de ramo, deve-se utilizar outros tipos de poda, ou até mesmo renovar a lavoura.

– Época da poda: vale ressaltar essa informação, pois se trata de um erro comum em muitas propriedades. O atraso na poda, que diversas vezes ocorre devido à falta de planejamento, pode prejudicar a obtenção de altas produtividades do sistema. Por isso, acertar a época de realização da poda é crucial para o seu sucesso. Desse modo, é importante que a operação seja realizada o mais rápido possível após o término da colheita nos meses de julho ou agosto, permitindo um bom desenvolvimento vegetativo dos ramos produtivos, que já estarão em crescimento desde o início da elevação da temperatura e do período chuvoso.

ARTIGOS RELACIONADOS

Dia de Campo Amipa 2018 – Algodão mineiro de qualidade

O evento aconteceu na Fazenda Amipa e contou com a presença de mais de 500 pessoas da cadeia produtiva do algodão No dia 27 de...

Aegro recebe aporte de 2,5 milhões da SP Ventures e a ABSeed

A Aegro Informática Ltda., startup que possui uma plataforma focada na gestão e na otimização de produção agrícola através de um software que permite...

Colheita do café: Produtores devem redobrar os cuidados

Em tempos de pandemia pelo novo coronavírus (Covid-19), o cafeicultor precisa redobrar os cuidados para proteger os colaboradores A colheita de café começou em todo o...

Solução inteligente e sustentável para irrigar a lavoura de café

  Aldair José Ribeiro Engenheiro agrônomo - Fazenda Platô Azul, Tiros (MG) Cláudio Pagotto Ronchi Engenheiro agrônomo e professor UFV " Campus Florestal claudiopagotto@yahoo.com.br   Cada vez mais a...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!