João Augusto Dourado Loiola
Graduando em Engenharia Agronômica – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
joaoaugustodourado@gmail.com
Júlio César Ribeiro
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador e consultor
jcragronomo@gmail.com
A cultura do maracujá possui característica genética de alogamia. Desta forma, para que ocorra a fecundação no ovário, o pólen deve ser proporcionado de outra planta do sexo oposto.
A autoincompatibilidade do maracujá pode ser dividida em heteromórficos e homomórficos. Os heteromórficos são classificados por possuírem diferenças nas estruturas florais, como nas sépalas, pétalas e órgãos reprodutores das flores.
Já os homomórficos são característicos por não apresentarem diferença nas estruturas florais. A polinização e a eficiência deste processo é fator intrínseco para se obter qualidade de frutificação, tamanho e peso dos frutos, além da porcentagem de polpa.
Entenda melhor
O genoma do pólen é dividido em duas classes, a gametofítica e esporofítica. Na classe gametofítica, os gametas são caracterizados por células haploides (possuem apenas um conjunto de cromossomos), células que se fundem e dão origem a seres diploides.
Já na classe esporofítica, a geração é característica por ser diploide, que produz esporos nas plantas. A esporulação ocorre na fase da meiose, originando indivíduos multicelulares, desta forma, o fenótipo do grão de pólen é semelhante à progenitora, enquanto na classe gametofítica o fenótipo do grão de pólen é correspondente ao genótipo do progenitor.
Compatibilidade
Pesquisas recentes sugerem que a autoincompatibilidade do maracujazeiro seja do tipo holomórfica esporofítica, pelo fato de verificarem que o estigma é classificado como seco. A superfície estigmática foi reconhecida como sendo de rejeição ou reconhecimento do pólen.
Sendo assim, as cultivares de maracujá possuem alta variabilidade genética, aumentando a eficiência de polinização da cultura. Cultivares com alta heterose são obtidas a partir da técnica de hibridação.
Desta forma, a autoincompatibilidade é utilizada neste caso para a produção de sementes híbridas de maracujá. As sementes híbridas devem possuir alta diversidade genética quanto à autoincompatibilidade.
Como funciona
Para a produção de sementes híbridas no campo, é realizado o processo de implantação de linhas auto incompatíveis alternadas com linhas que possuem grande contraste de alelos que possuem autoincompatibilidade.
Desta forma, as sementes híbridas serão coletadas na linha que representa autoincompatibilidade, apresentando baixa dominância. Para a produção da linhagem endogâmica, são utilizadas duas flores da mesma planta.
Técnicas de autopolinização foram desenvolvidas para a produção, portanto diversos autores afirmam que a autopolinização pode ser realizada com duas autopolinizações no dia da abertura da flor. A primeira anula o efeito da autoincompatibilidade, desta forma, a segunda polinização será assertiva na fertilização do óvulo.
Como é feita a polinização
A polinização no maracujá pode ser realizada de forma manual ou pelo polinizador natural da cultura. A polinização natural é realizada por mamangavas, sendo a taxa de frutificação, quantidade de polpa e número de frutos dependente da eficiência de polinização e da quantidade de polinizadores presentes na região.
Geralmente, quando ocorrem altas taxas de aplicações de defensivos agrícolas, o número de insetos polinizadores é menor, interferindo na produtividade do maracujá.
Já a polinização manual é realizada com o auxílio de colaboradores treinados, que realizam a retirada do pólen, polinizando as flores de maracujá de plantas distintas das quais o pólen foi retirado.
Em sistemas agrícolas de produção de maracujá, o pólen não poderá entrar em contato com o estigma da mesma flor que o originou. Para realizar a polinização manual, o colaborador deve observar a curvatura do estilete para realizar a fecundação.
Existem três tipos de curvatura de estilete, podendo ser totalmente curvados, parcialmente curvados, e estilete ausente de curvatura. Com isso, a polinização deve ser realizada quando o estilete possuir curvatura total ou parcial.
O colaborador deve tocar os dedos levemente nas anteras até que fiquem aglutinados com pólen. Assim, o colaborador irá transferir este pólen para três estigmas de outra flor.
Eficiência
Diversos autores afirmam que a polinização manual pode apresentar até 70% de fertilização das flores, enquanto a polinização natural com abelhas silvestres obtém taxas próximas a 25%.
A polinização manual é indicada quando a região apresentar altas taxas de aplicação de inseticidas, e onde a quantidade de insetos polinizadores seja baixa. Geralmente, em áreas extensas ocorre baixa eficiência de polinização por mamangavas pelo baixo número desses insetos, sendo importante para uma boa produção a realização da polinização manual.
É importante ressaltar que a abelha (Apis melífera) contribui com apenas 2% da fertilização do maracujá, visto que esta retira o pólen das flores e acabam não fertilizando flores de sexo oposto, repelindo a mamangava, sendo recomendado em regiões com elevada incidência dessas abelhas a realização da polinização de forma manual.
No entanto, a polinização com as abelhas do gênero Xylocopa, pela sua característica corporal, podem auxiliar no melhoramento em aspectos comerciais de até 25%, como qualidade de polpa, semente, dentre outros, contribuindo para o aumento na valorização dos frutos.
Custo
O custo da polinização pode ser calculado em relação ao valor total de produtividade obtida com o uso dos insetos polinizadores ou a polinização manual. Na polinização manual, geralmente o colaborador trabalhará por aproximadamente quatro horas diárias, totalizando 20 horas semanais polinizando flores.
Considerando que no ano de 2022 o salário mínimo é de R$ 1.212,00, o valor pelas horas trabalhadas será de R$ 606,00, sem considerar encargos trabalhistas. Com a floração de aproximadamente oito meses, o custo de um colaborador será de R$ 4.848,00 sem encargos.
Novidade
Uma medida que muitos produtores têm adotado é o manejo com ninhos de abelhas do tipo armadilha. O ninho armadilha é dotado de estruturas instaladas no ambiente natural das abelhas do gênero Xylocopa com o intuito de captura-las e manejá-las para os locais específicos onde irá ocorrer a polinização.
O custo para produção desses ninhos é irrisório, quando comparado ao custo da polinização manual.
Diversos são os fatores que interferem na polinização tanto manual quanto natural. A polinização manual é prejudicada quando os colaboradores são pouco experientes na tarefa da polinização, diminuindo a eficiência de fertilização do ovário.
No caso da polinização natural, fatores abióticos e bióticos interferem neste tipo de manejo. Por exemplo, a redução de vegetação e utilização de defensivos agrícolas nas regiões produtoras de maracujá são empecilhos para a sobrevivências das abelhas e mamangavas responsáveis pela polinização, ocasionando a redução da produtividade.