Seringueira: da madeira à borracha

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Foto:  Miriam Lins

Yanka Beatriz Costa Lourenço
Engenheira florestal, mestre em Ciência e Tecnologia da Madeira e doutoranda em Engenharia de Biomateriais – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
yankalourenco97@gmail.com
Kamilla Crysllayne Alves da Silva
Engenheira florestal e mestranda em Recursos Florestais – Universidade de São Paulo (USP)
kamilla.alves@usp.br
Nayane da Silva Lima
Engenheira florestal e mestranda em Ciências Florestais – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
nayanelima99@gmail.com

A Hevea brasiliensis (Willd. Ex Adr. De Juss) Muell. Arg., popularmente conhecida como seringueira, ocorre em grande parte na região amazônica do Brasil, em áreas inundáveis da mata de terra firme e em margem de rios, embora plantações comerciais tenham se estendido para outras regiões brasileiras em razão da sua grande importância econômica, devido à fonte de borracha natural, matéria-prima de inúmeros produtos.

Características

A seringueira é uma planta rústica com tronco ereto de 30 a 60 cm de diâmetro, apresenta casca escamosa, e sob condições favoráveis pode atingir 30 m de altura. A partir do 6º ao 7º ano, inicia-se a produção do seu látex.

Em habitat natural, a seringueira pode chegar a 100 anos de idade, contudo, em plantios comerciais, o ciclo de vida é reduzido para 35 anos, por consequência da extração do líquido leitoso.

Passo a passo

A extração da borracha, nos dias atuais, é obtida por um conjunto de processos que visam facilitar a atividade. O passo inicial é a abertura das vias de acesso ao seringal, permitindo facilitar o encontro mais rápido da espécie.

Logo após, realiza-se a limpeza no entorno da árvore, otimizando o trabalho. Em seguida, é realizada a marcação dos espaços, denominados “panos” ou “painéis”, destinados aos cortes durante o processo de extração.

Geralmente, utiliza-se em torno de quatro panos, o que é estabelecido pela maior ou menor espessura do tronco. Em seguida, é realizada a limpeza do local de extração com o auxílio do raspador e inicia-se o processo de corte, feito com o auxílio de uma faca específica para executar tal atividade.

O corte, por sua vez, é traçado no sentido transversal, podendo ser tanto do lado direito quanto esquerdo. Após a realização dos cortes destinados à “sangria” da seringueira, espera-se um período de três dias, que são destinados à recuperação da espécie.

O látex da seringueira é composto por 35% de hidrocarbonetos, além de proteínas, lipídeos, aminoácidos e água. A borracha natural produzida a partir desse látex possui características superiores às sintéticas, em razão da sua estrutura e do seu alto peso molecular, que garante uma maior resiliência, elasticidade, plasticidade, resistência ao desgaste e ao impacto, propriedades isolantes de eletricidade e impermeabilidade para líquidos e gases, que não são garantidas por polímeros sintéticos.

Versatilidade

Como a maior fonte produtora de borracha natural do mundo, a seringueira tornou-se essencial para a fabricação de diversos objetos distribuídos em diversos setores, como no automobilístico na confecção de pneus e acessórios para motos, carros, caminhões e até mesmo aviões, no setor da saúde e veterinária na fabricação de luvas, tubos, seringas e catéteres, além de objetos em geral, como brinquedos, acessórios para celulares, calçados e artigos de decoração.

Produção e avaliação econômica da produção do látex

Base para diversos processos industriais, o látex possui maior produção no continente asiático, sendo cerca de 80% da produção de borracha natural proveniente dos pequenos produtores da Tailândia, Indonésia e Malásia.

No Brasil, a produção corresponde a cerca de 180 mil toneladas, o que lhe confere o título de maior produtor de borracha natural da América Latina. Porém, cerca de 63% do material é importado, diretamente do seu consumo interno, e assim responsável por produzir apenas 1% em relação ao contexto mundial.

Os principais Estados extratores de látex são: São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Goiás, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Pará, Paraná, Pernambuco, Acre, Rio de Janeiro, Amazonas, Tocantins e Rondônia, com destaque para Goiás, que produz cerca de 20 mil toneladas.

São Paulo é classificado como o maior produtor de borracha natural, obtendo uma produção em torno de 60% em relação ao país, o que corresponde a 108 mil toneladas.

Produtividade

Os níveis de rendimento para a produção de látex tiveram um aumento significativo com o passar dos anos, indo de 864 kg/ha no ano de 1990 para 2.216 kg/ha em 2015. Tal resultado é consequência do avanço tecnológico, bem como da escolha e manejo da espécie.

A região sudeste do País apresentou resultados expressivos para o rendimento, que varia de 2.000 kg/ha no ano de 1990 para 2.700 kg/ha entre os anos de 2010 a 2016, tendo os estados que mais se destacaram durante 2010-2016: São Paulo (3.007 kg/ha), Goiás (2.857 kg/ha). e Minas Gerais (2.362 kg/ha).

Na produção, foi observado um aumento gradual entre os anos de 1990 e 2014, quando foram obtidas 24.284 toneladas em 1990, menor valor alcançado, e 320.649 toneladas em 2014, valor mais alto para os índices de produção.

Com média anual (2015-2016) de 210.000 toneladas, a região sudeste é considerada destaque na produção, o que corresponde a cerca de 70% da produção nacional. As demais regiões acumulam cerca de 50.000 toneladas, tendo as regiões norte e sul o acumulado de 6.000 toneladas.

A região sudeste é responsável pela variação nacional dos custos de produção, sendo de R$ 2,00 per capita em 1990, chegando a R$ 5,50 em 2016. Os maiores valores per capita para a produção concentraram-se nos Estados de Mato Grosso (R$ 36,50 por habitante), Espírito Santo (R$ 7,60 por habitante), Tocantins (R$ 5,01 por habitante), São Paulo (R$ 4,59 por habitante) e Bahia (R$ 4,25 por habitante) no ano de 2016.

Seringueira, além da borracha

Com seu uso disseminado e perspectivas de demanda futura, o pequeno produtor desfruta da seringueira como uma fonte de renda alternativa diante da possibilidade de consórcio com outras espécies.

Entretanto, ainda são necessários investimentos em tecnologia que permitam a adaptação da espécie às diferentes condições naturais de cada região do País e mão de obra qualificada para a extração do látex.

Destinar produções alternativas para espécies como a seringueira é a garantia de uma rotatividade de capital para pequenos e grandes produtores e, também, a possibilidade do aproveitamento integral das espécies.

Com seu ciclo produtivo de látex girando em torno de 30 anos, os plantios após esse período tendem a ser suprimidos para replantio. Entretanto, estudos mostram as possibilidades de uso além do látex.

Nos últimos anos, tem-se evidenciado que, após a produção de látex ser reduzida abaixo do nível considerado economicamente viável, a exploração da madeira de seringueira passa a representar uma nova fonte de utilização econômica com o processamento da sua madeira.

A madeira recém-serrada de seringueira apresenta cor clara ou creme e um tom rosáceo e um pouco mais amarelado, quando submetida à secagem. Não apresenta diferenciação entre cerne e alburno e tem densidade variando entre 560 a 650, considerada uma madeira de média densidade.

A madeira apresenta boas características de trabalhabilidade, sendo possível ser serrada, furada, torneada, aceitação de prego e facilmente colada. A madeira de seringueira, sob o ponto de vista da resistência ao ataque de xilófagos, é considerada suscetível em sua forma natural. Necessita, portanto, de tratamento preservativo.

A combinação de sua densidade, cor e fácil trabalhabilidade faz com que seu potencial de utilização seja enorme. Sua aplicação vem desde a fabricação de compensado, aglomerado e MDF até a madeira sólida, empregada na indústria moveleira.

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