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Hudson Carvalho Bianchini
Professor de Fertilidade do Solo ” UNIFENAS
Douglas José Marques
Professor de Olericultura – UNIFENAS
O silício (Si) é o segundo elemento em abundância na crosta terrestre. Nos solos, o silício solúvel ou disponível para as plantas (H4SiO4 – ácido monossilÃcico) pode ter origem nos processos de intemperização dos minerais primários e, particularmente, dos minerais secundários como os argilossilicatos.
Solos tropicais e subtropicais intemperizados, onde são feitos cultivos sucessivos, tendem a apresentar baixos níveis de Si disponível para as plantas, devido à perda por lixiviação. Estes solos, normalmente, apresentam baixo pH, alto teor de alumÃnio, baixa saturação de bases e alta capacidade de fixação de fósforo, além de uma atividade microbiológica reduzida. Solos com estas características podem se beneficiar da adubação com Si.
O silício é absorvido na forma de ácido monossilÃcico (H4SiO4) juntamente com a água (por fluxo de massa) e se acumula principalmente nas áreas de máxima transpiração (tricomas, espinhos, etc.) como ácido silÃcico polimerizado (sÃlica amorfa).
Silicatos
Os silicatos são as principais fontes de Si para os solos e para as plantas, apresentando, também, efeito corretivo da acidez do solo, devido ao aumento do pH e redução nos teores de Al3+ e Mn tóxicos, aumento dos teores de Ca e Mg trocáveis e da saturação de bases (V%), além do benefÃcio adicional de aumentar os teores de Si no solo.
Manejo
Quando o silicato for aplicado em solos arenosos e se os teores de Mg estiverem baixos, recomenda-se aplicar 40 kg ha-1 de Mg, como precaução, prevenindo uma eventual deficiência de magnésio.
Na cana-de-açúcar, o silicato deve ser aplicado a lanço e incorporado antes do plantio. A cultura responde favoravelmente ao silício, principalmente nos solos pobres nesse elemento, pois é uma planta acumuladora de silício, cujos teores podem variar desde 0,14% a 4% na matéria seca
A cultura da cana-de-açúcar possui um enorme potencial de remoção de Si. Uma produção de 100 t ha-1 pode remover 300 kg ha-1 de Si, enquanto que em determinadas situações, onde a produtividade é mais elevada, estas quantidades podem chegar a 500 kg ha-1, uma quantidade maior que a absorção de nitrogênio e de potássio.
Benefícios
Os efeitos benéficos do Si para as plantas estão relacionados, principalmente, ao aumento da resistência ao ataque de insetos-praga, nematoides ou doenças e à redução na taxa de transpiração por meio do controle do mecanismo de abertura e fechamento estomático, o que proporciona maior tolerância à falta de água nos períodos de baixa umidade do solo.
O Si absorvido é depositado na epiderme das plantas, promovendo o endurecimento desse tecido, o que representa uma barreira mecânica para os insetos, dificultando sua penetração na planta. A rigidez e o espessamento da parede celular são provocados pela deposição de sÃlica na epiderme, atuando como fatores de resistência mecânica ao ataque de pragas.
Experimento
Em experimento notou-se que a secção paradérmica de uma folha do milho (abaxial e adaxial), cultura da mesma família da cana-de-açúcar, tratada com silicato de cálcio e silício promoveu aumento significativo de:
-Densidade estomática,
-Espessura da epiderme das faces abaxial e adaxial;
-Espessura do mesofilo;
-Distância entre feixes vasculares;
-Diâmetro equatorial e polar das células buliformes;
-Espessura das fibras e esclerênquimas.
O efeito benéfico da adição de silicato de cálcio pode ser verificado nas folhas de milho, onde se observa aumento da atividade bioquímica. O aumento da fotossíntese líquida pode estar relacionado ao aumento da concentração de silício nas folhas, devido à elevação das trocas gasosas nesta cultura.
Portanto, na cana-de-açúcar, o acúmulo de Si nas folhas provoca a formação de uma dupla camada de sÃlica cuticular, a qual, pelo aumento da espessura, promove redução na taxa de transpiração, diminuindo a abertura dos estômatos e limitando a perda de água das plantas.