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terça-feira, outubro 15, 2024
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Silício no controle de nematoides em sistemas ILPF

Autores

Rodrigo Vieira da Silva
Engenheiro agrônomo e doutor em Fitopatologia e professor do IF Goiano – campus Morrinhos
rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br
Eliseu de Sousa
liseusousask8@gmail.com
Mateus Felipe Gonçalves
felipegoncalves55@gmail.com
Graduandos em Agronomia – IF Goiano – campus Morrinhos
Créditos: Rodrigo Vieira da Silva

O sistema de integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF) representa uma associação produtiva e diversificada de grãos, fibra, carne, leite, lã e culturas florestais cultivadas em uma mesma área, em plantio consorciado, sucessão ou rotação.

Apresenta a principal finalidade de maximizar a utilização dos ciclos biológicos das plantas, animais e seus respectivos resíduos, assim como efeitos residuais de corretivos e nutrientes. Além disso, minimiza e otimiza o emprego de agroquímicos, aumenta a eficiência na utilização de máquinas, equipamentos e mão de obra. Assim, reduz os impactos ambientais da atividade agropecuária.

Uso do silício

A utilização do silício (Si) em sistemas agroflorestais encontra-se em crescente expansão na última década no Brasil. Este nutriente está diretamente relacionado com a melhoria na resistência e/ou tolerância a estresses ambientais, além de pragas, doenças, inclusive as causadas por nematoides.

Prejuízos devido aos nematoides

Os fitonematoides são organismos microscópicos e incolores que vivem misturados no solo, em que os prejuízos causados podem passar despercebidos pelo produtor rural. Este fato ocorre pela falta de conhecimento sobre estes vermes e, principalmente, por ser confundido com deficiência nutricional e ataque de outros agentes causadores de doenças, a exemplo de fungos e bactérias.

Regiões que possuem solos predominantemente arenosos e com temperatura elevada, entre 25 a 30ºC, são mais favoráveis à infecção pelos nematoides, principalmente em condições de cultivo contínuo, sem rotação de culturas e com utilização de irrigação.

Prejuízos

Os prejuízos nos vegetais decorrentes do parasitismos dos fitonematoides ocorrem devido ao fato destes penetrarem nas raízes e obstruírem os feixes vasculares, o que dificulta a absorção e o transporte de água e nutrientes pelo sistema radicular, tendo como consequência a redução de tamanho e peso das plantas.

Além disso, os ferimentos causados durante sua alimentação predispõem as plantas sobre outras infecções causadas por fungos e bactérias, além de serem vetores de viroses, a exemplo do nematoide Xiphinema index, que transmite virose para a videira.

Nematoides mais importantes

Os principais fitonematoides que causam problemas na agricultura nacional pertencem ao gênero Meloidogyne (causador das galhas em raízes), Pratylenchus (conhecido como nematoide-das-lesões radiculares), Ditylenchus (nematoide das hastes e bulbo) e Rotylenchulus.

Destes, os do gênero Meloidogyne são, sem dúvida, o mais importante, pois ataca o maior número de culturas e o que possui maior poder destrutivo, com destaque para as espécies M. incognita e M. javanica, as quais possuem uma distribuição mais ampla no Brasil. Nos últimos anos a espécie M. enterolobii vem causando grandes prejuízos em goiabeira e hortaliças.

Alternativas de controle

O uso de cultivares resistentes constitui-se na medida mais indicada pelos especialistas em nematologia para o manejo de fitonematoides. Entretanto, esta estratégia acaba sendo limitante devido à disponibilidade de poucas cultivares comerciais resistentes, ao se considerar o grande número de espécies agronômicas no Brasil.

Além disso, a presença de várias espécies de nematoides existentes no ambiente dificulta o emprego e, desta forma, de controle. O manejo cultural com rotação de culturas é uma alternativa viável, mas nem sempre essa técnica é vista com interesse por parte do agricultor, especialmente por ter que cultivar sua terra com culturas que não lhe darão retornos imediatos.

Nesse sentido, o estudo de nutrição de plantas com relação ao aumento da resistência e/ou tolerância apresenta grande importância ao manejo de pragas e doenças, com destaque para o silício (Si), que entre os elementos minerais tem estimulado o crescimento e a produção vegetal, além de gerar efeitos positivos no controle de doenças causadas por patógenos de parte aérea e patógenos de solo, inclusive dos nematoides fitoparasitas que atacam diversas culturas.

Benefícios do Si nas plantas

Já foi provado cientificamente que plantas nutridas com Si apresentam níveis mais elevados de Si e de vários nutrientes em seus tecidos, tais como nitrogênio, cálcio, fósforo, potássio, dentre outros.

Como o silício aumenta a produção de fotoassimilados, devido ao incremento na taxa fotossintética, há um aumento na incorporação de minerais que conferem mais resistência à parede celular das plantas, o que torna a planta mais resistente a situações de estresses. E, ainda, a aplicação de silício deixa as folhas mais eretas, diminuindo o sombreamento, além de tornar as plantas mais resistentes a pragas e doenças, inclusive a nematoides.

Uso do silício no controle de nematoides de solo

Os silicatos são as principais fontes de silício e possuem a capacidade de neutralizar a acidez do solo por meio da reação dos ânions (SiO32-) com os prótons de hidrogênio e alumínio (Al3+). Além disso, produzem o ácido monossilícico, que é a principal forma de silício absorvido pelas plantas.

O acúmulo e a deposição desse micronutriente nas células da camada epidérmica via apoplasto, seja na parte aérea ou nas raízes, constituem uma barreira física que impede o avanço e o crescimento dos patógenos pela modificação da parede celular, tornando-a mais resistente à degradação causada pelas enzimas hidrolíticas e à ação de estruturas especiais de infecção dos patógenos, agindo de modo semelhante à lignina ou suberina de algumas plantas.

A barreira física ou mecânica não é o único mecanismo de resistência. Estudos recentes de pesquisa revelam que esse micronutriente age no tecido hospedeiro, afetando os sinais entre o hospedeiro e o patógeno, resultando em uma ativação mais rápida dos mecanismos de defesa da planta. Isso é possível porque o silício, na forma solúvel, pode formar complexos com os compostos fenólicos e elevar a síntese e a mobilidade destes no apoplasto.

Portanto, a resistência das plantas às doenças pode ser incrementada pela alteração das respostas à infecção do parasita, aumentando a síntese de fitoalexinas, que são compostos com propriedades antimicrobianas, e enzimas importantes para sua defesa que podem agir como substâncias tóxicas, inibidoras ou repelentes aos patógenos.

E a fertilização com silício é capaz de induzir o mecanismo de defesa somente em resposta ao ataque do patógeno, evitando perdas na produção e explicando a não especificidade da resistência induzida pelo silício, atingindo vários patógenos não relacionados entre si.

Sistema ILPF X nematoides

Na maioria dos casos a alta infestação do solo pelos nematoides é devido ao manejo inadequado do perfil, de modo que os sistemas integrados e os conservacionistas darão resultados, quando são executados de forma contínua.

Ao se retornar ao sistema convencional, a densidade de nematoides que havia reduzido pode voltar a aumentar novamente. Para o manejo dos nematoides, tratos culturais são imprescindíveis, dentre os quais incluem-se a adubação equilibrada e também a aplicação de técnicas alternativas de controle de pragas e doenças. Atualmente, a adubação com o Si constitui-se numa técnica que auxilia no melhor desenvolvimento das plantas e na redução da infestação de fitonematoides no solo.

O sistema ILPF proporciona um melhor ambiente para os animais e o acúmulo de carbono nas árvores. Este novo modelo de cultivo vai proporcionar ganhos, inclusive, com redução de área para produção agrícola, pois ocorre uma compensação de produtividade em função do retorno financeiro da venda do gado e da madeira.

Portanto, possibilita anular de maneira completa a emissão de gases da cultura agrícola e pela criação de animais, em alguns casos podendo haver saldo positivo em sequestro de carbono. Diante deste cenário, a atividade agropecuária nas regiões tropicais e subtropicais, quando realizada em sistemas integrados de produção, por meio do componente arbóreo, pode contribuir para a mitigação de gases de efeito estufa, constituindo assim em uma aliada no combate às mudanças climáticas global.

Estudo de caso

No Instituto Federal Goiano – campus Morrinhos, o professor Rodrigo Vieira da Silva coordena um projeto que visa conhecer a fauna nematológica em uma área experimental que utiliza o sistema ILPF, além de avaliar a influência deste sistema na dinâmica de nematoides ao longo do tempo e do tipo de cultura utilizada na sucessão.

O projeto ainda se encontra na fase inicial, mas já foi possível perceber que neste sistema ocorre um maior equilíbrio das populações de nematoides das diversas espécies e menor infestação de fitonematoides.

Outro ponto positivo observado foi a presença de diversas espécies de nematoides de vida livre e em altas populações. Este são benéficos para o solo, devido a serem efetivos na decomposição da matéria orgânica do solo e para o equilíbrio populacional da microfauna do solo.

Quando se inicia a sucessão com espécies de gramíneas (família Poaceae), a exemplo do milho e braquiárias, há tendência dos fitonematoides reduzirem as suas populações, com exceção do gênero Pratylenchus.

Manejo do Si no solo

Pesquisas demonstram que as plantas das famílias das Poaceae (arroz, milho, cana, braquiárias, etc.) são mais responsivas à adubação com Si, por serem plantas acumuladoras e terem a capacidade de acumular até 10% de Si em seus tecidos. Plantas de soja e girassol, mesmo não sendo acumuladoras de Si, também têm apresentado resultados positivos com a adição do Si na sua adubação.

A forma mais eficiente de fornecer o silício ao solo é por meio dos silicatos. Existem algumas características ideais para uma boa fonte de silício, entre as quais pode-se citar a alta concentração de Si-solúvel, boas propriedades físicas, facilidade para aplicação mecanizada na área, pronta disponibilidade para as plantas, boa relação e quantidades de cálcio e magnésio, baixa concentração de metais pesados e baixo custo para o produtor rural.

Os silicatos, ao serem aplicados, proporcionam vários benefícios, como efeito corretivo no solo, por meio do aumento do pH, menores teores tóxicos de alumínio, ferro e manganês, disponibilidade de cálcio, fósforo, magnésio e micronutrientes, aumento de Si-solúvel no solo, maior saturação por bases e, consequentemente, baixa saturação de bases por alumínio.

Os métodos de aplicação dos silicatos são via sólida (pó ou granulado) ou líquida (via solo ou via foliar). O emprego dos silicatos em pó se dá via incorporação em área total, enquanto os granulados são aplicados nas linhas de plantio, normalmente acompanhados de outros adubos, como o NPK.

A aplicação de silicato granulado, juntamente com o NPK, proporciona o silício mais próximo ao sistema radicular das plantas, favorecendo, assim, a absorção pelas plantas. As doses de silício a serem aplicadas no solo dependem da fonte utilizada, do teor de Si no solo e da cultura a ser considerada.

Com base na literatura especializada, as doses recomendadas para o material fino (pó), a lanço, variam de 1,5 a 2,0 toneladas por hectare de silicato de cálcio. Em solos que já se encontram corrigidos, a dose não deve ultrapassar 800 kg/ha. Outros estudos com o material granulado têm demonstrado que doses de silicato variando de 500 a 800 kg/ha são suficientes no sulco de plantio, pois a combinação de do silicato com material fertilizante (NPK) é uma ótima alternativa.

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